Quando se fala em mercado de trabalho, as diferenças de gênero apresentam-se, ainda, muito evidentes.
Na tarde da última quarta-feira (11), especialistas reunidos no Segundo Seminário de Oficiais e Peritos em Assuntos Populacionais do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) discutiram sobre as diferenças de gênero no mercado de trabalho, a igualdade de gênero e o papel das mulheres no cuidado de crianças pequenas e idosos dependentes.
As brasileiras aumentaram sua presença, formalização e rendimento no mercado de trabalho. De acordo com Tatau Godinho, da Secretaria de Políticas do Trabalho e Autonomia Econômica das Mulheres, o aumento da participação feminina foi de 4,5% entre 2000 e 2010.
“Mas elas continuam atrás dos homens, e a alocação é predominante nas áreas de serviço doméstico, costura informal para indústrias e serviços pessoais e de beleza. Na área de construção e manutenção de veículos e transportes, as mulheres não chegam a 1%”, ressaltou Godinho.
Crescimento da renda
Segundo Tatau Godinho, a valorização do salário mínimo e o aumento da proteção social contribuíram para os avanços. Para ela, o novo desafio é oferecer garantias sociais para que as mulheres possam conciliar o trabalho profissional e o cuidado com a família.
“Muitas trabalhadoras são mães e precisam deixar os filhos para sustentar a casa. O governo tem investido muito nisso. Em 2002, tínhamos pouco mais de 10% das crianças de 0 a 3 anos nas creches. Em 2012, esse número passou para 21%. A situação melhorou, mas os esforços precisam continuar”, disse.
Realidade nos outros países
Na Rússia, o maior problema está na disparidade dos valores de remuneração salarial entre homens e mulheres. Mesmo com uma população predominantemente feminina, elas ainda são discriminadas e encontram dificuldades para assumir cargos mais elevados, e o trabalho doméstico não está incluído no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB).
“Em 2014, lançamos um programa para diminuir em 25% a desigualdade até 2025. No entanto, não significa apenas aumentar a remuneração salarial, é importante compreender os motivos da desigualdade e pensar em reformas na área de saúde e educação”, afirmou Elena Aleksandrovna Zotova, representante da Presidência da Federação Russa e especialista em relações sociais e trabalhistas.
Após o fim do Apartheid, com uma rigorosa legislação separatista implantada durante anos na África do Sul, a estrutura do mercado de trabalho do país passou por grandes alterações.
A população negra ganhou o direito de trabalhar, mas deparou-se com a falta de assistência básica, como saúde e educação. Segundo Wessel Jan Van Den Berg, assessor do Ministério de Desenvolvimento Social sul-africano, o desemprego tornou-se um dos maiores desafios do país, e o trabalho informal é predominante.
“Portanto, a situação das mulheres ainda é mais preocupante que em outros países. Além das questões culturais, elas não têm acesso aos mesmos direitos que os homens. Quando estão no mercado de trabalho, atuam na área têxtil com salários desiguais, e a maioria não possui escolaridade”, disseo assessor.
No entanto, Van Den Berg afirma que o país melhorou no acesso à educação e saúde, mas raça, gênero e idade continuam a ser determinantes no mercado de trabalho sul-africano.
Na Índia, fatores religiosos e culturais influenciam diretamente a desigualdade de gênero no mercado de trabalho. Existe pouca mão de obra feminina, e as mulheres ainda são tradicionalmente responsáveis pelas tarefas do lar. Segundo o doutor S. K. Sikdar, comissário adjunto da divisão de planejamento familiar do Ministério da Saúde e Bem-Estar Familiar, a Índia registrou a desistência de 21 milhões de mulheres no mercado de trabalho, nos últimos anos.
“A pressão das famílias é muito grande. Muitas mulheres param de trabalhar quando casam ou quando engravidam”. No entanto, a inclusão em cargos políticos é expressiva, pois no país há a garantia de que no mínimo um terço da representação política seja de mulheres, em todos os níveis governamentais.
O cenário é mais positivo na China: 74% das mulheres em idade ativa estão incluídas na força de trabalho, um percentual comparável ao registrado nos Estados Unidos e na Austrália.
No entanto, de acordo com Song Yueping, professora da Universidade de Renmin, quase metade delas ainda vivem no meio rural. Na área urbana, as o número de mulheres passou por um declínio na década de 1990 e, desde então, ela não conseguem assumir altos cargos tanto na iniciativa privada ou no serviço público.
O maior impasse está na responsabilidade que as mulheres carregam com a família, já que estão mais propícias à utilização de licenças de saúde e maternidade.
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