Enquanto a maioria dos agricultores encerrava a colheita da soja neste último mês, no interior do município de Sertão uma família concluía a colheita de uma área de trigo, sendo essa a primeira colheita do grão no Brasil na safra 2022. Em um período não tão comum para o Rio Grande do Sul, a área de 5 hectares foi semeada com a primeira cultivar de trigo hiperprecoce do país, que pode ser cultivada no vazio outonal, entre a colheita das culturas de verão e semeadura das culturas de inverno. A tecnologia foi desenvolvida pela OR Sementes e nomeada como “ORSSenna”
ORSSenna
A ORSSenna faz referência a Ayrton Senna e a sua rapidez dentro das pistas, que aqui se ressignifica dentro dos campos. Isso porque a cultivar tem um ciclo de aproximadamente 100 dias até que se colha, entre meados de janeiro e maio, o que possibilita o aproveitamento de uma janela de semeadura até então ociosa e desconhecida. “Você planta as culturas de inverno entre junho e julho e retorna a plantar as culturas de verão entre outubro e novembro. Então temos uma pausa de aproximadamente três meses, que muitas vezes não oportunizamos uma cultura rentável”, explicou o gerente comercial da OR Sementes, Maicon Matana.
De acordo com Maicon, a nova cultivar vem para proporcionar ao produtor três safras rentáveis dentro do ano agrícola, aliado a custos de produção reduzidos para que se tenha uma margem de lucratividade. Desenvolvida inicialmente em 2017 para uma janela ociosa após o cultivo do milho safrinha no Paraná e em São Paulo, a ORSSena foi ao mesmo tempo testada em duas safras outonais no Rio Grande do Sul. Tendo em vista que, por exemplo, no Paraná é possível plantar a soja e depois fazer uma safrinha de milho, o gerente comercial da OR explica que no Rio Grande do Sul isso não é possível, o que nos limita a uma safra de verão com o plantio apenas da soja ou do milho. “Por essa oportunidade de semear um trigo em fevereiro e colher em maio ou início de junho, nós fomos testando esse trigo verão/outono”, pontuou.
Rentabilidade
Esse cenário se soma a fatores de mercado como a precificação do trigo, a demanda mundial e até a própria estiagem que atingiu o Estado neste último verão. A falta de água, que ocasionou problemas no desenvolvimento da soja em muitas propriedades, fez com que seu ciclo fosse encurtado e liberasse as áreas muito mais cedo. Em Sertão, a cerca de 40km de Passo Fundo, a área de milho/verão cultivada na propriedade de pai e filho Dirceu e Douglas Dellanora foi totalmente comprometida, o que levou a busca por novas alternativas para gerar renda e recuperar as perdas. Semeando 5ha de ORSSenna, conquistaram um rendimento de 32 sc/ha, o que representou um ganho de 7 sc/ha considerando os custos de produção.
Períodos distintos, rendimentos diferentes
O gerente comercial da OR Sementes explica que não se pode comparar a produtividade alcançada no inverno com a do outono, visto que o período e o investimento são diferentes. “O produtor vai apostar todas as suas fichas no inverno, onde vai investir mais, enquanto no outono o investimento é bem menor. Além de que uma cultivar de ciclo tão curto não vai ter o maior potencial de rendimento”, esclareceu, destacando que ainda assim, os resultados de renda são satisfatórios, levando em conta que seja um material de ciclo muito mais curto. Outras cultivares têm em seu período de emergência para a colheita de 125 a 140 dias, enquanto a Senna fica entre 95 a 100 dias.
Resistência a doenças de verão
Com o auxílio da pesquisa são desenvolvidas cultivares que têm resistência genética às principais doenças do trigo. Nessa perspectiva, já se tentava há anos fazer um trigo para o verão, no entanto, duas doenças que são predominantes nessa época de semeadura se tornavam um empecilho: a incidência de oídio, doença de folha com um fator de multiplicação muito rápido, e o brusone, doença predominante do cerrado brasileiro, que planta o trigo já em fevereiro.
Maicon explica que a ORSSenna é “blindada” contra o oídio, além de se adaptar muito bem ao cerrado. “O Senna é um material recomendado para o cerrado brasileiro. Lá o clima é quente, seco, tem baixa umidade, solo árido e arenoso. Mas ele encaixou tão bem aqui quanto lá”, disse, pontuando estados como Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal e Bahia que fazem esse plantio mais precoce.
Nesse sentido, a cultivar também apresenta resistência à chuva em pré-colheita, o que entrega segurança de colheita ao produtor. “Douglas Dellanora estava em viagem, quando retornou tinha pegado 240 mm de chuva e mesmo assim conseguiu ter um resultado muito satisfatório de colheita”, contou o gerente comercial fazendo referência a família de Sertão, que realizou o plantio da cultivar. Além disso, Maicon acrescenta que a Senna tem características de melhoramento do perfil de solo e trabalha o manejo de plantas daninhas, ponto alto nas entressafras. “Benefícios não só financeiros, mas agronômicos, físicos e químicos pro solo”, destacou.
Sucessão de culturas
Com a retirada da safra outono de trigo e logo em seguida o início da safra de inverno de trigo, a sucessão de culturas proporciona uma incidência superior de manchas foliares que ficam na palha da planta. Com a doença em vista, é necessário cuidado na escolha da cultivar de trigo a ser plantada em seguida, para que a doença seja combatida de maneira eficiente. “A ORSSenna vem para proporcionar o plantio de duas safras de trigo rentáveis aos produtores”, destacou Maicon.