Passo Fundo perdeu hoje o empresário Ottoni de Souza Rosa, proprietário da OR Sementes e engenheiro agrônomo com forte atuação na pesquisa científica com contribuições relevantes prestadas ao desenvolvimento da triticultura brasileira contemporânea.
Além disso, dedicou a vida à agricultura, sendo também um dos homenageados na Calçada da Fama da Expodireto Cotrijal.
Ele está sendo velado na Sala Esmeralda do Memorial Vera Cruz.
A seguir, confira o texto de Gilberto Cunha, colunista de O Nacional, publicada em 15 de agosto de 2014, contanto a trajetória de Ottoni de Souza da Rosa:
Tributo a Ottoni de Sousa Rosa
Por Gilberto Cunha
A Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale, no seu encontro anual, realizado em Canela/RS, de 5 a 7 de agosto de 2014, homenageou Ottoni de Sousa Rosa, pesquisador científico e empresário, pelas contribuições relevantes prestadas ao desenvolvimento da triticultura brasileira contemporânea.
Uma reverência mais que justificada, na visão do todos que têm um mínimo de conhecimento do papel que Ottoni de Sousa Rosa desempenhou (e ainda despenha), numa trajetória que soma mais de 50 anos de trabalho em produção de sementes, administração de pesquisa, gestão empresarial e criação e cultivares, para que a triticultura brasileira atingisse o atual nível de excelência desse começo de século 21.
Ottoni de Sousa Rosa é egresso da turma de engenheiros-agrônomos de 1958, pela Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel/UFPel. Na condição de primeiro aluno da turma, recebeu o diploma das mãos do então presidente da república Juscelino Kubitschek de Oliveira. Logo depois de formado, começou a trabalhar no setor de multiplicação de sementes do Instituto Agronômico do Sul (IAS), em Pelotas, principalmente com trigo. Foi um dos líderes da inciativa que resultou na organização da produção de sementes no Brasil, a partir das comissões estaduais de sementes do Rio Grande do Sul (CEST-RS) e do Paraná (CEST - PR), das quais foi o primeiro coordenador.
Ao assumir o cargo e diretor substituto do Instituto de Pesquisa e Experimentação Agropecuária do Sul (IPEAS), que, na esfera federal, sucedeu o IAS, teve atuação destacada para a transferência do programa de pesquisa de trigo de Pelotas para Passo Fundo, que resultou em ampliação dos trabalhos, aumento da equipe e de recursos. Além de ter influído na transferência da antiga Estação Experimental de Passo Fundo, do distrito de Engenheiro Englert/Sertão, para a Rodovia BR 285, altura do km 294, local onde está localizada a atual sede da Embrapa Trigo.
Pela Universidade Autônoma de Chapingo, México, comprimiu programa de mestrado em melhoramento de plantas, em 1970. Na oportunidade, estreitou o relacionamento com o Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT), especialmente com Norman Borlaug, cujos desdobramentos trariam esse cientista galardoado com o Prêmio Nobel da Paz inúmeras vezes a Passo Fundo, para orientar os rumos da pesquisa de trigo no Brasil.
Entre 1973 e 1974, assumiu a coordenação técnica do Centro de Pesquisa da Federação das Cooperativas de Trigo e Soja do RS (Fecotrigo), em Cruz Alta/RS, organizando um programa de pesquisa em trigo. E, quando da criação da Embrapa, fez parte do grupo de trabalho encarregado da elaboração do anteprojeto de implantação do Centro Nacional de Pesquisa de Trigo (CNPT), formalmente inaugurado, em Passo Fundo, no dia 28 de outubro de 1974, sendo nomeado como o 1º Chefe-Geral dessa unidade de pesquisa.
No comando do Centro Nacional de Pesquisa de Trigo (Embrapa Trigo), Ottoni de Sousa Rosa destacou-se como gestor e liderança científica de escol. Foi ator relevante, como facilitador ou protagonista de elite, para levar a bom termo propostas de pesquisa inovadoras em trigo, cujos desdobramentos estendem-se até nossos dias.
Inclui-se nesse rol, a iniciativa para o controle biológico de pulgões, a implantação da rotação e culturas como base para o controle de doenças radiculares (podridões), o controle químico de doenças, a implantação de sistemas conservacionista de solo (primeiros trabalhos com o sistema plantio direto), a resistência genética às doenças e a correção de defeitos na criação de germoplasma, a busca de novos tipos de planta e novas pratica de experimentação em melhoramento genético vegetal. Foi um líder, na acepção da palavra, que, pelo trabalho exemplar, atraia seguidores. Em reconhecimento, seria agraciado com o Prêmio Frederico Menezes Veiga, em 1977.
Em 1989, Ottoni de Sousa Rosa, encerrou sua carreira no Embrapa e, como empreendedor competente e homem de visão, criou uma das mais bem-sucedidas empresas privadas de melhoramento genético de trigo no Brasil: OR Melhoramento de Sementes Ltda., que tem sede em Paso Fundo, continuando a contribuir para o desenvolvimento da triticultura brasileira, pela criação de cultivares que primam por qualidade tecnológica e rendimento.