Há nove anos, a líder comunitária Maria das Graças Oliveira de Lima, de 49 anos, dedica sua vida aos moradores de Boa Vista de Janauacá, no município de Careiro Castanho, no Amazonas. Depois de 11 anos vivendo em Manaus, ela decidiu voltar para a cidade natal após enfrentar problemas financeiros e uma decepção amorosa. Pretendia ficar pouco tempo, mas, ao deparar com a realidade local, ficou comovida e percebeu que poderia ajudar os ribeirinhos.
“Eu percebi que a comunidade estava carente, precisando de alguém para dar mais vida e ânimo para aquelas pessoas. Não tinha água potável, um centro comunitário, a maioria vivia da agricultura. Percebi que faltava algo ali para melhorar a vida daquelas pessoas”, contou.
Foi então que Maria das Graças decidiu participar da eleição para líder comunitária e foi escolhida. A primeira providência junto à prefeitura de Careiro Castanho foi a construção de um poço artesiano para levar água potável aos moradores. Ela também foi atrás de cursos profissionalizantes e conseguiu implantar na comunidade um laboratório de informática com dez computadores. Para aumentar a renda dos agricultores, a líder comunitária buscou o Banco da Amazônia e garantiu acesso a financiamentos. Mas ela também enxergou outro potencial durante reuniões com a comunidade: as mulheres também precisavam de um novo estímulo.
“Eu comecei a ver que nas reuniões com a comunidades, a maioria das pessoas que participavam era mulher. Aí eu resolvi formar um clube de mães, mas eu não tive apoio, faltava parcerias, e não foi para frente. Então veio a ideia de ir à floresta, trabalhar com o material colhido na floresta e ainda contribuir com o meio ambiente”, disse.
A partir dessa ideia, Maria das Graças criou, em 2013, a Associação Mulheres Guerreiras da Amazônia. Com a ajuda de voluntários e de um professor, ela treinou as mulheres da comunidade para a confecção de artesanato a partir do material colhido na floresta. “São aqueles materiais que caem das árvores, aquelas cascas, aqui chamamos de capemba do açaí, da bacaba, do buriti, são cascas que dão lindos vasos, uma obra de arte mesmo.” Elas produzem vasos e enfeites, além de bijuterias, que são vendidos em feiras na região. A iniciativa mudou a vida das 17 mulheres que atualmente fazem parte da associação.
“Elas ficaram mais unidas, ficaram mais pra cima, aumentou a autoestima, nenhuma reclama mais de dor, tensão, estresse. É uma terapia. Você conversa, brinca, trabalha, mas também se diverte”, afirmou.
Mas a líder comunitária ainda não estava satisfeita. Ela inscreveu o projeto em um prêmio da empresa do ramo de cosméticos Natura. O Mulheres Guerreiras da Amazônia foi contemplado e rendeu R$ 15 mil que estão sendo investidos na associação.
Maria das Graças tem consciência da transformação que promoveu na comunidade Boa Vista de Janauacá. Mas ela também sabe que a principal mudança foi dentro dela mesma.
Fonte: Agência Brasil