As exportações do agronegócio gaúcho somaram US$ 16 bilhões em 2022, o que representa um aumento de 4,4% em relação ao ano anterior e o maior valor nominal (sem considerar a inflação) desde o início da série histórica, em 1997. As vendas do agronegócio representaram 71,5% do volume exportado pelo Rio Grande do Sul. Em termos absolutos, houve um crescimento de US$ 668,5 milhões. Parte desse valor veio do crescimento de 14,9% registrado no quarto trimestre com a venda de cereais, fumo e carnes.
Efeitos da estiagem
Em um ano marcado pela estiagem, que afetou a produção de soja, principal produto de exportação, o Estado registrou queda no volume total embarcado (-15,5%), fato compensado pelo aumento nos preços médios dos itens (+23,5%). O desempenho recorde de 2022 foi sustentado pelo crescimento no primeiro trimestre (+72,1%), resultado das vendas de trigo e dos estoques de soja da safra 2020/2021 (não afetada pela estiagem), e no quarto trimestre, com US$ 4,4 bilhões em vendas, o maior valor da série para o período de outubro a dezembro, resultado dos embarques de fumo (US$ 760,2 milhões; +107,4%), cereais (US$ 444,5 milhões; +86,5%) e carnes (US$ 721,3 milhões; +29,5%).
Os dados fazem parte do boletim Indicadores do Agronegócio do Rio Grande do Sul, divulgado nesta quinta-feira (9/2) pela Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG). O documento traz números das exportações e do emprego formal no agronegócio no quarto trimestre e no acumulado de 2022. Ele foi elaborado pelos pesquisadores Sérgio Leusin Júnior, Bruna Kasprzak Borges e Rodrigo Feix, do Departamento de Economia e Estatística (DEE) da secretaria.
Queda da soja
Dos cinco principais setores exportadores do agronegócio, o complexo soja foi o único a ter queda no ano, com vendas totais de US$ 5,52 bilhões, redução de 29,3% na comparação com 2021. Os setores de carnes (US$ 2,75 bilhões; +18,0%), cereais (US$ 1,76 bilhão; +149,7%) e produtos florestais (US$ 1,68 bilhão; +14,1%) registraram os maiores valores da série histórica, enquanto fumo e seus produtos (US$ 2,16 bilhões; +77,9%) teve o melhor resultado desde 2013.
"Considerando a forte quebra de produção na safra 2021/2022, o desempenho não deixa de ser surpreendente. Além da alta nos preços médios, contribuiu para o resultado a expansão nas vendas de um amplo conjunto de setores não diretamente vinculados ao complexo soja", destacou Leusin.
Recordes por segmento
Em 2022, os números positivos no setor de carnes são explicados pelo aumento nas vendas de carnes de frango (US$ 1,51 bilhão; +28,5%) e bovina (US$ 443 milhões; +43,7%), a primeira com embarques significativos para os Emirados Árabes Unidos, Filipinas e União Europeia, enquanto a segunda apresentou expansão nas compras pela China. As exportações de carne suína teve queda de 12,5% (menos US$ 89,1 milhões), fruto da recuperação da produção chinesa após o surto de peste suína africana, que afetou o rebanho do país asiático nos últimos anos.
No setor de fumo e seus produtos, apesar da queda de 14,6% na produção colhida no Rio Grande do Sul, o segmento registrou aumento de 39,4% no volume vendido de fumo não manufaturado, principal produto da pauta, e alta de 82,6% no valor vendido (total de US$ 1,99 bilhão).
Em relação aos cereais e derivados, o destaque do ano foi a expansão de 260% nas vendas de trigo (mais US$ 674 milhões). O produto, principal cultura agrícola de inverno do Estado, apresentou alta de 182,9% no volume embarcado e de 27,3% nos preços médios em dólar, consequência do cenário internacional marcado pelo conflito entre Rússia e Ucrânia.
O segmento de produtos florestais teve expansão de 14,3% nas exportações de celulose (mais US$ 143,6 milhões), principal produto do setor. No segmento de máquinas agrícolas, as vendas externas registraram o maior valor desde 2011 (US$ 568,3 milhões; + 40,8%), liderado pela comercialização de tratores agrícolas (US$ 290,74 milhões; +22,7%) e colheitadeiras (US$ 139,3 milhões; +137,0%).
No sentido oposto, a redução nas vendas gerais do complexo soja foi puxada pela soja em grão, com redução de 47,5% no valor (menos US$ 2,95 bilhões) e no volume embarcado (-57,6%). Nos demais produtos do segmento, houve aumento nas vendas do óleo (mais US$ 353,7 milhões; +83,8%) e no farelo (mais US$ 310,1 milhões; +26,5%). O resultado foi amenizado pela alta nos preços médios do complexo como um todo (+24,8%), também impactado pelo conflito entre Rússia e Ucrânia e pela queda na relação estoque/consumo global.
Principais destinos e perspectivas
Com a queda nas vendas de soja, a participação da China no ranking dos principais destinos das exportações gaúchas foi menor em 2022. O país asiático foi responsável por 28,5% das compras do agronegócio, enquanto em 2021 esse percentual chegou a 48,6% do total. Isso representa uma queda de US$ 2,9 bilhões em valor. Ainda assim, os chineses seguem na liderança da lista, seguidos pela União Europeia (15,1% do total; mais US$ 716,2 milhões em compras), Estados Unidos (5%), Índia (3,7%) e Irã (3,5%).
Para Leusin, 2023 trará alguns desafios importantes para o agronegócio gaúcho. O principal deles é a estiagem, que volta a impactar negativamente o rendimento físico das principais culturas de verão, com destaque para o milho, a soja e a bovinocultura leiteira. “Em um cenário de nova estiagem, a terceira em quatro anos, apesar dos preços ainda em patamares elevados, a situação econômica e financeira dos estabelecimentos agropecuários gaúchos tende a se deteriorar, o que gera um efeito multiplicador negativo para as economias regionais mais dependentes do setor primário”, explicou. E completou: “Com menor disponibilidade de matéria prima agropecuária em 2023, a tendência é a queda na geração de empregos diretos e nos volumes exportados”.
Emprego no agronegócio
Em dezembro de 2022, o Rio Grande do Sul tinha 363.364 vínculos ativos de emprego com carteira assinada no agronegócio, com um saldo (diferença entre admissões e demissões) de 12.104 postos no acumulado do ano. O número é menor do que em 2021, que terminou com um aumento de 18.199 empregos no segmento. O saldo no agronegócio em 2022 representou 12% do total de empregos gerados no Estado, que teve, levando em conta todos os setores da economia, um aumento de 100.773 postos formais.