Bruno Todero/ON
A renovação de toda a frota de veículos da Corsan, realizada entre os meses de março e abril do ano passado, criou um problema para a instituição. Um total de 64 carros, camionetes e caminhões utilizados até então, alguns da década de 1970, foram retirados de circulação e depositados em algumas centrais da companhia, esperando pela liberação para que possam ser leiloados. Enquanto isso, expostos a ação do tempo, a grande maioria encontra-se hoje em situação de completa deterioração.
Especialista no assunto, o leiloeiro oficial do Leilão Judicial, Leandro Ferronato, diz que não tem informações sobre o caso específico dos veículos da Corsan, já que o processo todo é conduzido pelo Estado e até o momento não foi publicado o edital para efetivação do leilão. Contudo, ele explica que o fato de os carros estarem expostos ao tempo pode provocar depreciação superior a 20% ao ano. Um exemplo hipotético: um Fiat Uno, ano 2000, que no ano passado poderia ter sido negociado por cerca de R$ 10 mil, hoje deve estar valendo menos de R$ 8 mil.
A Corsan alega que grande parte dos veículos já não apresentava condições de uso, portanto já vinham em processo de sucateamento. Além disso, muitos dos carros e caminhões custariam mais para serem consertados do que o próprio valor que possuem no mercado. A companhia entende que o valor que deixará de ser arrecadado pela demora na publicação do edital é pequeno, já que a maioria dos veículos está no limite da depreciação.
Os efeitos do tempo
Segundo Ferronato, uma série de complicadores aparecem quando um veículo é exposto, sem uso, aos efeitos do tempo, ainda mais por um período prolongado, como é o caso. “A pintura fica danificada. O óleo do motor vira uma pasta. As velas estragam. A bateria pifa. O pneu resseca. Se a roda é de ferro, começa enferrujar. Enfim, tudo isso coloca o preço final do veículo lá em baixo”, afirma.
Ele explica que, mesmo com preço baixo, o negócio muitas vezes não se torna tão vantajoso para o comprador. Se o mesmo quiser rodar com o carro pela cidade na legalidade, terá de fazer a vistoria no Detran, que não libera se o bem não estiver em condições de uso com segurança. É por isso que, em leilões como este, o mais provável é que a maioria dos veículos sejam vendidos apenas para sucata ou aproveitamento de peças.
Quanto valem?
Não há uma estimativa de quanto valeriam todos os 64 veículos depositados no pátio da antiga Corsan em Passo Fundo. Porém, existem alguns parâmetros que são levados em conta pelos avaliadores para estipular o preço inicial de leilão. Entre os fatores analisados destacam-se a tabela da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), reduzida de 30 a 40% em média, o estado de conservação, o tempo de uso e quem eram os usuários.
No caso da Corsan, como os veículos eram submetidos a todos os tipos de terrenos, com diversos motoristas, é provável que o valor estipulado seja muito abaixo do valor de mercado. Além disso, aqueles que foram batidos ou que sabidamente não poderão ser reformados, serão vendidos somente para ferro-velho.
Entre os veículos, alguns chamam a atenção de quem passa pela rua Jacinto Vilanova, na vila Annes, no pátio da antiga estação de tratamento de efluentes: são vários Fuscas, Brasílias, Chevrolet D-10, Chevette, Pick-up Corsa, Gol e até caminhões.
Substituição da frota
Na ocasião da substituição da frota em 2009, quando foram entregues 57 novas viaturas para a regional de Passo Fundo, os diretores da companhia disseram que a Corsan gastava mensalmente cerca R$ 300 mil com a manutenção dos carros, valor que reduziu consideravelmente após a medida. Para evitar que a nova frota siga o mesmo destino desta que está abandonada, o contrato assinado com o Estado prevê a substituição de todos veículos a cada ano ou 80 mil quilômetros rodados.
Sobre o leilão
A Corsan informou, por meio da Superintendência de Apoio Administrativo e Financeiro, que já encaminhou o processo de baixa dos referidos veículos ao Departamento de Transporte do Estado do Rio Grande do Sul (DTERS). Juntamente com os laudos, foram encaminhadas as certidões negativas de débitos com a Secretaria da Fazenda e Detran, assim como planilhas com a avaliação financeira de cada veículo. Todos estes documentos foram exigidos pelo DTERS e fazem parte do processo como um todo. Agora, a companhia está aguardando a liberação da documentação para publicação do edital. Ainda não há previsão para a data do pregão.
Esta matéria foi publicada nesta sexta-feira no Jornal O Nacional