O sonho de estudar medicina, sem enfrentar o vestibular e com mensalidades acessíveis, é realidade para cerca 6 mil universitários brasileiros que vivem na Bolívia. Mas a concretização do sonho custa queixas de preconceito, exigências de exames anti-HIV e cobranças excessivas de taxas e burocracia. Para os estudantes, há discriminação contra eles por parte das autoridades e da população bolivianas.
As reclamações dos estudantes foram relatadas pelos jovens à Embaixada do Brasil em La Paz (capital administrativa do país) e a um grupo de deputados federais. No fim de 2008, quatro parlamentares – Marcondes Gadelha (PSB-SE), Cláudio Cajado (DEM-BA), Décio Lima (PT-SC) e Raul Jungmann (PPS-PE) – estiveram na Bolívia para verificar as relações entre o país vizinho e o Brasil, além da situação dos brasileiros.
De acordo com as autoridades, as reclamações foram transmitidas ao governo boliviano que prometeu tomar providências. A queixa considerada mais grave era a exigência de que as estudantes – apenas as mulheres – fizessem a cada seis meses exames para verificar se tinham o vírus da aids. A exigência era feita pelas autoridades sanitárias como meio preventivo e obrigatório para a renovação do visto.
Representantes do governo boliviano afirmaram que a presença dos jovens brasileiros afetou significativamente a cultura das cidades onde se fixam – principalmente Cochabamba e Santa Cruz de La Sierra (capital constitucional do país). Para os bolivianos, os brasileiros promovem mais festas do que o habitual e têm um comportamento boêmio.
Também existiriam queixas dos moradores das duas cidades sobre as alterações econômicas estimuladas pela presença dos brasileiros. Isso ocorreria porque o poder aquisitivo dos jovens que chegam à Bolívia, em geral, é mais elevado do que o do boliviano médio. Para analistas sociais, as restrições aos brasileiros não podem ser vistas como xenofobia, mas apenas resistências ao novo e diferente.
O resultado da animosidade, segundo os estudantes, ocorre por meio da cobrança excessiva de taxas e documentos por parte dos bolivianos. De acordo com os universitários, há situações em que o valor de um determinado serviço é cobrado em dobro porque o cliente é brasileiro. Todos esses detalhes foram transmitidos às autoridades brasileiras que os repassaram ao governo da Bolívia.
Os primeiros estudantes brasileiros desembarcaram na Bolívia na década de 80. Eles foram atraídos pela oferta de cursos de medicina a um custo baixo e sem a exigência de vestibular. Para ingressar, basta haver vaga e que o aluno prove ter condições de pagar o curso. Na Bolívia, as universidades privadas são avaliadas como de nível superior às públicas.
O curso de medicina na Bolívia dura de seis a sete anos. O ingresso ocorre em janeiro e julho. Em geral, os preços das mensalidades variam de US$ 95 a US$ 250. São nove as universidades mais procuradas por brasileiros: Católica, Udabol, Ucebol, Unifranz e Uno, em Santa Cruz de La Sierra. Em La Paz, a mais procurada é a NSLP e em Cochabamba são a UPAL, Unitec e Univalle.
Para exercer a medicina no Brasil, o estudante que concluir o curso na Bolívia deve submeter seu diploma à revalidação em território brasileiro – ou regularização. As exigências vão desde o detalhamento da grade curricular até a apresentação de documentos pessoais e verificações de conhecimento específico.
Agência Brasil