Glenda Mendes/ON
Todos os meses ocorrem, pelo menos, de 60 a 70 acidentes de trânsito com feridos no perímetro urbano de Passo Fundo. Deste montante, a maioria envolve motociclistas. No mês de abril, por exemplo, em que ocorreram 78 acidentes registrados pela Brigada Militar, 55 foram com a participação de uma moto. Na soma geral dos acidentes com lesões ocorridos até dia 31 de maio deste ano, 68,2% erma com motocicletas.
Uma das justificativas para este percentual é a maior facilidade de acesso a este tipo de veículo, aliado à imprudência dos condutores. “De uns anos para cá, a motocicleta se tornou um meio de trabalho, então temos uma quantidade de automóveis e motos muito maior do que anos atrás”, afirma o Major Gilcei Leal da Silva, do Corpo de Bombeiros de Passo Fundo. Além deste fator, o oficial atribui o envolvimento de motos em acidentes ao excesso de velocidade praticado por muitos condutores. “O grande número de acidentes se deve muito ao excesso de velocidade em que andam os condutores. Eles costuram no trânsito, porque precisam chegar a vários pontos da cidade de forma rápida, especialmente os que utilizam a moto para entregas”, saliente o major.
De acordo com ele, neste sentido, é preciso fazer uma separação entre os condutores que utilizam a moto para chegar até o local de trabalho ou estudo e os que as utilizam como meio de trabalho. “O problema é que entregadores de encomendas têm horários a cumprir e é claro que isso agrava a situação, pois aumenta o movimento de motos em acidentes, especialmente nos dias de chuva e finais de tarde”, destaca.
Frota maior, mais acidentes
Nos últimos anos, Passo Fundo sofreu um aumento significativo na frota de veículos que circulam diariamente nas ruas. Entendendo como veículos tanto os automóveis como as motocicletas e motonetas, estima-se que diariamente circulem de 90 a 100 mil veículos no perímetro urbano. Este número alto, considerando a população estimada de 190 mil habitantes no município, revela que circula praticamente um veículo para cada dois passo-fundenses. Em termos de mobilidade é possível afirmar que a frota facilita os conflitos de trânsito. Se for somada a esta situação a pressa dos entregadores, está configurado o cenário propício aos acidentes.
“Quem anda pelas ruas percebe que temos muitos veículos circulando. Aumentou tanto o número de motos, quando de carros e isso causa um maior conflito de trânsito. Além disso, o uso da moto para o trabalho e muita imprudência desses condutores que querem chegar rápido em determinados pontos da cidade, favorecem o excesso de velocidade e isso colabora para o índice de acidentes envolvendo motos”, ressalta o major.
Falta educação para o trânsito
Mesmo com todos os fatores agravantes, a imprudência ainda é o principal fator condicionante dos acidentes de trânsito. “A grande maioria, é por imprudência de condutores e pedestres, porque muitas vezes nós temos acidentes envolvendo motociclista que atropela uma pessoa, porque está fora da faixa. Na verdade, é uma questão de educação. Mesmo havendo um numero maior de veículos, está faltando educação tanto de condutor de moto e de veículo quanto de pedestres”, avalia Gilcei.
Para o major, a alternativa para diminuir os índices passa pelo investimento em educação para o trânsito. “É preciso tornar mais rígida a questão da formação dos nossos condutores”, ressalta o major. De acordo com ele, uma grande ganho está em vigor desde a semana passada, quando começaram as aulas práticas noturnas para obtenção da carteira de motorista. De outro lado, Gilcei questiona a impossibilidade de aulas em via pública para os condutores de motocicletas. “Hoje, para tirar a carteira para a moto, o treinando é feito dentro de uma quadra. Os alunos não saem à rua para dirigir moto, só saem depois que tiverem a habilitação. É um condutor que sai cru para rua”, salienta.
Sem ir às ruas
De acordo com a diretora geral do Centro de Condutores Planalto, Daniela dos Santos, a carga horária de aulas práticas para obtenção de carteira para conduzir motos é de 20 horas para quem vai encaminhar a primeira habilitação. “Essas 20 horas são feitas numa pista que não é na rua. É uma pista num local fechado, onde o aluno vai fazer o treinamento”, explica. Ela lembra que existe um projeto para levar o aluno para as ruas, mas ainda não se consolidou a forma de realizar este procedimento. “Como que um instrutor vai dar treinamento na via pública? Vai sentar na garupa? Como vai controlar este aluno? Essas são algumas questões que precisam ser consideradas. Não sei como isso se colocaria, porque é muito perigoso, como vamos colocar a coletividade em risco? Aulas em carros o instrutor tem os pedais para controlar o veículo, mas com a moto não existe este mecanismo”, comenta Daniela.
Dessa forma, o treinamento na pista procura impor obstáculos semelhantes ao que o condutor encontraria na via pública. “O treinamento é feito para que o candidato tenha demonstração de equilíbrio, por exemplo. Para isso, é feito um labirinto, um slalon, uma prancha, são colocados obstáculos na pista para que o aluno demonstre que consegue conduzir a moto com equilíbrio”, ressalta a diretora do CFC.
Prática suficiente
“Para questões de equilíbrio, de conhecimento, acho que são suficientes sim. Elas não deixam a desejar, porque não é tão fácil assim. É uma pista que tem vários obstáculos, uma pista diferenciada. Não é só andar para frente e para trás. Ela te traz dificuldades que no trânsito você teria”, argumenta Daniela sobre a suficiência ou não das aulas práticas e teóricas. Além do treino na pista, são ministradas 45 horas de aulas teóricas, com ênfase para os conhecimentos necessários ao motociclista. “Os alunos passam por toda uma teoria do que é ser um motociclista e depois eles vão para a prática. Eu acredito que isso é suficiente para o candidato, mas a educação dele depende também de dentro de casa, da escola, dele saber que não deve andar costurando e que a pista tem várias faixas, que cada faixa comporta um veículo e que não se deve andar no meio dos veículos”, ressalta Daniela.
Conforme ela, uma das faltas mais cometidas pelos motociclistas é andar entre os veículos. “O código de trânsito é bem claro: os veículos devem andar em uma faixa de trânsito, mas o que acontece é que eles andam no meio, porque são veículos pequenos, mas não que isso seja permitido”, afirma.
Os números
Nos primeiros cinco meses do ano, a Brigada Militar registrou um total de 337 acidentes com feridos. Deste total, 230 tinham motos envolvidas. Além destes, a Guarda Municipal de Trânsito faz os registros de acidentes sem lesões, o que aumentaria ainda mais este índice. Em janeiro, por exemplo, a Guarda atendeu outros 7 acidentes envolvendo motos, além dos 46 atendidos pela Brigada Militar.
Acidentes com motos sem lesão
Dados da Guarda Municipal de Trânsito
Janeiro – 7
Fevereiro – 12
Março – 17
Abril – 20
Maio – 11
Acidentes registrados pela Brigada Militar
Mês número total envolvendo motos
Janeiro 69 46 (66%)
Fevereiro 63 46 (73%)
Março 60 37 (61%)
Abril 78 55 (70%)
Maio 67 46 (68%)
Total 337 230 (68%)