O evento “Elas no agro” alusivo ao Dia Internacional da Mulher aconteceu ontem (08) durante o segundo dia da Expodireto Cotrijal 2022 e divulgou os resultados da pesquisa “Perfil das Mulheres Rurais do RS” realizada com mais de 5.000 mulheres rurais de 461 municípios gaúchos. A pesquisa foi desenvolvida pela EMATER/RS-ASCAR em parceria com a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul.
Pesquisa com Mulheres Rurais
Ao todo 5.103 mulheres rurais foram entrevistadas por mais de 500 extensionistas da Emater /RS-ASCAR durante o período de 18 de novembro de 2021 a 24 de janeiro. As cerca de 250 questões sobre a vida da mulher e as pessoas com quem divide as atividades do cotidiano serviram para identificar e caracterizar as mulheres rurais atendidas pelo Estado, assim como seu papel e inserção social no meio. Segundo a secretária da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Estado, Silvana Covatti, esta ação busca fortalecer a criação de políticas públicas voltadas às mulheres. “Queremos conhecer as mulheres e ver maneira que o Estado pode estar ao seu lado visando a criação de políticas públicas que viabilizem o anseio da mulher que está produzindo no nosso estado”, declarou na cerimônia de divulgação da pesquisa.
Donas das propriedades
A pesquisa aponta um perfil das entrevistadas em que 53% delas possuem 50 anos ou mais. Das entrevistadas, 45% possuem como escolaridade predominante o Ensino Fundamental incompleto, enquanto apenas 4% possuem o Ensino Superior completo. Em sua maioria, elas são brancas (88%) e 73% delas são casadas.
Quando se trata da criação de políticas públicas e qual o melhor tipo de cadastro a ser utilizado, a analista e pesquisadora em sociologia Daiane Boelhouwer Menezes chamou a atenção para os dados que se relacionam a DAP (Declaração de Aptidão ao Pronaf), visto que 37% das mulheres entrevistadas são titulares da DAP da propriedade, no entanto, só 12% delas se sentem dirigentes e donas dessas propriedades, mesmo que 88% delas consideram que contribuem com metade ou mais da renda da propriedade. Isso, entretanto, não se traduz necessariamente em sua independência financeira ou em sua independência de modalidade, já que só 36% delas têm habilitação para dirigir.
O papel da mulher no rural
O papel da mulher rural nas atividades domésticas e de cuidado é predominante, girando no preparo de refeições, na limpeza, na manutenção da casa, nas compras de roupas, eletrodomésticos e mercado, além de estarem relacionadas aos cuidados de pessoas idosas e a ajuda nas atividades da escola das crianças. Enquanto isso, o homem se envolve mais com os consertos da casa ou levar eletrodomésticos para o conserto, por exemplo. Metade deles se ocupa mais com as crianças quando em atividades de lazer e de transporte, o que sinaliza como o cuidado de pessoas mais velha acaba sempre ficando sob responsabilidade da mulher, como destacou a pesquisadora Daiane.
Problemas de saúde
Essa carga excessiva de responsabilidades, que também incluem ajuda na gestão de renda da propriedade, reflete na saúde das mulheres rurais, com 59% das entrevistadas com algum problema de saúde e 83% dessas fazendo o uso de medicação. Os problemas de saúde incluem desde hipertensão (28%), depressão (13%) e problemas de coluna (20%) pelo trabalho excessivo.
Violência contra a mulher
No campo da violência contra a mulher, cerca de 95% das entrevistadas conhecem a Lei Maria da Penha, mas 69% delas dizem não haver espaços na comunidade onde possam conversar sobre essa violência, o que se soma a dificuldade em não saber como ajudar mulheres nessa situação. Isso preocupa quando 42% das mulheres rurais declararam conhecer casos de violência contra a mulher na comunidade. Muitas delas, quando questionadas sobre frases de senso comum como “Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”, responderam que preferiram não opinar, talvez por não conseguir ajudar ou por medo, visto que muitas acrescentaram que para falar algo, iam precisar de um local “escondido”.
Outras frases de senso comum como “O homem deve ser a cabeça do lar”, “É da natureza do homem ser violento” e “Mulher que apanha é porque merece”, tiveram respostas que se correlacionaram com a idade, o que demonstrou para as pesquisadoras o aprendizado das novas gerações, a escolaridade mais completa e a renda dessas mulheres. Além da participação em associações, sindicatos, atividades da escola e da Emater, entre outros. Essa inserção das mulheres em entidades representativas também se relacionou com o não relato de depressão entre as entrevistadas.