O excesso de chuva causado pelo El Nino vem trazendo prejuízos não somente para a população das cidades, como no campo. A safra de trigo em Passo Fundo e região foi atingida duramente pela situação.
Segundo a engenheira agrônoma e técnica da Emater de Passo Fundo, Joana Hanauer, a safra foi bastante prejudicada por causa das chuvas. “A qualidade do trigo está bem abaixo do desejado, o normal é PH 78 e as lavouras infelizmente tem apresentado agora com o PH abaixo de 60, algumas até com PH 54. Tem algumas lavouras que estão fora disso e ainda conseguiram um PH 78, mas são lavouras fora da curva. Em setembro acabou chovendo muito no período da floração, a chuva acabou afetando todos os parâmetros de produtividade da lavoura”, comentou.
Conforme Joana, muitos produtores não têm acesso a muitas partes da lavoura, ocorrendo também o atolamento de máquinas e caminhões devido ao excesso de molhamento. “Aconteceu de estourar vertentes nas estradas e dentro das lavouras, então é uma infinidade de dificuldades que acaba afetando a safra de trigo e o plantio da soja também. A gente não conseguiu finalizar bem a colheita para ter certeza do prejuízo, mas com certeza mais de 60% de quebra na safra do trigo”, explicou.
O PH determina o manejo nutricional e também influencia na classificação do trigo. “Além disso tem a questão da qualidade, o PH está relacionado ao índice de qualidade do grão, no momento da moagem do cereal se vai resultar em uma farinha de qualidade ou não, quanto maior o PH, maior é a qualidade da moagem da farinha final. Nesses casos que temos o PH abaixo do ideal como está acontecendo agora, a gente não consegue usar a farinha para o pão, acaba indo para consumo animal”, explicou.
Quebra na safra pode resultar no pão mais caro
Caso o Rio Grande do Sul e o Brail tivessem que exportar trigo pela quebra na safra, o resultado é que o pão pode ficar mais caro para o consumidor final. “Se a gente tiver que importar trigo de outros lugares, poderá afetar sim no valor do pão e dos produtos para o consumidor final. Está bem complicada a situação. A gente tinha em Passo Fundo cerca de 10 mil hectares de trigo plantado e uma quebra de mais de 60% para uma safra de inverno é um problema grande”, pontuou Joana.
Dificuldade na colheita
A agricultora e engenheira agrônoma, Thais Grando Lago Biff, moradora da cidade de Ernestina na Comunidade de Encruzilhada Müller, tinha 50 hectares de trigo plantado e lamenta que uma boa parte da safra foi perdida devido ao tempo. “Tivemos bastante quebra, em vários pedaços não conseguimos colher, nós atolamos a semeadeira, abriu vertentes. A gente fez o tratamento certinho, mas choveu na floração. Ano passado foi muito bom, deu safra cheia, eu nunca vi uma coisa assim, nem meu pai que mora aqui desde 1950. Estava vindo bem o trigo na verdade, até que começou a chuvarada, inclusive sou engenheira agrônoma, usamos os melhores produtos, tudo o que tinha para tentar salvar o trigo, mas mesmo assim não adiantou, o que a gente colheu foi todos abaixo do PH 70”, lamenta.
Produção de hortaliças também enfrenta dificuldades
De acordo com o presidente da Feira do Produtor de Passo Fundo, Mércio Tarcizo Michel, o excesso de chuvas e falta de sol, também prejudica as hortaliças. “O que está em estufa, 50% da produção está perdendo, não só por causa da chuva, mas por causa do clima que fica nublado, não dá sol, as culturas como tomate, pimentão, pepininho, vagem a produção caiu e está praticamente pela metade, isso dentro da estufa. Fora da estufa, em campo aberto e área protegida por plástico, a perda é quase que total, ficou alguns produtos um pouco mais resistentes, como abobrinha”, comentou.
Segundo Mércio, na quarta-feira inclusive algumas bancas da feira não têm aberto, porque os produtores esperam juntar mais quantidade de hortaliças para comercializar no sábado na feira. “Muitos produtores não estão indo por falta de produto, deixando acumular um pouco mais para ter volume. Além disso, a qualidade caiu também principalmente das folhosas, almeirão e alface. Os preços ainda não tiveram alterações nos produtos produzidos aqui, talvez tenha nos que vem de fora”, pontua.
Estradas do interior danificadas por causa do tempo
Segundo o presidente da Feira, outra dificuldade enfrentada é a situação das estradas, que devido a chuva estão em condições precárias. “Estrada do chão sempre foi um problema, mas igual a essa não, nunca se viu na história das estradas do interior, que estou tanto nas estradas como agora. Tem trajetos que emendou olhos de água, que pode ficar dias sem chuva que não para de verter, isso amoleceu toda a estrada. A prefeitura está fazendo o que pode, mas em todos os distritos do interior, todos estouraram”, comentou.
Segundo o secretário de Agricultura e Desenvolvimento Rural, Cristiam Thans, a prefeitura vem atuando para amenizar os impactos causados pelas chuvas. “Estamos em todos os distritos com problema sério de trafegabilidade, vários pontos críticos, a secretaria vem tentando atender para melhorar a situação desses locais principalmente onde passa o transporte escolar, de leite, de frangos. Mas não está sendo possível manter as estradas de forma permanente, acaba tendo retrabalho para tentar solucionar, foi feito reunião com grupo de agricultores, sindicato, vereadores, foi apresentando o que a secretaria vem fazendo. Estamos fazendo a contratação por licitação de mais horas máquinas, contratando empresas e equipamentos para nos auxiliar nessa demanda, pois só os nossos equipamentos hoje não são suficientes para atender toda essa demanda, então vamos contratar mais horas máquinas para atender, montando equipes para fazer frentes de trabalho”, explicou.
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