Antônio Cardoso do Amaral leciona na Escola Estadual Augustinho Brandão, em Cocal dos Alves, no norte do Piauí. Ele será um dos dez professores homenageados por terem marcado os dez anos da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep). O reconhecimento será na segunda-feira (20), durante a entrega da premiação, às 15h, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, no centro da cidade. “Eu sou cria dessa competição. Através dela eu me senti despertado para o ensino da matemática e bastante incentivado para enfrentar os desafios que foram surgindo, e hoje a gente consegue comemorar vários resultados positivos", disse o professor à Agência Brasil.
Cocal dos Alves está entre as cinquenta cidades que registraram os mais baixos níveis do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). De acordo com o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013, divulgado naquele ano, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), entre os 5.565 municípios do país, a cidade ficou em 5535º lugar. O índice varia de 0 a 1 e a cidade registrou 0,498, quanto mais perto de 1 maior é o IDHM. Ele é calculado levando em consideração três dimensões do desenvolvimento humano: a longevidade, a educação e a renda.
Mesmo com um nível tão baixo de IDHM, Cocal dos Alves tem o que comemorar. Desde 2005, quando começou a ser feita a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas, alunos do município participam da competição e conquistam medalhas. Na 10ª edição da Olimpíada (Obamep 2014), a Escola Augustinho Brandão está entre as que conquistaram o maior número de prêmios no país. Os alunos Sávio Vinícius Costa do Amaral, José Márcio Machado de Brito e Jean Carlos Sousa de Brito receberam medalha de ouro.
Na avaliação do professor Antônio, a sensação dele é a de que a tarefa não foi cumprida integralmente, mas o caminho está certo em oferecer educação para os jovens de Cocal dos Alves. “Isso nos mostra que temos que buscar a manutenção. A meta é melhorar e fazer com que uma escola pública, de um lugar humilde, faça acontecer uma educação de qualidade”.
Antônio destacou também que participar da Olimpíada da Matemática não significa apenas competir, mas representa uma mudança de vida dos alunos que recebem incentivos para estudar a matéria de forma mais interessante e acabam seguindo até a universidade.
Foi o que ocorreu com Jáderson Pará Rodrigues. Quando participou da 1ª edição da Obmep, em 2005, e ganhou medalha de ouro, ele estudava no Colégio Militar. A identificação com a matemática o levou a cursar a Universidade do Estado do Amazonas. Hoje é professor da matéria em Manaus. Jáderson prepara alunos para a competição e transmite o sentimento que a matemática representa para ele.
“A matemática, para mim, é a minha vida porque eu gosto muito. Matemática é simplesmente a arte de resolver problemas”, disse. Jáderson quer ir adiante, e tem o sonho de poder fazer doutorado no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada. “Ainda quero estudar lá um dia”.
Gerson Tavares Câmara de Souza participou das quatro primeiras edições da Obmep, ganhou medalha de ouro e disse que a Olimpíada foi um “divisor de águas” na sua vida, porque descobriu que tinha uma habilidade e que existia um universo em torno da matemática. “A matemática na escola às vezes é muito repetitiva, não tem motivação para aprender e com a Olimpíada, sim. Aprendi muitas coisas, e foi algo que me motivou a estudar. Tinha 15 anos em 2005, e descobri que tinha a universidade”, disse.
Para Gerson, quando o aluno participa da competição entende que o aprendizado da matéria pode ser por meio do uso do raciocínio e não apenas repetir fórmulas. Isso, na avaliação dele, é o que mais motiva os estudantes. Gerson cursou o ensino médio à noite, porque trabalhava como estagiário pela manhã e, à tarde, tinha um curso técnico no Senai. Apesar da dificuldade no dia a dia, ele tem orgulho do que conquistou. “Consegui entrar na faculdade e passar no vestibular sem fazer cursinho particular”, ressaltou.
Em 2013, Gerson se formou em engenharia elétrica na Universidade de São Paulo (USP). “Sou engenheiro e hoje uso a matemática para fazer tudo”. O paulista destacou ainda a importância da Olimpíada para o intercâmbio dos alunos. “Conheci alunos do Brasil todo. Alguns se tornaram grandes amigos, e somos amigos até hoje. Coisa que eu não tinha na escola que eu estudava. As aulas acabavam e não tinha uma atividade para fora, para sair, passear”.