Cerca de 200 pessoas deixam de ser hospedadas em Passo Fundo com o fechamento das casas mantidas por políticos e devido à redução da capacidade do albergue municipal, que passa por reformas. Os poucos albergues da cidade estão superlotados. É o caso da Casa de Apoio Vicentina, que aumentou em 80% a ocupação
Texto e foto: Natália Fávero/ON
Todos os dias, centenas de pessoas de outros municípios procuram em Passo Fundo um lugar para se hospedar gratuitamente ou com custos baixos. São familiares que esperam pela recuperação de um parente hospitalizado ou são os próprios pacientes que aguardam o fim do tratamento médico. Em janeiro, três casas de apoio instaladas na cidade, pertencentes aos deputados estaduais Giovani Cherini (PDT), Vilson Covatti (PP) e Iradir Pietroski (PTB), foram fechadas devido ao ano eleitoral, conforme prevê a legislação. Uma reportagem publicada em fevereiro por ON mostrou que a demanda aumentou em 100% por causa disso. Nessa semana, ON foi conferir de perto a falta de vagas na Casa de Apoio Vicentina, que aumentou a ocupação em 80%.
A casa de apoio, ligada ao Hospital São Vicente de Paulo, foi fundada há dez anos, quando a Sociedade Vicentina constatou a necessidade de abrigar familiares de pacientes de municípios da região ou pacientes em tratamento médico que não tinham onde ficar. Muitos acabavam dormindo nos corredores dos hospitais ou em bancos das praças por não ter condições para pagar um hotel.
A casa de apoio dos vicentinos tem 34 leitos e todos estão ocupados. Outras três pessoas estão dormindo em colchões improvisados no chão. Segundo a funcionária Amélia Oro, cerca de 15 pessoas que batem à porta diariamente são obrigadas a procurar outro local por não ter mais espaço. "Desde fevereiro, a demanda aumentou em 80%", disse Amélia. A funcionária atribui esse aumento significativo ao fechamento em janeiro das três casas mantidas por políticos, que atendiam cerca de 150 pessoas por dia.
A casa tem 11 cômodos, os quartos, uma sala ampla, um refeitório, uma lavanderia e um oratório. Os custos mensais com a casa chegam a R$ 4 mil. A maior parte desse valor é paga com doações. Os hóspedes pagam apenas um valor simbólico de R$ 7 e precisam apresentar um comprovante hospitalar.
Importância das casas de apoio
Passo Fundo é um polo de saúde e por isso recebe centenas de pacientes de outros municípios diariamente. É o caso de dona Lídia Cecília Müller, de Campinas do Sul. Ela está fazendo tratamento de radioterapia contra um câncer no intestino há um mês e está hospedada na Casa de Apoio Vicentina. "É como se eu tivesse em casa. Eu não tenho dinheiro para pagar hotel. Fiz até amizades e vou sentir falta dos novos amigos", disse Lídia.
Ivanilde Lovera Levandosqi é do interior de Paraí. Sua filha de 23 anos sofreu um grave acidente de moto há 15 dias e teve de vir para Passo Fundo. No início, Ivanilde pagou um hotel, com diária de R$ 70. Sem condições financeiras, ela teve de procurar uma outra opção. "Não temos condições de pagar um hotel. Somos do interior. O próprio hospital foi quem nos indicou a Casa Vicentina", falou Ivanilde.
A Casa de Apoio Vicentina funciona na rua Uruguai, esquina com 20 de Setembro, 2.302, no Centro. Informações pelo telefone 3312 0996.
200 pessoas deixam de ser hospedadas diariamente
O secretário da Cidadania e Assistência Social, Adriano José da Silva, informou que com o fechamento das três casas de apoio mantidas pelos deputados em Passo Fundo aumentou o atendimento do Serviço de Assistência Social em 100%. No verão, o albergue recebia entre dez e 15 pessoas, atualmente está lotado e com falta de vagas. "Diariamente, cerca de 200 pessoas, na sua maioria pacientes de outros municípios, deixam de ser hospedadas", falou Silva.
O albergue está funcionando provisoriamente em uma casa alugada, na rua Silva Jardim, atrás do Hospital da Cidade, com uma capacidade reduzida para 15 leitos. Além do albergue municipal e da Casa de Apoio Vicentina, há o CACC (Centro de Apoio à Criança com Câncer), que tem capacidade para atender 66 pessoas (33 pacientes e 33 familiares). Atualmente, o centro tem cerca de 30 hóspedes. "Não estamos lotados porque atendemos apenas pacientes com câncer e por que o rodízio é grande", disse a presidente da Liga de Combate ao Câncer, Neli Formighieri, que admite que os atendimentos aumentaram em torno de 40% depois do fechamento das casas de apoio dos deputados. Desde fevereiro, a entidade abriu vagas para adultos com câncer. Os hóspedes recebem alimentação, hospedagem e material de higiene gratuitamente. O CACC está localizado na rua 10 de Abril, 205. O telefone é 3045 4560.
Obras do albergue municipal poderão iniciar na próxima semana
Nesta segunda-feira (7), o secretário de Cidadania e Assistência Social, Adriano José da Silva, deverá reunir-se com o prefeito Airton Dipp para a asinatura da ordem de serviço das obras de reforma e readequação do albergue municipal.
Segundo o secretário, depois da emissão dessa ordem de serviço, as obras serão iniciadas. "Possivelmente, elas começam nesta semana", disse Silva. O investimento é de R$ 127 mil e a capacidade de atendimento passará de 28 para 40 leitos. O término da obra está previsto para outubro.
Casa assistencial regional
As autoridades municipais estão estudando a criação de uma casa de passagem regional, que seria mantida com ajuda de todos os municípios que utilizam o serviço, mas que hoje não dividem a conta com a prefeitura de Passo Fundo. O secretário Adriano da Silva disse que já está marcada para este mês uma reunião com o presidente do Corede Produção, Eduardo Finamore, para viabilizar o projeto.