Direto do produtor para a merenda

Glenda Mendes/ON

Alimento fresquinho, saudável e de boa qualidade, que sai da agricultura familiar e vai direto para a merenda escolar. Essa é a realidade das escolas de ensino fundamental da rede municipal de educação desde que o ano começou. Através de um contrato firmado com a Agroleite, todas as semanas, cerca de 30 produtores da agricultura familiar são os responsáveis pelo fornecimento de diversos itens que compõem a merenda, tais como leite, bergamota e cenoura, por exemplo.
A experiência com a compra de produtos direto da agricultura familiar começou em junho de 2009, mas foi implantada como programa nas 36 escolas de ensino fundamental a partir deste ano. Porém, ainda em outubro do ano passado, as escolas de turno integral tiveram também uma experiência, recebendo alguns itens da agricultura familiar.
Claudio Canal, coordenador de Nutrição Escolar da Secretaria Municipal de Educação, conta que desde a edição da medida provisória, que depois foi transformada em lei, a secretaria passou a discutir com cooperativas, associações e demais segmentos envolvidos nas questões de alimentação para tratar sobre a inclusão desses gêneros alimentícios no cardápio da merenda escolar.
Assim, desde que o ano letivo começou, o prato dos alunos é composto por diversos alimentos que saem das propriedades dos pequenos produtores e são transformados em merenda escolar. "Hoje, são adquiridos dos agricultores familiares os hortifrutigranjeiros, como aipim, alface, batata-doce, beterraba, cebola, cenoura, tempero verde, repolho, feijão, bergamota, pipoca e pinhão, além do leite pasteurizado", comenta Canal.

Novidades
Quando a secretaria definiu a compra dos alimentos, uma parceria foi firmada com a Agroleite, cooperativa que agrega os produtores que fornecem os hortifrutigranjeiros para a merenda. A partir daí, diversas inovações começaram a fazer parte da alimentação dos alunos. Uma delas é o leite pasteurizado. "Antes era usado o leite em pó. O uso do leite pasteurizado é uma inovação", salienta Canal. De acordo com ele, era dada preferência para o leite em pó em virtude da praticidade de estocagem e transporte, mas com o fornecimento sendo feito pelos agricultores por meio de um cronograma de entregas semanais, foi possível fazer esta modificação.
Além disso, a inauguração de uma usina de beneficiamento de leite por parte dos associados da Agroleite possibilitou que o leite fosse embalado e pasteurizado dentro das normas de saúde e qualidade, facilitando o uso por parte das escolas.

Qualidade
Outra inovação foi a facilitação para que o alimento chegasse com ótima qualidade na escola e sempre fresquinho, "nós esquematizamos com os produtores a entrega direto na escola. São 36 escolas de ensino fundamental que recebem estes gêneros em um cronograma de entrega realizado três vezes por semana. Na segunda-feira, por exemplo, nós temos a entrega de tempero verde, na terça, do leite, na quarta, da beterraba, e assim por diante, com a entrega dos gêneros, semanalmente", explica Canal.

Investimento
Mensalmente, a prefeitura adquire uma média de 3.500 pés de alface, por exemplo, divididos em entregas semanais. "Um só produtor não teria condição de produzir esta quantidade. Da mesma forma o leite. Eles entregam o leite na usina para ser beneficiado e embalado. Então, para isso, existe a necessidade de que eles se reúnam em associações ou cooperativas para facilitar o processo", destaca Canal.
Dessa forma, em vez de um ou dois, cerca de 30 produtores estão sendo beneficiados com o investimento que varia entre R$ 28 mil a R$ 30 mil mensais por parte da prefeitura, destinados para a compra dos gêneros alimentícios da agricultura familiar.

Avaliação nutricional
Além da introdução de alimentos in natura na merenda, a secretaria deu início, em parceria com a Faculdade de Nutrição da UPF, a uma avaliação nutricional dos alunos. "Hoje ainda não temos um parâmetro para saber o que já mudou na questão nutricional dos alunos, mas este ano iniciamos o monitoramento nutricional de toda rede de ensino fundamental em parceria com a UPF. No próximo ano, com este acompanhamento, poderemos indicar se houve uma melhora nutricional", ressalta o coordenador.
De outro lado, Canal acredita na melhora da nutrição dos estudantes. "Nós acreditamos que sim, que já houve uma melhora, porque são gêneros in natura, direto da produção para o consumo. Como a distância de transporte é menor, por exemplo, o alimento fica menos vulnerável a algum agente que possa prejudicar ou contaminar o produto", exemplifica Canal.

Agricultores beneficiados
Hoje, são 34 agricultores que fazem parte do quadro de associados da Agroleite e que fornecem os alimentos para a merenda. Entre 12 a 14 produtores são responsáveis pelos hortifrutigranjeiros. Os demais são produtores de leite.
"Com certeza, esse investimento que a prefeitura municipal está fazendo traz inúmeros benefícios para os agricultores, porque eles produzem em maior quantidade, com melhor qualidade e entregam uma grande quantidade em um só local", destaca Dóris Borba Mareth, assessora de projetos da Agroleite.
Além disso, os produtores têm no convênio com a prefeitura uma venda garantida. "Isso dá segurança para os agricultores e são inúmeros os benefícios que esse trabalho está trazendo para eles", salienta Dóris.

Formação
Além da questão financeira, a Agroleite também tem uma preocupação com a formação e melhoria de qualidade dos produtos fornecidos. Na próxima terça-feira, dia 27 de julho, está marcado um encontro de formação com os agricultores, "especialmente aqueles que vendem para a merenda escolar justamente para aprimorarmos a qualidade dos produtos para poder, no segundo semestre, atender a demanda, que está muito boa", ressalta a assessora de projetos.
De outro lado, ela lembra o reforço que a parceria com a prefeitura representa na questão financeira dessas famílias. "Os alunos estão contentes, a Agroleite está sendo fortalecida e os agricultores estão satisfeitos com a produção e a venda que estão conseguindo fazer", avalia.
Estes aspectos aumentam o comprometimento da cooperativa com os produtores. "Encontros de formação representam o compromisso que a cooperativa tem com aqueles que fornecem os alimentos. Nós exigimos do produtor qualidade no produto que ele entrega, ou seja, que ele tenha higiene, organização. Para que isso ocorra, nós precisamos promover, dar condições, dar qualidade para este trabalho", afirma.
Segundo ela, este trabalho de orientação que a Agroleite promove objetiva dar condições para que "os produtores possam aprimorar cada vez mais essa venda preciosa que a gente faz para a prefeitura", enfatiza.