Investigação sobre atropelamento indica homicídio culposo, diz delegado

O veículo invadiu calçadão da praia de Copacabana, e atropelou pedestres. Um bebê morreu e 17 pessoas ficaram feridas

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O delegado da 12ª Delegacia de Polícia Gabriel Ferrando disse, na manhã de hoje (19), que um possível ataque epilético no motorista é a principal linha de investigação sobre o atropelamento de 17 pessoas na Praia de Copacabana, na noite de ontem (18). Até o momento, a avaliação do delegado é de que o crime foi um homicídio culposo, em que não há intenção de matar, e que o suspeito deve responder em liberdade.

 

"Ele narra que teria tido uma espécie de disritmia, decorrente do problema epilético. Segundo ele, essa disritmia causa nele um apagão", disse o delegado, que mantém o motorista na delegacia até o momento, para continuar com os esclarecimentos. "Esse apagão, segundo ele, teria ocasionado a perda de consciência temporária no momento em que estava conduzindo o veículo".

 

O delegado afirmou que nenhuma hipótese ainda está descartada e que a vida pregressa do motorista continuará sendo investigada. Na opinião de Ferrando, com as informações que ele tem até o momento, não há como indiciar o motorista por homicídio doloso, quando há intenção de matar, nem por homicídio com dolo eventual, quando se assume o risco de matar.

 

"Trabalhar com a hipótese, com os elementos que eu tenho no momento, de que ele tinha a intenção ou assumiu o risco, eu acho temeroso".

 

O delegado argumentou que a legislação não prevê prisão em flagrante para casos de atropelamento em que o motorista se mantém no local do incidente. A prisão também foi descartada até o momento porque os exames iniciais não apontaram ingestão de álcool e outras substâncias, e também porque o motorista não participava de um pega. Ferrando também considera que a alta velocidade, ao que tudo indica, foi causada pela disritmia.

 

Vítimas

Um bebê de oito meses morreu e 16 pessoas ficaram feridas no atropelamento. O motorista responderá pelo homicídio do bebê e lesão corporal das outras pessoas.

 

Testemunhas estão sendo ouvidas na tentativa de esclarecer o caso, incluindo uma mulher que estava no carro no momento do atropelamento. Segundo o delegado, ela corrobora a versão de que houve um ataque epilético.

 

"A testemunha narra que ele estava dirigindo, e ela foi surpreendida com a paralisia dele. Ele teria tido um apagão enrijecido", conta o delegado.

 

O delegado contou que ainda não recebeu informações oficiais do Departamento de Trânsito do Estado do Rio de Janeiro (Detran) sobre a situação do motorista, mas confiscou a carteira de habilitação dele como medida cautelar.

 

Ferrando considera que, mesmo que fique provado que o motorista mentiu sobre a doença no exame médico do Detran, ou que estava com a carteira de habilitação vencida, isso não muda o entendimento de que não houve intenção de matar.

 

"A situação dele vai ser agravada no que diz respeito às pena. O que estamos discutindo aqui é a voluntariedade", disse o delegado.

 

Além de informações oficiais do Detran, a Polícia Civil aguarda ainda o resultado de exames mais detalhados de sangue e urina, além de câmeras de segurança instaladas perto do local do acidente que possam ter registrado o atropelamento de prédios e câmaras da Prefeitura.

 

Na opinião do delegado, é possível que a investigação do caso seja encerrada em até 30 dias.

 

Mãe da bebê atropelada diz que tudo aconteceu muito rápido

A mãe da bebê Maria Louise Araújo Azevedo, de 8 meses, que morreu no atropelamento, disse que tudo aconteceu muito rápido, com o carro subindo a calçada, atravessando a ciclovia e atropelando as pessoas no calçadão da orla. Niedja da Silva Araújo esteve no Instituto Médico Legal (IML) para liberar o corpo da filha. "Eu só lembro que estava no chão. Eu não vi mais nada. Acabaram com a minha vida", disse, chorando muito. Ela disse que ainda sentia muitas dores no corpo.

 

A família disse que não tem a certidão de nascimento de Maria Louise, que molhou e rasgou com a chuva. O IML informou que o enterro do bebê vai poder ser feito, mas liberado sem o nome da criança na certidão de óbito, apesar do reconhecimento feito pela família. Após o sepultamento, com a apresentação da nova certidão de nascimento, no registro do óbito constará o nome de Maria Louise.

 

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, das 16 vítimas feridas, nove delas que estavam com ferimentos mais graves foram levadas para o Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea, zona sul da cidade. Destas, três receberam alta na madrugada desta sexta-feira (19), e seis permaneciam internadas. A mais grave é um turista australiano que está em estado grave e não teve o nome revelado. Ele tem 68 anos, sofreu traumatismo craniano e está respirando com auxílio de aparelhos.

 

Outras sete pessoas feridas foram encaminhadas para o Hospital Souza Aguiar, na região central da cidade. Todas sofreram ferimentos mais leves, incluindo Niedja Araújo, mãe de Maria Louise Araújo Azevedo, que morreu na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Copacabana.

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