Na mesma linha de pensamento do presidente Jair Bolsonaro, que afirma não ter havido ditadura no Brasil, o ex-militar Daltro José Wesp acredita que o termo é um "equívoco histórico". Às vésperas de completar 55 anos da data que o presidente João Goulart foi deposto do poder, a discussão acerca do que foi ou não este período histórico veio à tona depois que o Bolsonaro determinou que as forças armadas celebrassem o dia em quartéis de todo o país.
"Marcar historicamente essa data como a data que impediu que nos tornássemos uma república socialista, eu não vejo mal nenhum. Comemorar, ou marcar, essa terminologia é uma questão de semântica. Eu digo que é uma data histórica que impediu que o comunismo fosse implantado no Brasil. Particularmente, eu nunca esqueci 31 de março, como nunca esqueci novembro de 35, quando as mesmas forças comunistas assassinaram 28 militares no Brasil, a maioria dormindo", pontua. Nessa última data, Wesp se refere a Intentona Comunista, uma tentativa de tomada do poder, ainda durante o governo de Getúlio Vargas.
A ameaça comunista é o centro do debate para Wesp. Os militares só assumiram o poder "porque a sociedade brasileira vinha pedindo, há muito tempo, através das entidades representativas, que o comunismo não tomasse conta do Brasil". Em contextualização histórica, lembra do período de Guerra Fria e da "tentativa de domínio ideológico da unidade por duas grandes correntes: a corrente representada pelos EUA e a corrente representada pela URSS, que ainda praticava o marxismo stalinista na tentativa de tomada do poder através do movimento armado, de guerrilhas urbanas e rurais".
Para ele, o governo de Castelo Branco só assumiu, no início de abril de 1964, porque esse era o clamor popular e também porque foi o candidato que mais recebeu votos em uma eleição indireta realizada "O mandato de Castelo Branco estava proposto que duraria um ano e meio. Primeiro ponto, se não quiserem chamar de movimento democrático de 64, pelo menos que corrijam a data histórica para não passarem por desavisados", pontua. Por essa razão, defende que trata-se do movimento democrático de 64.
Por esse pensamento, o que determinou que os militares seguissem à frente do governo e por lá permanecessem por mais de 20 anos, foi o acirramento dos movimentos pré-revolucionários de guerrilhas armadas. Wesp cita como exemplo o atentado no aeroporto de Guararapes, em julho de 1966, quando houve a explosão de uma bomba. O alvo era o general Arthur da Costa e Silva. Naquela ocasião, duas pessoas morreram, um jornalista e um militar, e outras 14 ficaram feridas. "A partir daí, com essa tentativa das forças comunistas de tomar o poder, nós tivemos um grande conflito de enfrentamento. É uma grande mentira a esquerda revolucionária dizer que lutou por democracia. Qualquer pessoa que viveu, que leu, qualquer pessoa que acompanha a história do Brasil sabe que a esquerda revolucionária queria implantar um sistema totalitário baseado no marxismo soviético", argumenta.
Questionado sobre mortos, desaparecidos e torturados pelo regime, ele rebate: "a gente nunca deve relativizar uma morte, mas o que tu achas que acontece com duas forças em confronto? O que acha do assassinato de militares pela guerrilha? Por que só perguntar dos torturados, dos desaparecidos, dos que morreram no enfrentamento?", questiona, por fim, o ex-militar.