Natália Fávero/ON
As milhares de peças de roupas encontradas no aterro sanitário de Passo Fundo devem ser alvo de investigações. O secretário de Assistência Social, Adriano José da Silva, seguindo determinação do prefeito Airton Dipp registrou ocorrência policial para que o caso seja desvendado. O Ministério Público por sua vez já anunciou a instauração de inquérito civil público e o próprio município determinou apuração interna, embora negue que as roupas sejam fruto de doações e tenham saído da Semcas.
Ontem à tarde, depois de participar da entrevista coletiva concedida pelo secretário, a reportagem de O Nacional foi até o aterro sanitário e conseguiu entrar acompanhada da polícia civil. As peças de roupas que haviam sido mostradas em dias anteriores tinham sido recolhidas, mas outras milhares de peças foram encontradas encobertas por capim. Elas estavam amontoadas no chão e outras estavam dentro de sacolas de lixo. Apesar de aparentemente em boas condições, a umidade em que se encontram não deve possibilitar o uso.
A Semcas (Secretaria de Cidadania e Assistência Social) nega que tenha descartado roupas no lixão. As denúncias coincidiram com a Campanha do Agasalho 2010 lançada pela prefeitura no último final de semana e que pode ajudar muitas pessoas carentes da cidade. É o caso de Pedro Barbosa, cadastrado na secretaria para receber roupas para a família. "Acho importante esse tipo de campanha. Elas ajudam quem precisa. As doações não podem parar em virtude dessas denúncias", contou Barbosa.
A Semcas informou que atualmente há um estoque de 4 mil peças. De janeiro a dezembro de 2009, a secretaria arrecadou 118,9 mil unidades. Dessas, sobraram um estoque de 34 mil. De janeiro a abril de 2010 foram doadas mais de 30 mil peças.
As doações são feitas com base em um cadastro com mais de 13 mil pessoas. Segundo a secretaria essas roupas são retiradas conforme a necessidade de cada um e é feito um registro da quantidade adquirida.
Secretário nega descarte
Um pouco antes de essas novas peças serem encontradas, o secretário de Cidadania e Assistência Social, Adriano José da Silva concedeu entrevista à imprensa e afirmou mais de cinco vezes que as roupas achadas no lixão anteriormente não pertenciam a nenhuma campanha de agasalho da secretaria.
Na manhã de ontem, ele esteve no lixão para verificar a situação. "Encontramos uniformes de empresas da cidade, camisetas de futebol, roupas usadas e peças novas com etiquetas e códigos de barra. Essas roupas não são da secretaria", afirmou.
Silva registrou uma ocorrência policial na delegacia. Ele acredita que essas roupas podem ser provenientes de furto ou descartes. Uma sindicância interna foi aberta, juntamente com a Secretaria do Meio Ambiente, responsável pelo aterro sanitário, para investigar a origem das roupas e quem as colocou naquele local.
O secretário reafirmou que nas últimas semanas cerca de 50 peças foram descartadas da secretaria, devido a problemas de vazamento de água de um cano na sala em que estavam guardadas as roupas para doação. "Essas roupas não estavam em condições de serem doadas porque estragaram com a umidade, mas nem se compara ao número encontrado no lixão", disse Silva.
O secretário enfatizou que na Campanha do Agasalho deste ano, a imprensa será convidada a participar da triagem e doações de roupas e alimentos arrecadados. A sala que tinha vazamento de água já foi consertada. O secretário do Meio Ambiente, Clóvis Alves, contou que a empresa Nova Era é quem administra o lixão. A notificação será enviada à empresa no dia de hoje.
Nova Era
A empresa Nova Era é quem administra o aterro municipal e também é responsável pelo recolhimento do lixo na cidade. A assessoria de imprensa informou que a empresa não sabe de onde vieram as roupas e que não foi a empresa quem fez o transporte. Só estão autorizados a entrar no lixão veículos da Nova Era, da prefeitura e de algumas empresas cadastradas. Todos são abordados e registrados na entrada do lixão. Funcionários da empresa estão sendo ouvidos pela direção.