Após as enchentes, condições de solo são novo desafio aos agricultores

Na região de Passo Fundo, conforme a Emater/RS-Ascar, as precipitações causaram impactos significativos nas áreas cultiváveis. Técnicos têm orientado produtores rurais sobre as medidas de recuperação

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Imagens de estufa em São Roque, no interior de Passo Fundo - acompanhada pela Emater/RS-Ascar - demonstra situação no dia 15 de abril; durante a inundação, em 1º de maio; e após.Imagens de estufa em São Roque, no interior de Passo Fundo - acompanhada pela Emater/RS-Ascar - demonstra situação no dia 15 de abril; durante a inundação, em 1º de maio; e após.
Imagens de estufa em São Roque, no interior de Passo Fundo - acompanhada pela Emater/RS-Ascar - demonstra situação no dia 15 de abril; durante a inundação, em 1º de maio; e após.
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Os danos das enchentes ainda são contabilizados pelos órgãos competentes, mas, à medida que os levantamentos vão sendo finalizados, muitas das previsões iniciais desastrosas se confirmam, apontando para um cenário arrasador em muitas localidades do Rio Grande do Sul. “O cenário de guerra”, como caracterizaram governantes desde o início, ficou realmente explícito com o baixar das águas. Nas áreas rurais, com um dos dados mais recentes divulgados (em 03/06), mais de 206 mil propriedades foram afetadas, com perdas na produção e na infraestrutura, conforme as secretarias da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) e de Desenvolvimento Rural (SDR). Na região Norte, apesar das cidades registrarem menos estragos, a Emater constatou que as chuvas intensas que ocorreram em Passo Fundo entre 20 de abril e 15 de maio de 2024 causaram impactos significativos para o setor agrícola. Além daqueles que precisarão recuperar eventuais danos às estruturas, o desafio geral aos agricultores gaúchos em todas as regiões produtoras é a condição do solo para a safra de inverno.

Durante esse período, conforme a estação meteorológica da Embrapa Trigo de Passo Fundo, foram registrados 376,7mm de precipitação no município, embora que em outras localidades da região ocorreram registros acima de 500mm, como em Marau. O gerente regional da Emater/RS-Ascar Passo Fundo, Dartanhã Luiz Vecchi, avalia que, nos 42 municípios que fazem parte da área de atuação do Escritório Regional da Emater/RS-Ascar, as precipitações resultaram em solos saturados, dificultando a absorção adicional de água, ocorrendo escorrimento superficial da camada arável, bem como erosão do solo. “Este cenário cria desafios para a agricultura, pois solos excessivamente úmidos podem prejudicar o bom desenvolvimento das culturas”, atenta.

O solo saturado e encharcado dificulta o manejo das lavouras. Com isso, os técnicos da Emater têm orientado os agricultores a adotarem práticas para mitigar os impactos e garantir a saúde das culturas. Dentre elas, cita Dartanhã, consta a recomendação para aguardar a secagem natural do solo, antes de realizar qualquer atividade de plantio ou manejo mecânico. “Trabalhar em solos encharcados pode causar compactação e danos estruturais nas lavouras”, alerta.

Dartanhã Luiz Vecchi, gerente regional da Emater/RS-Ascar Passo Fundo- Foto divulgação/ Emater/RS-Ascar

Deve-se, ainda, realizar um monitoramento constante das culturas implantadas para identificar sinais de doenças que podem proliferar em ambientes úmidos, como fungos e bacterioses. “A realização de Tratamentos Fitossanitários pode ser necessário devido ao excesso de umidade e condições sanitárias das plantas, seguindo sempre as recomendações agronômicas”. Ajustar o calendário de plantio conforme a previsão do tempo e as condições do solo, respeitando as datas de plantio para cada cultura previstas no Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), é outra indicação para evitar perdas significativas de produtividade; além de promover a adubação e nutrição das Plantas. “A lixiviação causada pelas chuvas pode ter esgotado o solo de elementos essenciais. A análise de solo é recomendada para ajustar a adubação conforme necessário”, complementa o gerente regional da Emater/RS-Ascar.


Culturas de inverno

Nos meses de abril e maio, a região de Passo Fundo é marcada predominantemente pela produção de culturas de inverno, que começam a ser plantadas considerando a portaria de Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC). No caso do trigo, uma das culturas de inverno mais importantes na região, o plantio geralmente começa a partir de 10 de junho, dependendo das condições climáticas e do solo.

Além do trigo, detalha Dartanhã Luiz Vecchi, a região também pode contar com a produção de centeio, triticale, cevada aveia preta, aveia branca, azevéns, dentre outras, principalmente com a finalidade de alimentação animal, com o seu plantio ocorrendo nos meses de abril e maio. “Essas produções são fundamentais para o sistema de rotação de culturas adotado na região, ajudando a manter a saúde do solo e a produtividade das áreas agrícolas”, considera. “As ações de Assistência Técnica e Extensão Rural, realizadas pela Emater/RS-Ascar, priorizam as práticas conservacionistas relacionadas aos cuidados com o solo, a partir da utilização de plantas para cobertura, manejo adequado dos solos, como práticas de terraceamento, e utilização de plantas com sistemas de raízes que melhorem as condições de infiltração da água no solo. Essas são algumas das orientações repassadas pelos extensionistas da instituição, sempre preocupados em ter uma boa condição de solo, visando à sustentabilidade ambiental, econômica e social”, finaliza.


Dados estaduais

Relatório estadual de perdas referente à maior calamidade climática que atingiu o Rio Grande do Sul, que abrange o período entre 30 de abril e 24 de maio, foi elaborado pela Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS-Ascar). Os números são oriundos do sistema Sisperdas – abastecido com informações de todos os escritórios regionais e municipais da Emater.

Durante o período de chuvas intensas, 9.158 localidades foram atingidas no RS. Atualmente, dos 497 municípios gaúchos, 78 estão em estado de calamidade pública (a maior parte no Vale do Taquari e na Região Metropolitana de Porto Alegre), enquanto 340 estão em situação de emergência.

Em relação à produção de grãos, as perdas se referem às áreas que não puderam ser colhidas, ou às que foram colhidas e tiveram baixo rendimento, incluindo soja, milho e feijão, entre outros. As perdas nas culturas de inverno foram pontuais e correspondem a áreas recém-semeadas, que deverão ser replantadas. Foram prejudicados 48.674 produtores de grãos, grande parte de milho e soja.

Considerando o volume, a maior perda ocorreu na produção da soja. Foram 2,71 milhões de toneladas perdidas. A estimativa divulgada em março deste ano pela Emater/RS-Ascar era que fossem colhidas 22,24 milhões de toneladas, em uma área plantada de 6,68 milhões de hectares, com produtividade de 3.329 quilogramas por hectare. Descontando a área afetada pelas chuvas e as perdas, a nova estimativa de produção é de 19.532.479 toneladas, com produtividade média de 2.923 quilogramas por hectare.

No meio rural, 19.190 famílias tiveram perdas relativas às estruturas das propriedades, como casas, galpões, armazéns, silos, estufas e aviários.

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