Paixão que se renova

Ele é o veículo mais popular do mundo e fica mais raro a cada ano. Aqueles que entram em um Fusca quase sempre se tornam um fuscamaníaco. Em Passo Fundo, a paixão é tão grande que existe um grupo de fusqueiros, que se reúne todas as semanas

Por
· 5 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Texto e fotos: Natália Fávero/ON

No próximo dia 22 de junho, o carro mais popular do mundo está de aniversário. Ele foi criado na década de 1930, e mesmo depois de quase 80 anos, continua apaixonando os seus donos. Quem tem não quer vender. Há quem diga que ele mais parece um brinquedinho de criança. O seu formato arredondado lembra um besouro. Muitos o chamam de carrinho. São vários os apelidos para se referir ao veículo Volkswagen, que em alemão significa "carro do povo", mais conhecido no Brasil, por Fusca. Em Passo Fundo, foi criado há dez anos o Passo Fundo Fusca Clube formado por cerca de 30 fusqueiros que se reúnem todas as semanas. Uma maneira de manter viva a paixão pelo veículo.

Em 2000, alguns proprietários resolveram comemorar o Dia Nacional do Fusca em 20 de janeiro. O primeiro encontro foi realizado em um posto de combustível e reuniu 24 carros. Depois disso, eles tornaram as reuniões cada vez mais frequentes. Atualmente, o clube tem 26 associados. Anualmente, o grupo promove o Encontro Sul Brasileiro de Fuscas e Derivados a Ar de Passo Fundo, que está em na terceira edição e que neste ano acontece neste final de semana, para comemorar o Dia Mundial do Fusca.

Semanalmente, o grupo reúne-se em um posto de combustível, na Av. Presidente Vargas, para colocar a conversa em dia e planejar a programação. Viajar é a atividade preferida desses fusqueiros que em janeiro percorreram 620 quilômetros até um encontro nacional em Curitiba, no Paraná. Sete Fuscas seguiram em comboio até o destino final. O diretor de comunicação do clube, Lúcio da Silva, contou que as pessoas ficam espantadas quando falam que vão viajar de Fusca. "Elas nos perguntam: 'Vocês vão viajar de Fusca? E chega até lá?'", disse Silva. Ao ser perguntado sobre a velocidade média da viagem, Silva desconversou e respondeu: "É o limite máximo que o Fusca anda. O pé sempre no porão. Alguns carros até tentavam andar atrás, mas não conseguiam acompanhar o ritmo", brincou o fusqueiro.

A mecânica simples com motor refrigerado a ar conquista os adeptos. O grupo estima que na cidade existam cerca de 500 Fuscas rodando e garantem ser o carro mais vendido. "Ele é o terceiro entre os novos e o primeiro entre os usados", garantiu o diretor de comunicação do clube.

Marcos Gazzoli, 75 anos, é um dos integrantes mais experientes do grupo. Ele já teve três Fuscas e o último está com ele há 32 anos. Ele explicou que esse carro tem o dom de encantar os proprietários e o público. "Sou um apaixonado por Fusca, mas não sei explicar de onde a paixão surgiu. É um amor sem explicação", explicou seu Gazzoli.
Os associados não precisam pagar para participar, basta ser apaixonado por Fusca. "Não é necessário ter um Fusca bonitão. Precisa ter apenas amor pelo carro", explicou Silva. Para os interessados em conhecer mais sobre o Passo Fundo Fusca Clube, basta acessar o endereço eletrônico www.passofundofuscaclube.com.br ou o blog oldersbahnvolks.blogspot.com.

Por que esse carrinho apaixona os seus donos?
O Fusca foi o carro em série com mais tempo de fabricação no mundo. Mantém outros recordes como o de quilometragem e de tempo de fabricação. Há 13 anos representava 30% da frota de carros no país e já foi o preferido por 83% dos brasileiros. Além disso, foi tema de livros e entrou para as telas do cinema.
Independente se for esportivo, modificado ou original, o Fusca sempre tem a cara do dono. "Não importa o modelo, ele sempre terá um detalhe que remete ao proprietário", disse o diretor de comunicação do Fusca Clube.
O Fusca branco e original de Igor Schneider Calza está na família há 33 anos. Em 2007, Igor se apossou do Fusquinha e o reformou todo, o que custou cerca de R$ 8 mil. "Não pretendo vender nunca. O carisma que ele tem não me deixa fazer isso", argumentou Calza.

Mais de R$ 20 mil investidos em um Fusca
O primeiro carro de Maurício Chiamente foi um Fusca, aos 18 anos. Anos mais tarde vendeu o carro para pagar as contas. Mesmo assim, a vontade de ter um Fusca não morreu. Em 2007, ele comprou um modelo ano 1976. Pagou R$ 3 mil e já investiu R$ 20 mil. "Ele foi todo reformado. Refiz a pintura, o motor, o estofamento, troquei as rodas, coloquei suspensão trabalhada, mas ainda não está do jeito que quero", disse o fusqueiro.

Um Fusca feito para rali
O Fusca ano 1979, de Jones Gonçalves, sempre foi da família. Há 15 anos ele o herdou e há seis ele o transformou em um carro de competição para participar de ralis. "A proposta não é vencer. A ideia é estar em contato com a natureza. Sempre tivemos o carrinho na família e procuro manter essa tradição", disse Gonçalves.

O Fusca fez Hitler sorrir
Quem poderia imaginar que esse carro apaixonante poderia ter sido uma ideia de Adolf Hitler. Em 1934, quando o ditador assumiu o poder na Alemanha, depois da 1º Guerra Mundial, ele solicitou a criação de um carro popular inspirado no Ford T, na época considerado um sucesso. No seu discurso de abertura do Auto Show de Berlim declarou que essa medida era prioridade para a indústria alemã. No mesmo ano, foi assinado um acordo entre a Associação Nacional da Indústria Automobilística Alemã e o seu criador, o engenheiro autodidata, Ferdinand Porsche.
O Fusca foi batizado pelo ditador de KDF Wagen, que em alemão - Kraft durch Freude- , significa força através da alegria. De tão carismático, o Fusca foi uma das poucas coisas que conseguiu arrancar um sorriso de Adolf Hitler.

Carro econômico
O ditador queria desenvolver um veículo com velocidade máxima de 100 km/h, pois as cidades eram distantes. Deveria enfrentar subidas de até 30% de inclinação, consumir 7 litros a cada 100 km (o combustível era caro e ele queria beneficiar a população). Teria de ter ainda espaço para no mínimo quatro pessoas, custar no máximo mil marcos imperiais e, principalmente, ser refrigerado a ar, porque nem todas as pessoas possuíam garagem na Alemanha e no inverno a água no radiador congela.

3º Encontro Sul Brasileiro de Fuscas e Derivados a Ar de Passo Fundo
O encontro será realizado neste final de semana, no Parque de Exposições Wolmar Salton. O evento deverá reunir 350 participantes do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e da Argentina. No ano passado, cerca de 4 mil pessoas foram conferir a exposição de Fuscas. A entrada é gratuita. Os fusqueiros interessados em participar podem se inscrever na hora, o custo é de R$ 15 mais um quilo de alimento não perecível. Os primeiros 200 inscritos recebem um kit de participação com troféu, camiseta, adesivo e brindes. O diretor de comunicação de eventos e um dos organizadores do encontro, Lúcio da Silva, disse que as pessoas vão encontrar além dos Fuscas, os demais carros refrigerados a ar. "Os visitantes encontrarão Fuscas, Kombis, TLs, SP2, Karmann-Ghias, Brasílias, Variants, Pumas, entre outros modelos", contou Silva.

Gostou? Compartilhe