Preocupação no campo: Falta de chuva afeta diversas culturas na região

Produtores de leite, frutas e hortaliças já temem prejuízos financeiros e esperam que a chuva venha com maior intensidade nos próximos dias

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A estiagem prolongada que atinge a região já começa a causar impactos significativos em diversas cadeias produtivas do setor agropecuário. Até o momento, a maior preocupação era com a cultura da soja, mas agora os baixos índices pluviométricos também afetam a bacia leiteira, a fruticultura e a produção de hortaliças, comprometendo o planejamento dos produtores e gerando incertezas para os próximos meses.

De acordo com Oriberto Adami, supervisor regional da Emater, a falta de chuvas impacta diretamente a capacidade de implantar pastagens para o outono e inverno, fundamentais para a alimentação do rebanho leiteiro. "Se não tem umidade, o plantio das pastagens atrasa, impactando na produção de leite e obrigando os produtores a antecipar o uso de silagem que deveria ser reservada para o inverno", explica. A situação também afeta a fruticultura, especialmente a produção de laranja na região do Vale do Uruguai, comprometendo a qualidade dos frutos. O mesmo ocorre com a produção de hortaliças, como o brócolis na região de Lagoa Vermelha, onde os baixos níveis dos reservatórios prejudicam a irrigação.

 

Colheita da soja avança, mas preocupa

A colheita da soja avançou significativamente na região, atingindo cerca de 25% da área total cultivada, que é de aproximadamente 650 mil hectares em 42 municípios. No entanto, a média de produtividade tem sido inferior à esperada, variando de 30 a 60 sacas por hectare, dependendo das condições climáticas locais. "A estimativa inicial era de uma média de 63 a 64 sacas por hectare, mas as perdas na região já estão entre 25% e 30%", informa Adami.

Municípios como Cruz Alta, Ciríaco, Muliterno e Caseiros tiveram um desempenho melhor devido a chuvas mais regulares, com produtividades chegando a 55 ou 60 sacas por hectare. No entanto, outras regiões registram índices bem menores, entre 30 e 50 sacas, em função da escassez hídrica. "O problema maior é que se esperava uma chuva nos últimos dias para reduzir os impactos, mas isso não aconteceu. A soja plantada mais tardiamente sofre ainda mais com o déficit hídrico, e, se a seca persistir, as perdas podem ser ampliadas", alerta Adami.

A previsão é que a colheita da soja se intensifique nos primeiros 15 dias de abril, encerrando-se até 20 de abril. Entretanto, as condições climáticas adversas já estão acelerando o ciclo da cultura, especialmente em solos mais rasos, onde a planta está secando prematuramente. "Temos uma região com solos mais profundos, mas em áreas com solo mais raso, a cultura adianta o ciclo por falta de umidade, o que agrava as perdas", explica Adami.

 

Chuvas insuficientes agravam o cenário

A última precipitação registrada na segunda-feira (24), foi insuficiente para amenizar o déficit hídrico. "Seriam necessários pelo menos 35 a 40 milímetros de chuva bem distribuída para reverter o quadro, mas o que tivemos foi de baixa intensidade e irregular", comenta Adami. A preocupação é que, se a estiagem persistir nos próximos dias, os prejuízos podem se agravar ainda mais. "Se não chover dentro de uma semana, a perda na produtividade da soja pode aumentar, porque a cultura já está em fase final de enchimento de grãos e, sem umidade, há risco de má formação ou até mesmo de não formação dos grãos", explica.

A preocupação também se estende para o abastecimento de água, tanto no meio rural quanto nas áreas urbanas, já que reservatórios estão com níveis baixos. "A falta de chuva afeta todas as cadeias produtivas e pode gerar impactos no abastecimento de água nas cidades, o que reforça a necessidade de uma precipitação mais significativa nos próximos dias", conclui Adami.

 

Entidades representativas demonstram preocupação

 

O Sindicato Unificado dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Alto Uruguai (SUTRAF-AU) manifestou, por meio de uma nota, grande preocupação com os impactos da estiagem na região. Segundo a entidade, a falta de chuvas já compromete a produção de culturas como milho, soja, feijão e citros, além da pecuária leiteira, com redução na produção e estresse dos animais. A escassez de água afeta tanto os rebanhos quanto o abastecimento das famílias rurais.

Diante do agravamento da situação, o Sindicato tem pressionado os governos municipal, estadual e federal por medidas emergenciais, como crédito especial, renegociação de dívidas e ampliação do fornecimento de água. "Precisamos de respostas concretas para evitar que os agricultores continuem sendo os mais prejudicados", destacou o coordenador da entidade, Alcemir Bagnara.

Até o momento, 25 municípios da região já decretaram situação de emergência, e outros devem seguir o mesmo caminho nos próximos dias. O calor intenso tem piorado o cenário, e as previsões de chuva para os próximos dias são mínimas. Nesta semana, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Rio Grande do Sul (FETRAF/RS) tem reuniões em Brasília para cobrar ações do governo federal e a revisão das recentes mudanças no Proagro.


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