Estupro no Rio: O que aconteceu foi uma barbárie

Ativista do Coletivo Feminista Maria, vem com as outras convoca sociedade para Gritaço Nacional

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Indignados com o estupro praticado por 33 homens contra uma jovem, de 16 anos, no Rio de Janeiro, cujas cenas do crime foram postadas em uma rede social, representantes de grupos ligados aos direitos das mulheres realizam, na próxima quarta-feira, um 'Gritaço Nacional'. Em Passo Fundo, o ato “Por todas elas – Contra a cultura do estupro', acontece às 17h30min, na esquina democrática (cruzamento da Brasil com a Bento Gonçalves).

“O que aconteceu foi uma barbárie sem fim. Não foi uma menina no Rio, fomos todas nós. Mais uma vez fomos violadas e abusadas por uma sociedade que cultua a cultura do estupro”. Uma das fundadoras do Coletivo Feminista Maria, Vem com as outras, a jornalista Ingra Costa E Silva, 25 anos, diz que no Brasil, a cada 11 minutos, tem uma mulher sofrendo abuso. Ela chama a atenção para o fato  de que a maioria destes casos é praticado dentro de casa, por familiares ou conhecidos. No entanto, afirma que  a cultura de apontar  a vítima como culpada  ainda está muito arraigada na sociedade brasileira.

“A nossa situação como mulher é tão desesperadora que centenas, milhares de pessoas aplaudiram esse crime. Muitos dizendo que não concordam, mas a culpando por ter passado por isso. As pessoas se dizem tocadas por essa situação, mas condenam a vítima. Acham que a roupa, o local em que está ou as pessoas com quem ela foi se encontrar justificam a ação. Como se os estupradores fossem animais irracionais que não sabem se comportar. São filhos de uma sociedade doente que acha natural enfiar a mão dentro da saia da menina na balada. Que  acha normal mexer com a menina na rua porque ela usa short num dia quente. Acha que isso é  horrível, mas ela pediu. Ninguém pede para ser estuprado” protesta.

Na opinião da jornalista, a discussão de gênero tem de estar presente na sala de aula. Ela lembra da  polêmica criada quando o assunto surgiu em um exame do Enem. “Fizeram um auê porque falaram de violência contra a mulher, num país que mais de 30 homens estupraram uma menina de 16 anos (não estamos falando da Índia).  Estamos sempre condenadas à morte e as pessoas fingem não estar vendo isso”, observa.

Em relação ao anúncio feito pelo presidente interino, Michel Temer, sobre a criação de um departamento na Polícia Federal para investigar crimes contra a mulher, a ativista disse ser favorável, mas com ressalvas. “Desde  que o órgão tenha  uma equipe especializada em lidar com mulher vítima de violência e não  um 'monte de  brutamontes que dirão que ela mereceu a violência por ter pego carona com  estranhos”.

Ainda sobre as novas medidas anunciadas por Temer em relação ao assunto, ela criticou o fato de não haver mulheres em seu ministério e vai além. “Se o governo provisório se preocupasse tanto assim com as mulheres, não teria deixado seguir adiante  projetos de lei que ferem os nossos direitos. Veja só que ironia, a PL 5069/2013 que prevê, entre outras coisas, que vítimas de estupro só poderão receber atendimento hospitalar depois de registro do BO  na polícia e exame de corpo de delito feito no Instituto Médico Legal” contesta.

Passo Fundo

Dados fornecidos pelo Coletivo Maria, Vem com as outras, colocam Passo Fundo como a cidade do interior do estado com maior número de ocorrências. Por outro lado, apresenta índice elevado de mulheres que não formalizam a denúncia. De acordo com a Divisão de Planejamento e Coordenação - Serviço de Estatística da Polícia Civil do Rio Grande do Sul os últimos dez anos a Delegacia da Mulher de Passo Fundo registrou mais de 70 mil ocorrências.

Coordenadora das Promotoras Legais Populares de Passo Fundo, Valda Maria Nunes Belitzki, disse estar 'chocada' com o crime do Rio e  cada vez mais convencida sobre a importância do trabalho de prevenção e orientação realizado pelo grupo. “Temos sim que nos meter e denunciar. Temos sim, que em quanto mulheres, não sermos indiferentes a esses atos infames. Não podemos ficar em silêncio. Então lembrei do lema das promotoras legais populares que é: Não se Cale Denuncie!  Basta de tanta violência!” desabafou.

Caso

A Polícia Civil do Rio de Janeiro já identificou quatro homens suspeitos de terem participado do estupro de uma jovem de 16 anos, no fim de semana passado, no morro São José Operário, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio. De acordo com relato da jovem à polícia, ela teria sido estuprada por 33 homens.

Em depoimento à polícia, a adolescente contou que foi visitar o namorado em uma casa no alto da comunidade que era usada por homens ligados ao tráfico de drogas na região. Imagens postadas pelos supostos agressores no Twitter geraram indignação ao mostrarem a menina desacordada e nua. No vídeo, um homem admite: “uns 30 caras passaram por ela”.

Sobre o Coletivo

O Coletivo Feminista Maria, Vem com as outra, surgiu após a Marcha das Vadias, realizada em 2013, em Passo Fundo. O ato confirmou a necessidade da organização de um grupo para discutir questões como o direito das mulheres, femininos, igualdade política, econômica e social. Nos encontros semanais são realizados estudos sobre feminismo, baseados em textos, filmes e situações do dia a dia. O Coletivo também leva os debates para as comunidades, inclusive, já esteve presente em diversas cidades da região norte do Estado. A participação é aberta e totalmente voluntária. Interessados podem obter mais informações através da página do facebook Maria,vem com as outras. 

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