Este sábado foi um dia de muitas manifestações em homenagem à vereadora Marielle Franco (PSOL) e ao motorista Anderson Gomes e marcou um mês do crime que provocou a morte dos dois, em 14 de março, no Estácio, região central do Rio. Marielle foi atingida na cabeça por quatro tiros e Anderson foi morto por três disparos nas costas. Uma assessora de Marielle que também estava no carro sobreviveu ao ataque com ferimentos por estilhaços.
Logo no início do dia, o Amanhecer por Marielle e Anderson, se espalhou por diversos bairros do Rio e cruzou fronteiras para outros estados e países. Em nome da vereadora e do motorista, o partido dela, o PSOL, e diversos movimentos sociais marcaram eventos pela internet. No Brasil, houve mobilização no Distrito Federal e em 13 estados, entre eles, Piauí, Ceará, Paraíba, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná e Rio Grande do Sul. Fora do país, ocorreram manifestações nos Estados Unidos, Canadá, Peru, na Argentina, Itália, Alemanha, Suécia, Suíça, nos Países Baixos, no Reino Unido, na Hungria, em Portugal e na França.
O site de Marielle informava a intenção dos atos: “Precisamos mostrar que estamos transformando nossa dor em força, que não daremos nenhum passo atrás e que nem o tempo nem o medo vão nos calar!”. Com este propósito, diversas pessoas foram às ruas reforçar as causas que a vereadora defendia: contra o racismo, a intolerância religiosa, o preconceito e a violência contra negros.
No Rio, ocorreram manifestações em vários bairros. Em Campo Grande, na zona oeste, o estudante Cauã Lopes, de 18 anos, levou uma tela com o desenho do rosto de Marielle para incentivar as crianças a colorirem. “A gente resolveu criar uma arte que atraísse o público infantil, sob o ponto de vista de que a criança também faz parte da questão política”, disse.
Cauã faz parte do Coletivo Juntos que era incentivado por Marielle. O estudante tem se recordou do contato que teve com a vereadora. “Meu convívio com a Marielle foi muito forte porque a minha família é composta por negros e a minha irmã, Yamê Pedrosa, foi a primeira mulher da zona oeste que participou da comissão de diretos da mulher negra da OAB. O mandato dela [de Marielle] sempre foi muito receptivo conosco. O que ela sonhava para a comunidade negra e em geral a gente sempre se identificou”, disse.
O deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) que faz parte da comissão externa da Câmara que acompanha as investigações do crime destacou que há uma “tradição terrível" na história brasileira que é a da não apuração de crimes políticos.
“Se a gente não gritar, se a gente esquecer, esse mínimo que não traz de volta as vidas dos nossos amados, mas que pelo menos nos acalma um pouquinho, que é saber quem puxou aquele gatilho certeiro, profissional e quem mandou e organizou este homicídio", disse o deputado.
A deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ), que também integra a comissão, disse que tem participado de reuniões com o chefe de Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, com o interventor federal, general Walter Braga Netto, e pelas informações que tem recebido as investigações estão bastante avançadas.
“Nós não temos ainda um prazo para o esclarecimento, porque tanto para o chefe da Polícia Civil como para nós, é para além do executor que apertou o gatilho. É fundamental entender a motivação. Nós queremos também saber a motivação para entender o alcance do risco que tem para os outros ativistas dos direitos humanos e de todas as pessoas que estão nesta luta”, afirmou. Ela lembrou que o assassinato da juíza Patrícia Acioli levou quase dois meses para ser esclarecido e o de Marielle e Anderson com um mês de investigação já está em estágio mais avançado que as apurações da morte da magistrada.
O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), que participou hoje de diversos atos desde o Amanhecer por Marielle e Anderson e da missa da família da vereadora, no centro do Rio, destacou que é importante reforçar a mensagem de Marielle.
“Porque que ela só foi apresentada à sociedade depois de ter a vida ceifada desta forma? Acho que é uma grande lição que fica para todos nós. Para onde nós olhamos antes disso? Será que a pauta da Marielle era uma novidade? Talvez não. Porque a importância que estamos dando agora é maior diante da brutalidade. Acho que manter esta pauta viva, fazer o Amanhecer, fazer a caminhada, é fazer com que essa batalha nunca mais seja perdida”, disse.