IBGE comemora 80 anos

As pesquisas do IBGE se espalharam com o resultado do trabalho nas unidades das capitais e nas 584 agências distribuídas pelo país

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O retrato do mercado de trabalho é uma das pesquisas feitas pelo IBGEO retrato do mercado de trabalho é uma das pesquisas feitas pelo IBGE
O retrato do mercado de trabalho é uma das pesquisas feitas pelo IBGE
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Para quem fez a carreira junto com a evolução do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), poder compartilhar a comemoração dos 80 anos do órgão, hoje (29), além da satisfação profissional, é fazer o que gosta e ter a certeza de que o resultado de seu trabalho é fundamental para o país. Cimar Azeredo Pereira começou a carreira como coletor de informações. Com o passar do tempo ocupou várias funções e atualmente é gerente da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, responsável por uma das mais importantes pesquisas do instituto, a PNAD Contínua, que, entre outras informações, mostra a evolução do mercado de trabalho, com os níveis de emprego.

“Em plena crise, é nossa responsabilidade colocar à disposição da sociedade um retrato do mercado de trabalho, que sofre reflexo desse cenário econômico que vemos hoje. O produto tem que retratar a realidade. Essa é a grande missão do IBGE, retratar a realidade”, afirmou.

Os pesquisadores também têm seus momentos do dia a dia como consumidores, clientes e usuários e é assim que acabam verificando, na vida pessoal, o que os dados analisados na vida profissional estão indicando, especialmente com relação à inflação. “Se você percebeu que a batata está aumentando no supermercado que você compra, fica querendo ver como vai ser nos números das pesquisas e, quando vai olhar, verifica que subiu mesmo. Isso é perceber e mostrar a realidade”, disse Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE, que, entre outros indicadores, é responsável pelo cálculo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mostra o patamar da inflação.

A coordenadora, que começou no instituto como estagiária e já passou por vários momentos diferentes da economia brasileira, lembrou que nos períodos em que o país enfrentou a hiperinflação, muitos fatores influenciavam a elevação dos índices. “Naquela época, quando saída o aumento do salário-mínimo todo mundo aumentava, aumentou a gasolina todo mundo aumentava. Depois, quando a economia se tornou mais estável, a linha de se trabalhar com as informações se tornou mais fina. Na hiperinflação, ela era autoexplicativa. Com a economia estabilizada, por exemplo, o arroz está aumentando por uma questão de safra”, disse. Eulina também coordena o Sistema de Índices da Construção Civil, no qual os preços coletados para a elaboração dos indicadores, que servem de parâmetros para licitações de obras públicas.

Mudanças no Brasil

Nesses 80 anos, as pesquisas do IBGE se espalharam com o resultado do trabalho nas unidades das capitais de todos os estados brasileiros e nas 584 agências distribuídas pelo país. O Brasil ficou sabendo que a população passou de 42 milhões para 205 milhões de pessoas, que as famílias não se restringem mais a um casal formado por um homem, uma mulher e filhos, que a expectativa de vida dos brasileiros aumentou, que o país é cada vez mais urbano, que houve avanços na educação, mas que, apesar disso, ainda há muitos jovens fora da escola. As pesquisas apontaram também que as mulheres que trabalham ainda recebem cerca de 70% do rendimento dos homens, como também pretos e pardos em diversos indicadores sociais não chegam ao patamar do que tinham os brancos há dez anos. As informações são públicas e estão disponíveis no site do IBGE.

“A robustez que o IBGE tem, com o número de pesquisas e de informações publicada, e com a credibilidade que ao longo do tempo eles vem conquistando, é muitíssimo importante o cidadão poder fazer as suas escolhas, não só na hora de votar, mas para entender o que está acontecendo com a economia”, afirmou a professora de economia do Instituto Coppead de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead/UFRJ), Margarida Gutierrez. “É muito importante esse trabalho que o IBGE desenvolve no sentido de manter a sua independência”, disse.

Para a professora de economia do programa de MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV), Virene Roxo Matesco, parte das informações necessárias para o cidadão brasileiro, foi conhecida por meio dos censos demográficos do IBGE e são usadas para decisões importantes. “Os responsáveis pela elaboração das políticas públicas deste país precisam conhecer o país para tomar decisões corretas, então,quando o IBGE divulga uma pesquisa, está fornecendo para a sociedade informações valiosíssimas para o processo decisório”, ressaltou Virene.

O economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes, disse que, para avaliar o desempenho do setor, não pode ficar sem os dados produzidos pelo IBGE. “Nos dados do comércio, não há uma pesquisa nacional sobre o faturamento do comércio com a abrangência da pesquisa do IBGE, com a clareza de metodologia que o IBGE utiliza”, disse, acrescentando que o trabalho do instituto retrata o Brasil. “Todo mundo lembra que, no banco da escola, a gente estudava geografia, e todos os dados e fotos vinham do IBGE, instituto responsável por apresentar o Brasil para a gente. É ele que tira o melhor retrato do Brasil, para  entendermos um pouco melhor o país que a gente vive”, completou.

Dificuldades

Como outros órgãos públicos, o IBGE também enfrentou períodos de falta de recursos e isso refletiu nas pesquisas, que tiveram, em alguns casos, a interrupção da série histórica. Cimar Azeredo revelou que a maior dificuldade foi na década de 80, quando entrou para a instituição. Segundo ele, até para o pagamento de salários dos servidores não havia dinheiro. Além disso, ele apontou a diminuição de recursos em alguns períodos, o que afeta a coleta de dados. “A gente precisa financiar as passagens e as diárias dos servidores que vão a campo coletar as informações, e quando estamos em momentos de crise e falta de recursos, esses são os motivos que mais atrapalham nosso trabalho”, disse.

De acordo com Azevedo, a Pesquisa de Orçamento Familiar sofre com a falta de pessoal para ser colocado em campo. “Este é um problema que temos hoje. Uma pesquisa de extrema importância fica aguardando a entrada de novos servidores para entrarem em campo”.

Outro fator que influencia na realização de pesquisas, segundo Azeredo, são as greves por melhores salários e condições de trabalho. Com a paralisação dos servidores, em alguns casos não é possível fazer a coleta de dados. “O petróleo está lá e pode extrair depois, a aula pode ser dada depois, uma pesquisa como a PNAD, não pode coletar depois. Se perdermos a coleta no período certo, perde-se o retrato daquele momento”, afirmou.

“O IBGE depende de verbas federais. Se ele tivesse maior disponibilidade de verbas tenho a absoluta convicção de que poderia fazer muito mais”, disse a economista Virene Roxo Matesco. “Essas rupturas são lamentáveis, mas é a nossa realidade.”

“Em momentos difíceis em que o IBGE tem problemas de orçamento e é obrigado adiar pesquisas, mesmo quando eles fazem isso, eles adiam a pesquisa, mas não abrem mão da qualidade dos dados que levantam. Para mim é um instituto de referência”, disse o economista Fábio Bentes.

Atualização

Enquanto desenvolviam as suas carreiras no IBGE, os coordenadores Cimar Azeredo e Eulina Nunes também assistiram a modernização dos métodos de levantamento das informações, incluindo a proximidade de organismos internacionais como a OIT e a ONU. “Esse processo de atualização metodológica do IBGE é que o coloca hoje como referência no mundo. Até a China veio aqui para saber como era feito o censo brasileiro e hoje é um país agradecido por ter recebido apoio na introdução da coleta eletrônica. Foi um trabalho difícil para chegar onde a gente chegou”, disse Azeredo.

A introdução da informática e a utilização de novos equipamentos também permitiu ampliar a coleta de dados e fazer o trabalho de forma mais rápida. “Antes disso, os questionários eram em papel. Eles eram digitados em um processo mais lento e trabalhoso. Envolvia um maior número de pessoas e maior risco de erro. Com a aceleração do uso da informática ficou bem mais fácil. Hoje, apesar do IBGE manter os questionários como um plano B, a coleta é toda feita em equipamentos. Os dados entram direito on line. Isso é evidente na área dos índices”, lembrou Eulina Nunes.

Justamente quando completa 80 anos, o IBGE está à frente das discussões sobre produção e divulgação de estatísticas oficiais. A presidente atual do órgão, Wasmália Bivar, foi a primeira mulher latino-americana eleita para presidir a Comissão de Estatísticas da ONU. “É um reconhecimento internacional que muito nos honra. Mas ainda temos muito a conquistar, num mundo em que a demanda por informações estatísticas e espaciais, com qualidade, confiabilidade e rapidez, é crescente”, disse.

Segundo Wasmália, o órgão busca sempre acompanhar as necessidades da produção de dados estatísticos no mundo. “O IBGE está constantemente se reposicionando diante dos desafios contemporâneos e, atualmente, um dos grandes projetos que nos movem é o processo, em nível internacional e nacional, de formulação dos indicadores de monitoramento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), eixo central da Agenda 2030 para os países das Nações Unidas” afirmou.

 

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