Entre os anos 2010 e 2015, os trabalhadores imigrantes aumentaram em 131% a presença no mercado de trabalho formal, passando de 54.333 em 2010 para 125.535 em 31 de dezembro de 2015, segundo os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). Apesar desse crescimento, os trabalhadores imigrantes correspondem a menos de 0,5% da força de trabalho no mercado formal.
No entanto, entre outubro de 2015 até junho de 2016, pela primeira vez na década atual e desde o começo da crise econômica, os imigrantes passaram a ser afetados também com a perda de emprego.
Os dados foram divulgados hoje (7) pelo Relatório Anual 2016 - A inserção dos imigrantes no mercado de trabalho brasileiro, do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), parceria entre o Ministério do Trabalho e a Universidade de Brasília (UnB), durante a 3ª Conferência Nacional de Produtores e Usuários de Informações Estatísticas, Geográficas e Ambientais, promovido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), de 2010 a 2015, a tendência entre o número de admissões e demissões dos trabalhadores imigrantes era de saldos positivos.
Segundo o estudo, ao contrário do que ocorreu nos países do Hemisfério Norte, onde a crise econômica afetou primeiramente os imigrantes, no Brasil, até os nove primeiros meses de 2015, com o país já vivendo uma crise econômica, o número de admissões de imigrantes no mercado de trabalho formal superou o de demissões. Em 2015, o número de admitidos alcançou 54.086 e o de demitidos, 48.039.
O relatório mostra que, desde outubro de 2015 até junho de 2016, a movimentação dos trabalhadores imigrantes no mercado formal teve balanço negativo, com o número de demissões superando as admissões. Esse saldo sinaliza que, pela primeira vez na presente década, desde o início da crise econômica, os imigrantes passaram a sofrer com o desemprego. No primeiro semestre de 2016, foram admitidos 19.734 imigrantes e demitidos 24.965.
“O desemprego não é homogêneo, mas a crise chegou com força também aos imigrantes”, disse o professor da UnB e coordenador do OBMigra, Leonardo Cavalcanti. Segundo ele, para a reinserção dos imigrantes é necessário elaborar políticas públicas de mobilidade laboral e geográfica. “Os imigrantes estão abertos a mudar de área. A construção civil empregava muita gente e passou a demitir. De repente, mudar para outros fluxos como o final da cadeia produtiva do agronegócio, onde os imigrantes estão trabalhando no Sul do país, com o abate de suínos e de frangos”.
Distribuição espacial
As regiões Sudeste e Sul são as que mais absorvem trabalhadores imigrantes. Em 2010, São Paulo empregava 48,5% dos imigrantes, sendo que a capital paulista, naquela ocasião, registrava 28,7% do total de trabalhadores migrantes do país, percentual superior ao do segundo estado, que era o Rio de Janeiro (15,8%). A capital fluminense concentrava 11,4% da mão de obra estrangeira. Reunidos, esses dois estados e mais Minas Gerais faziam com que o Sudeste atraísse cerca de 70% desses trabalhadores. Em seguida, aparecia a Região Sul com aproximadamente 17%.
Em 2015, o estado de São Paulo perdeu importância relativa passando a acolher 35,8% da força de trabalho imigrante. O Rio de Janeiro (9,8%) passa a empregar menos que Paraná (12,9%), Santa Catarina (12,8%) e Rio Grande do Sul (10%). Entre as capitais, São Paulo emprega 20,3% e Rio de Janeiro, 6,8%.
Perfil
De modo geral, predomina uma população imigrante jovem, masculina e com nível de escolaridade médio e superior. Entre os grupos ocupacionais que tiveram um aumento significativo da presença de imigrantes entre os anos de 2010 a 2015 estão os trabalhadores da produção de bens e serviços industriais e trabalhadores em serviços de reparação e manutenção.
Haitianos
Nos primeiros anos da década de 2010, o maior incremento dos trabalhadores imigrantes ficou por conta dos haitianos que passaram a ser a principal nacionalidade no mercado de trabalho formal desde 2013 e se mantêm nessa posição. Os haitianos passaram de 815 imigrantes em 2011 no mercado de trabalho formal para 33.154 em 2015. Segundo o estudo, constata-se que já em 2013 os portugueses, até então maioria, foram superados pelos haitianos, que em 2015 representavam 26,4% da força de trabalho imigrante no Brasil.