O amor é REALMENTE cego

Apaixonados buscam no outro o reflexo de suas próprias referências e preferências

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Glenda Mendes/ON

Enfim, Dia dos Namorados. Dia para curtir a dois, fazer programas românticos, comemorar a paixão. Mas quem já parou para se perguntar o que é estar apaixonado? Por que as pessoas se apaixonam? De onde vem esse sentimento? Por que as pessoas procuram um par? ON assumiu o desafio e fez essas perguntas ao médico psiquiatra Carlos Hecktheuer.
A resposta a todas as questões é a motivação biológica da busca pelo acasalamento. "As pessoas, principalmente na adolescência, buscam a aproximação com o sexo oposto porque, instintivamente, estão em busca do acasalamento", explica Hecktheuer. De acordo com ele, isso não significa que fora do período da adolescência as pessoas não namorem ou não se apaixonem, apenas que neste período, a busca é mais intensa.
"Os adolescentes buscam o acasalamento, buscam uma parceria. Eles se apaixonam por uma questão biológica e porque buscam uma figura feminina ou masculina que seja algo semelhante, em alguns aspectos, aos pais", argumenta o médico. Isso significa dizer que procuram dar continuidade àquele relacionamento com a família, com os pais, que tiveram desde o nascimento, mesmo que inconscientemente. "É a busca pela formação de um lar, de um modelo com o qual conviveram, em que foram educados. É reconstrução daquela vida, mas afastando-se dos pais", salienta.
Entretanto, em um primeiro momento, a paixão segue à risca as afirmações dos ditados populares, que dizem que "o amor é cego" ou que "quem ama o feio é porque bonito lhe parece". De acordo com Hecktheuer, a explicação é a seguinte: "o primeiro momento da paixão, aquela que arde, que queima, praticamente o apaixonado nem vê o outro, tanto que dizemos que o amor é cego e a paixão, principalmente, é cega, surda e muda, porque a pessoa está tão inebriada, tão enamorada na verdade, de suas ideias, de seus próprios sentimentos. O que ela faz é uma projeção do outro, de todos os sonhos, devaneios e projetos que vem acalentando durante muitos anos".

O que fica depois da paixão
Conforme Hecktheuer, no momento da paixão, a pessoa não chega nem a reconhecer muito bem o outro. "Esse outro está muito colorido, tingido com as emoções da pessoa que se apaixona. Mas a paixão não é algo que dure a vida inteira. Ela dura alguns meses, quando as pessoas começam a despertar daquele sonho do apaixonado, do romântico e então começam a observar o outro", ressalta.
É quando o sentimento da paixão acaba que se percebe que o outro tem vida própria, ideias, sentimentos, gostos, preferências "e isso geralmente acontece em poucos meses. A paixão é efêmera, curta.
A pessoa desperta e começa a observar o outro. Aí aquele relacionamento pode ter continuidade ou não", completa Hecktheuer. Muitas vezes, o fim da paixão sentencia também ao final do relacionamento. "Isso é muito frequente e também não é ruim, porque a pessoa tendo vários relacionamentos, não banalizados, faz treinamento e vai aprendendo a se reconhecer dentro do namoro", explica.

Reapaixonar-se
Entretanto, mesmo sabendo que a paixão sempre acaba, nada impede que casais de reapaixonem. E isso pode acontecer várias vezes na vida. "Não cuidando desse amor, não preservando, não fazendo a manutenção, começa a envelhecer, desgastar. E o amor, esse enamoramento, acaba. Mas a pessoa pode voltar a se reapaixonar. Em qualquer idade", enfatiza Hecktheuer.

A vida começa aos 40
Quem afirma que a vida começa aos 40, está com toda razão, segundo o médico. É a partir dessa época da vida que as pessoas estão mais maduras para os relacionamentos, "A maturidade para um apaixonamento saudável vai começar depois dos 40. É aquele ditado antigo, e sábio, que a vida começa aos 40. Aí é que a pessoa tem mais conhecimento de si e isso é importante. Ela sabe quem ela é, se individualiza, se reconhece: 'Eu sou assim, eu tenho esses hábitos, eu tenho esses costumes, essas preferências'. Então ela busca uma outra pessoa que possa fazer um complemento, uma parceria. É um relacionamento mais maduro", argumenta o psiquiatra.
De outro lado, compromissos assumidos muito cedo tendem a turbulências. "Aqueles casamentos muito precoces, compromissos muito cedo preocupam, porque a tendência é que a pessoa, depois de alguns anos, perceba que o outro não era aquilo que imaginava, e então diz 'como o outro mudou'. Não é o outro que muda, na verdade, é a pessoa antes apaixonada que muda e percebe o que antes não enxergava", avisa. Mas, de qualquer modo, a paixão faz parte da vida, e em qualquer idade. "Apaixonar-se é ótimo, é gostar da vida, viver, ter projetos, ter planos", conclui Hecktheuer.

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