O Rio em Guerra

Desde domingo, o Rio de Janeiro vive a pior crise na segurança pública. ?? a reação dos traficantes à implantação das Unidades de Polícia Pacificadora

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O Rio de Janeiro enfrenta a maior e pior crise na segurança pública de sua história. Traficantes reagem às ocupações das favelas pelas Unidades de Polícia Pacificadora. Desde domingo, uma onda de atentados aterroriza a população. Ontem, com a chegada dos blindados da Marinha transportando policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) na Vila Cruzeiro, dezenas de bandidos fugiram pela mata para outras favelas do Complexo do Alemão. As tropas do Bope, com apoio de homens de delegacias especializadas da Polícia Civil, ocupam toda a extensão da comunidade e estão vasculhando a parte alta da Vila Cruzeiro, junto à mata.

Para dificultar a ação da polícia, os bandidos que fugiram para o Complexo do Alemão atearam fogo em pneus colocados sobre as lajes das casas para impedir que os criminosos pudessem ser localizados pelos atiradores de elite que estão nos helicópteros.

Moradores assustados abandonaram suas casas. A prefeitura do Rio informa que o Centro Municipal e Cultural da Penha vai abrigar as famílias. A ocupação da Vila Cruzeiro, na Penha, zona norte do Rio, pela Polícia Militar, com o reforço de tanques da Marinha, foi comemorada pelos moradores. Apesar do clima tenso e do cenário de guerra que assustou a comunidade, muitas pessoas aplaudiram a chegada da força policial a bordo de blindados cedidos pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil.

Balanço

O primeiro balanço oficial da Polícia Militar mostra um saldo de 55 veículos incendiados desde domingo (21), a prisão de 121 pessoas e a apreensão de granadas, fuzis, escopetas e muita munição. Os números, no entanto, não param de subir. Ontem pelo menos três ônibus foram queimados. Os passageiros e o motorista conseguiram sair, e ninguém ficou ferido. Sete homens ainda não identificados morreram em confronto com a polícia na favela do Jacarezinho, na zona norte. Duas pessoas foram presas e armas e explosivos apreendidos.

Autoridades e especialistas falam sobre a onda de violência vivida pelo Rio de Janeiro.

"Eu entendo que essa onda de violência dos criminosos no Rio de Janeiro é reação daquilo que a polícia está fazendo em relação ao tráfico. Os poderosos traficantes estão determinando essas ações para afrontar o trabalho do governo e da polícia, porque eles estão perdendo terreno nos morro em que eles vendem a droga. Eles não conseguem mais entrar e essa é uma forma de reagir e mostrar a força dos criminosos naquele local. A ação da polícia deve ser forte e essa é a única maneira de eles subirem o morro. A utilização de máquinas e equipamentos só foram utilizados nessa ação. Não há no momento, nenhum outro lugar que utilize essas unidades." Comandante do 3º RPMon, tenente-coronel João Darci Gonçalves da Rosa

"Os fatos são gravíssimos e indicam o poder do crime organizado no Rio. A situação exige que o Estado tome medidas fortes para manter o Estado Democrático de Direito, para que a ordem seja mantida e a sociedade tenha liberdade. E aqueles que estão infringindo a lei que sofram as punições. Não basta a polícia agir firmemente, é também uma questão de repensar as leis penais. Não podemos concordar, por exemplo, com o Novo Código de Reforma do Processo Penal que tramita no Congresso que abranda as penas e dificulta a prisão preventiva. O Judiciário precisa pensar em uma estrutura para julgar rapidamente as decisões, porque, enquanto é aguardada uma decisão, os criminosos estão soltos nas ruas. O Executivo em todos os níveis precisa investir mais recursos na segurança, tanto nas polícias quanto nos presídios. É terrível o que está acontecendo no Rio, mas serve para que se pense o sistema repressivo criminal em todas as esferas. Felizmente no Rio Grande do Sul não estamos nem perto dessa situação. Não há locais de domínio de criminosos em que a polícia não possa entrar. Estamos longe desse quadro, mas se um dia houver, com certeza, a nossa polícia agirá imediatamente." Delegado da Defrec, Adroaldo Schenkel

"É importante salientar que a situação do crime no Rio é muito específica. No RJ foram implantadas 12 Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs. A décima terceira unidade, do Morro dos Macacos, será implantada nos próximos dias. Um levantamento feito pela polícia aponta que mais de 230 comunidades ainda são controladas pelo tráfico ou milícias. As UPPs têm obtido êxitos porque realizam essa dinâmica. Quem tomar esse exemplo como suficiente, entretanto, poderá se frustrar. A cidade possui 1.500 favelas. Há UPPs em 12 delas. Se o governo conseguir instalar uma nova UPP por mês, em cem anos a cidade ainda não estará coberta. Será preciso, então, reduzir rapidamente as áreas de exclusão social e promover cidadania. Mas o problema maior nem é esse. O problema é que nada nos garante que os policiais recrutados para as UPPs não estarão em breve associados ao crime. Para evitar esse resultado será preciso - além de salários dignos e exigências maiores de recrutamento e formação - a reforma do modelo de polícia, introduzindo o ciclo completo de policiamento e a divisão de responsabilidades entre as policias por tipos criminais." Cientista político, doutor em História e professor na Imed, Mauro Gaglietti

O secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, anunciou na noite de ontem que 300 agentes da Polícia Federal darão apoio às ações de combate a criminosos na Região Metropolitana do Rio a partir de hoje.

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