Estiagem diminui a produção de pinhão no RS

Os quatro anos de seca também afetam a qualidade e o sabor

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Mauro Scharnik/IATMauro Scharnik/IAT
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Outono-inverno também é moda à mesa dos gaúchos. Na panela ou na chapa de remanescentes fogões à lenha, com aroma ímpar o pinhão dá um toque especial aos dias frios. Por aqui, temos o pinhão da araucária – o pinheiro que se sobressai na paisagem do sul do país. Porém, a safra 2023 será uma das menores das últimas décadas de acordo com o engenheiro agrônomo Ilvandro Barreto de Melo, que atua na assistência técnica da Emater-RS/Ascar. Ele trabalha na Regional Passo Fundo, área onde o pinhão é basicamente uma tradição extrativista. “Estamos enfrentando quatro anos de estiagem consecutivas. Em quatro anos a árvore sofre um desgaste fisiológico”, explicou.


Da polinização à maturação

De acordo com Ilvandro, o pinhão leva em média dois anos e meio da polinização à maturação. “É uma planta dioica, onde cada indivíduo tem o seu sexo definido”. Por isso ouve-se muito falar em pinhão macho e pinhão fêmea, que produz as pinhas com os saborosos pinhões. “A polinização ocorre em setembro e outubro, mas a do chamado pinhão do tarde pode ir até dezembro. Isso acontece basicamente pela ação do vento e em poucos casos através de insetos.” Depois de um processo de 30 meses estará maduro e pronto para o consumo.


Pinhão importado

“Até o ano passado a colheita iniciava em 15 de abril. Agora, em 2023, está liberada a partir de 1º de abril. Assim, acompanhamos Paraná e Santa Catarina, que são os grandes produtores”. No Rio Grande do Sul são comercializados em torno de 1.000 toneladas de pinhão/ano. “Em 2023 produziremos em torno de apenas 300 toneladas”, avaliou o agrônomo. O Paraná está no topo da produção com 4 mil toneladas ano, seguido de Santa Catarina com 3 mil. Assim, com déficit na produção própria, os gaúchos importarão pinhão de SC e PR para manter seus hábitos alimentares nos dias frios.


Catadores

Já existem plantações com pinheiros desenvolvidos através de pesquisas. “Têm apenas três ou quatro metros de altura, o que facilita o manejo. Mas por aqui ainda são raras essas plantações, pois demora para uma muda estar pronta. Aqui, temos uma fila de 150 produtores esperando por uma muda. Existem dois viveiros de araucária modificada, um é em Sananduva e o outro em Novo Barreiro”. Mas, por enquanto, por aqui persiste o extrativismo que é uma forma de renda-extra para muitos. “São os coletores de pinhão. Catam no chão ou sobem nas árvores para derrubar as pinhas e depois comercializam”.  


Preço e qualidade

O pinhão não escapa da lei da oferta e da procura. Com redução prevista em mais de 60% na produção, chegará um pouco mais caro aos lares sul-rio-grandenses. “Aqui na nossa região o preço do quilo de pinhão oscilará entre R$ 10 e R$ 14”, avalia Barreto. Já nos Campos de Cima da Serra e na região turística de Gramado um quilo poderá ultrapassar a faixa de R$ 20. “A estiagem também reduz a qualidade do produto, pois a deficiência de água diminui o tamanho do pinhão e número de pinhões numa pinha. Isso também afeta o sabor”, conclui. 

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