O Rio Grande do Sul exportou 60% da soja colhida em território gaúcho gerando uma receita de R$ 2,9 bilhões durante o terceiro trimestre deste ano, segundo a nota técnica divulgada na quarta-feira (11) pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE) do Governo Estadual.
O complexo produtivo foi o mais representativo do ecossistema do agronegócio para a economia estadual ao registrar uma alta de 105,1% na comparação com igual período de 2020 devido ao crescimento nas exportações do grão, do farelo e do óleo derivados do cultivo. Nos próximos meses, explica o informativo, a comercialização se dará em concorrência com a soja norte-americana com possibilidade de gerar pressão nos preços do mercado internacional. “No mercado doméstico, os preços seguem firmes, sendo sustentados pelos baixos níveis de estoque no Brasil, pela desvalorização cambial e pela alta dos prêmios nos portos”, explica o boletim assinado pelos pesquisadores Rodrigo Feix e Sérgio Leusin Júnior.
No acumulado, as vendas do agronegócio do Rio Grande do Sul ao estrangeiro atingiram US$ 4,8 bilhões no terceiro trimestre de 2021, representando um crescimento de 59,5% em valor em relação ao mesmo período do ano anterior. Em termos nominais, sem considerar a inflação, o valor exportado no período foi o maior de toda a série histórica, iniciada em 1997, superando a marca anterior, registrada no terceiro trimestre de 2013, conforme mostra o estudo da DEE. Em termos absolutos, o incremento nas vendas de julho a setembro foi de US$ 1,8 bilhão. "Uma parcela significativa do crescimento observado é explicada pelo retorno à média dos níveis de produtividade da safra de 2021, somada à variação nos preços médios do produto em dólar, fruto da dinâmica do mercado internacional", explicou Leusin Júnior.
Principais produtos
Além do complexo soja, os setores de carnes (US$ 645,4 milhões; +25,1%), produtos florestais (US$ 461,9 milhões; +101,1%), couros e peleteria (US$ 115,8 milhões; +52,3%) e máquinas agrícolas (US$ 106,7 milhões; +59,4%) apresentaram desempenho positivo no terceiro
trimestre, enquanto fumo e seus produtos (US$ 249,4 milhões; -29,9%) e cereais, farinhas e preparações (US$ 112,9 milhões; -27,5%) registraram baixas nas vendas.
No setor dos produtos florestais, segunda maior elevação absoluta no acumulado do ano, o desempenho deveu-se à elevação nas exportações de celulose, como mostra o informativo. “O aumento da demanda na China, os estoques menores em diversos países, os problemas logísticos gerados pela pandemia e o receio de desabastecimento geraram uma corrida pela commodity da celulose no mercado internacional”, justificam os pesquisadores. O desempenho do setor de carnes foi impulsionado pelas exportações do frango e suíno criados e processados no Estado. “Depois de um movimento de inflexão ao longo do ano passado, os preços das carnes bovina e de frango subiram em 2021, ajudando a aliviar a pressão que a alta nos custos impôs às margens de rentabilidade do setor. Para o curto prazo, as perspectivas a respeito do desempenho do setor das carnes continuam incertas devido à demora da China em voltar a importar a carne bovina brasileira”, ponderam os analistas.
Entre as baixas, o arroz puxou a queda nos números do setor de cereais, farinhas e preparações (menos US$ 54,7 milhões; -37,3%), e o fumo não manufaturado (menos US$ 86,8 milhões; -28,1%) foi o responsável pelo desempenho negativo da indústria fumageira.
A China segue como principal parceiro comercial do Rio Grande do Sul, responsável por 56,7% de tudo que o agronegócio gaúcho vende para outros países. A nação asiática registrou um crescimento absoluto de US$ 1,3 bilhão (+93,5%) e foi responsável pela maior demanda de soja em grão, fumo não faturado, celulose e carne suína. A sequência do ranking é composta pela União Europeia (10,2%), Estados Unidos (4,1%), Coreia do Sul (2,3%) e Emirados Árabes Unidos (1,7%). Esses cinco destinos são responsáveis por 75% do total das vendas.
Emprego formal
Ao contrário do observado no Estado, que registrou saldo negativo de 3.264 postos de trabalho com carteira assinada no agronegócio no terceiro trimestre de 2021, o segmento agropecuário empregou mais do que demitiu em Passo Fundo, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED).
Ao longo deste ano, o setor admitiu 128 trabalhadores e desligou 73, gerando um saldo de 55 empregos formais em um estoque de 914 vínculos empregatícios. Com isso, a variação relativa entre os desligamentos e as admissões foram a terceira mais alta no município, atrás apenas da construção e serviços.
Os homens de 18 a 24 anos com Ensino Médio completo constituem a principal força de trabalho no setor, segundo os gráficos do CAGED. Do total de vagas, 32 foram preenchidas pelos trabalhadores do sexo masculino, enquanto 23 dos novos contratos foram firmados com mulheres. "O segundo e o terceiro trimestres são marcados pela desmobilização parcial da mão de obra admitida por tempo determinado nos primeiros meses do ano para a safra de verão. Em 2021, refletindo a recuperação da produção agrícola, a contratação de trabalhadores temporários foi maior no primeiro trimestre e isso ajuda a explicar a maior perda de empregos nos últimos meses", analisou Feix sobre o panorama estadual.
Essa sazonalidade, mencionada pelo pesquisador, explica o fechamento dos postos nas regiões gaúchas. Dos três segmentos do agronegócio, as atividades agroindustriais responderam pelo maior número de demissões no Estado, como indica o boletim do Departamento de Economia e Estatística, com 5.773 vagas fechadas ao longo dos últimos três meses. O principal setor responsável pelo resultado foi o de fabricação de produtos do fumo, que fechou 8.306 postos de trabalho entre julho e setembro.
O destaque positivo, menciona a nota técnica, ficou com os setores de fabricação de produtos intermediários de madeira e de fabricação de bebidas alcoólicas). “Enquanto o primeiro setor está estreitamente vinculado à construção civil e à indústria moveleira, o segundo é impactado diretamente pela progressiva reabertura econômica e aumento da circulação de pessoas”, consideraram os analistas do DEE. No setor de abate e fabricação de produtos de carne, que lidera a ocupação formal de trabalhadores no agronegócio gaúcho, a conjuntura doméstica continua marcada pela perda do poder de compra dos consumidores e pela alta nos custos de produção.
Considerando os números até setembro, o setor do agronegócio com a maior criação de empregos em 2021 foi o de fabricação de tratores, máquinas e equipamentos agropecuários. “A disposição e a capacidade de investimento dos agricultores brasileiros em novas tecnologias aqueceram o mercado de máquinas. Além do aumento da eficiência operacional, as inovações trouxeram novas funcionalidades para as máquinas agrícolas, que auxiliam inclusive a gestão da produção”, esclareceu o boletim.