Redação ON
No caminho inverso ao de muitos brasileiros em busca de sucesso lá fora, os senegaleses vêem no Brasil a possibilidade de trabalho, dinheiro e estabilidade. Desde o ano passado, quando o governo abriu a possibilidade de regularizar a permanência de estrangeiros no país, que o Senegal descobriu Passo Fundo. Foi uma obra do acaso, já que a cidade tinha o melhor acesso para agilizar o visto de permanência e o grupo poderia fugir das filas que se formavam nas delegacias da Polícia Federal de São Paulo e outros grandes centros.
Segundo informações da delegacia regional da Polícia Federal, mais de 380 senegaleses regularizaram a documentação em Passo Fundo e, pelo menos, 150 decidiram ficar. O Ministério do Trabalho emitiu 290 carteiras de trabalho aos estrangeiros até junho deste ano.
O presidente do Instituto Regional do Negro, Joel Souza dos Santos, acompanha o grupo. “Com a procura de documentação na Polícia Federal, alguns decidiram ficar por aqui. Os estrangeiros africanos dividem-se na área da construção civil, indústria alimentícia e trabalho informal, como vendedores ambulantes. Eles vêm ao Brasil como muitos brasileiros vão a Europa, em busca de qualidade de vida. Chegam com a ilusão de que se trabalharem aqui, mesmo informalmente, vão juntar bastante dinheiro”, comentou Joel.
Esse é o caso do senegalês Elhj Malick Maodo, de 27 anos, que chegou em Passo Fundo para regularizar a sua situação com a Polícia Federal e já esta na cidade há 7 meses. Maodo diz que pretende ficar aqui para juntar dinheiro e trazer sua família ao Brasil. “Não tinha problemas no Senegal, é um país muito bonito, mas eu quis sair de lá para construir minha vida no Brasil. Passo Fundo é uma cidade tranquila para viver e trabalhar. Tenho muita saudade da minha mãe e do meu filho de um ano, que ainda não conheço. Espero poder trazer eles para viver comigo aqui.” afirmou Maodo, que tem formação de carpinteiro e atualmente trabalha na construtora BSGF.
Além da construção civil, alguns senegaleses estão encontrando mercado de trabalho em empresas exportadoras de frango, como a Minuano e a Frangosul, que exportam para cerca de 100 países, incluindo países árabes, onde o frango necessita de um corte especial por questões culturais e religiosas.
Também há senegaleses se fixando em outras cidades e, por esta razão, surgiu a necessidade da criação de uma associação para o auxilio dos estrangeiros africanos. O projeto está sendo criado pelo presidente da associação Mahanthia Ciffe, que chegou ao Brasil em 17 de novembro de 1998. Ciffe, que mora há quatro anos em Passo Fundo, já passou por inúmeras cidades brasileiras como Rio de Janeiro, Uberlândia (MG) e Curitiba (PR). O projeto de criação da Associação Senegal Brasil, está em processo de registro e, em breve, a associação será legalizada através da Polícia Federal.
Segundo Ciffe, o pensamento de Maodo é o mesmo da maioria dos estrangeiros africanos. “Os senegaleses estão se adaptando muito bem no país e, em Passo Fundo não é diferente. Aqui todos estão empregados e tem recebido atendimento médico através do SUS. O dr. Júlio Stobbe do Hospital São Vicente de Paulo também tem nos ajudado muito. Nós gostamos muito da cidade e estar aqui é uma oportunidade de mostrar ao Brasil o nosso valor e a nossa cultura”, acentuou.
Religião
Na religião a adaptação da nova comunidade passo-fundense também aconteceu com facilidade. Cerca de 94% dos senegaleses são muçulmanos e o município já tem uma das maiores comunidades da religião no Brasil. A partir de um projeto do líder muçulmano Muhammad Lucena, uma mesquita já está em processo de construção. “Nós precisamos de um lugar para nos reunir para fazer as orações. A mesquita já está em construção e estará de portas abertas para quem quiser conhecer a nossa religião e os nossos costumes”, comentou.
Senegal
Colonizados pelos franceses no século XVII, o Senegal, localizado na África Ocidental próximo a Cabo Verde, conquistou sua independência em 4 de abril de 1960. A principal cidade do país é a capital Dakar. Com pouco mais de 13 milhões de habitantes, a língua oficial ainda é o francês e a moeda do país é o Franco CFA. Apenas 30% da população é urbana, a parte oriental do país é praticamente deserta, 54% da população está abaixo da linha de pobreza e a taxa de desemprego chega em média a 40%. Com clima tropical os senegaleses estranham o frio do sul brasileiro.