(Re)Socialização pelas ondas do rádio

Inaugurada ontem, rádio do órgão já está em funcionamento, com programação que inclui musicais e entrevistas

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Texto e foto: Glenda Mendes/ON

Numa parceria entre o Ministério da Educação e Secretaria de Justiça e Bem-Estar Social do Rio Grande do Sul, o Case de Passo Fundo inaugurou ontem a Rádio Força Jovem, de abrangência interna e com operação e comunicação dos adolescentes internos do centro. Participaram da cerimônia o presidente da Fase, Irani Bernardes de Souza, o juiz da Infância e Juventude, Dalmir Franklin Júnior, a promotora da Infância e Juventude, Cleonice Aires, o secretário municipal de Assistência Social, Adriano José da Silva, a presidente do Comdica, Vera Lúcia Oliveira, o coordenador regional de Educação, Heleomar Lara, o diretor do Case, Luiz Valendorf, dentre outras autoridades e representantes de diversas entidades.

Terceira inaugurada no estado, a Rádio Força Jovem foi formatada e organizada com o apoio de profissionais da Rádio Planalto e UPF. “O objetivo básico e principal é a inclusão social”, destaca o presidente da Fase, Irani Bernardes de Souza. De acordo com ele, neste contexto, a comunicação social é fundamental no processo. “Essa rádio é um ponto de cultura. É um projeto do Ministério da Educação que estava parado no estado desde 2004 e que fizemos questão de tirá-lo da gaveta, adquirir o material para as unidades, além de implantá-lo como elemento integrador e de socialização dentro da própria unidade”, salienta Souza.

Conforme o presidente Souza, a rádio é um exemplo de ações positivas no sentido de conhecer um pouco mais da realidade do trabalho realizado pela Fase “e fazer com que a sociedade, a comunidade, também participe desse processo. Da mesma forma, é uma maneira de profissionalização, uma vez que eles aprendem técnicas de programação, montam pautas, trabalham com informática e aprendem sobre programação. É um trabalho social, uma vez que temos conhecimento de que alguns jovens que já saíram de outras rádios estão empregados em alguns espaços”, avalia Souza.

O foco na profissionalização é o mesmo ponto defendido pelo diretor da unidade do Case de Passo Fundo, Luiz Valendorf. “Estamos felizes e contentes, porque aqui pensamos sempre na questão da ressocialização do adolescente. É este trabalho que o grupo do Case vem fazendo nos últimos anos. Toda casa, todo centro, todo trabalho é comprometido”, salienta Valendorf. Além disso, para o diretor, o principal fator a ser ressaltado é que ações como a rádio e a banda são desenvolvidas pensando exclusivamente em oferecer meios para que os adolescentes possam deixar o centro “com mais tranquilidade e mais alegria”, destaca.

Histórias de vida
O Case é um centro dedicado à internação de adolescentes em conflito com a lei. É o local onde eles são privados da liberdade para o cumprimento de medida sócio-educativa que objetiva a reintegração com a sociedade. No local, além de frequentarem a escola regular, que existe dentro de cada unidade, podem participar de oficinas e projetos, tais como a rádio que foi inaugurada.

Porém, mais do que jovens que cometeram algum delito, são pessoas com histórias de vida. E, para a promotora Cleonice Aires, este é um dos fatores mais importes. “São poucos os momentos que uma promotora pode falar coletivamente aos internos do Case. Contatos com o Ministério Público nem sempre são agradáveis, nem sempre são verdadeiros. A imensa maioria que está aqui hoje pode se permitir ter uma relação absolutamente honesta com o Ministério Público, porque ninguém mais está acusando e ninguém está mais está se defendendo. Cada um está aqui hoje ocupando um espaço e neste momento é um espaço comum, num propósito de fazer algo que não foi feito. Nenhum de vocês é apenas um nome ou apenas um processo. Vocês são a história de vida de vocês. Ninguém chega à violência ou às drogas se não lhe faltou alguma coisa”, ressalta Clenice.

De acordo com ela, várias são as possibilidades que advém da oportunidade de participar deste projeto. “A rádio possibilita uma série de contatos, de fatos, de acontecimentos que muitos não tiveram na vida. Possibilita aprender a ouvir, aprender a falar, coisa que poucos tiveram oportunidade de fazer. Possibilita escolher, mostrar-se, dizer do que gosta. Possibilita cultura, e conhecer pessoas”, enfatiza a promotora.

Retomada da liberdade
O Case é um local de passagem, onde os adolescentes permanecem por um determinado período de tempo. O grande objetivo dos centros é reabilitá-los para o convívio em sociedade. Conforme o juiz Dalmir Franklin Júnior, um dos principais focos deve ser a reabilitação para a retomada da liberdade. “Costumo pensar que o ideal seria que espaços como estes não precisassem existir. Uma das questões talvez mais traumáticas para a sociedade é a privação de liberdade. É uma das coisas mais difíceis de fazer, não só para quem tem a sua liberdade perdida, como também para as pessoas que têm a responsabilidade de fazer esta determinação”, afirma Júnior.

Para o juiz é este aspecto que faz pensar o quão difícil é conviver com espaços de internação para adolescentes privados de liberdade. “Ao mesmo tempo, a gente sabe que são locais que podem ser chamados de ‘mal necessário’. São espaços, locais, pessoas que trabalham para cumprir essa função, que a sociedade os incumbiu. E se a gente tem que trabalhar com privação da liberdade, o ideal é que, na medida do possível, se trabalhe com a perspectiva de que essa liberdade seja retomada da melhor forma possível”, projeta o juiz.

Adriano José da Silva, secretário municipal de Cidadania, que esteve na cerimônia representando o prefeito Airton Dipp, lembrou da questão da esperança. “O que nos move hoje e que alenta o coração é a esperança que temos de que as pessoas possam mostrar aqui o que elas têm de melhor em cada uma delas. O trabalho feito pelo Case é muito importante, pois é um espaço humanizado e vemos o esforço de todos que trabalham aqui. Baseados nessa esperança, parabenizamos a bela iniciativa da rádio, de criar, libertar o lado bom que todo ser humano tem”, destaca o secretário.

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