Glenda Mendes/ON
Há 15 anos, O Nacional noticiava: “Anarquia organizada que deu certo”, parafraseando dona Eloysa Almeida na descrição sobre o sucesso do primeiro ano de atividades do Comitê da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. E foi assim que na tarde de quarta-feira, 14 de julho de 2010, dona Eloysa reforçava o que, para ela, representam os 16 anos de comitê. “Assim como foi manchete de O Nacional no nosso aniversário de um ano, continua sendo até hoje: uma anarquia organizada que deu certo. Anarquia, porque aqui recebemos muita sucata, coisa que para as outras pessoas não servem mais e que para nós rende trabalho e renda”, comemora dona Eloysa.
Há 16 anos, quando nascia o Comitê, dona Eloysa já acreditava na idéia levantada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, que sugeriu a criação de comitês em todas as cidades brasileiras para “dar comida a quem tem fome e agasalho para quem tem frio”, destaca dona Eloysa, que se diz não diretora ou coordenadora, mas uma voluntária do Comitê.
Dona Eloysa lembra que participou do lançamento, mas como passou um certo tempo sem que nada fosse desenvolvido, resolveu procurar a comissão e dizer que gostaria de dar continuidade ao trabalho. “Era juntar sobra de alimentos e levar em alguma vila pobre que eu pensava que devia ser feito”, comenta. Estava germinada a semente do Comitê da Cidadania.
O trabalho permanece sendo feito até hoje, 16 anos depois do lançamento. “Juntamos sobras de alimentos e sucatas. As sobras alimentam e as sucatas servem para serem transformadas em artesanato”, ressalta. E tudo que é produzido através do artesanato serve como fonte de renda das pessoas que recebem a comida e participam dos grupos de trabalho.
Um troféu aos voluntários
A obstinação de dona Eloysa fez escola no Comitê. Uma das alunas dessa disciplina é a dona Izaura Guidimi, que há oito anos trabalha todas as manhãs e tardes na sala que fica na antiga prefeitura. A ligação de dona Izaura com o Comitê começou logo depois que ela se aposentou, quando ouviu um alto-falante chamando pessoas interessadas em serem voluntárias.
“Depois que me aposentei, fiquei alguns dias em casa, mas queria continuar trabalhando. Então encontrei outro emprego onde fiquei por quatro anos, mas achava que estava ocupando a vaga de alguma mãe que precisava do dinheiro para sustentar os filhos e então resolvi sair do emprego. Fiquei seis meses em casa e não agüentei. Daí, escutei o ônibus do Comitê chamando voluntários e fui ver o que eles precisavam. No dia seguinte já vim para cá e estou aqui há oito anos. Passo o dia todo aqui”, conta dona Izaura.
E ela realmente faz jus ao significado de ser voluntária. Nem mesmo em dia de festa ela parou de fazer os tapetes, que conta ter aprendido a costurá-los ali mesmo no Comitê. “Aqui eu faço comida, atendo telefone, faço artesanato, lavo o chão. Não escolho o trabalho. O Comitê agora é a minha vida. Eu converso com as outras pessoas, desabafo, aprendo muitas coisas”, celebra dona Izaura.
Principal ação
Uma das principais ações desenvolvidas pelo Comitê em Passo Fundo é o aproveitamento de sobras de alimentos recolhidos e distribuídos. Para a realização deste trabalho, são contatados os possíveis doadores e organizados grupos nas vilas, que serão os beneficiados. O transporte desses alimentos é realizado cotidianamente.
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