Construção civil tem falta de mão de obra

Carência preocupa setor que investe na profissionalização de novos trabalhadores

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Daniela Wiethölter/ON

As carreiras da construção civil, antes mal remuneradas e até marginalizadas, nos últimos anos estão entre as que mais empregam no município. As vagas abertas nas funções de carpinteiro, servente, azulejista, pedreiro e operador de máquina, e na área técnica e especializada, de engenheiros a topógrafos, registram maior déficit e provocam demora no preenchimento de postos.

Com um crescimento no número de empreendimentos novos na cidade, a carência de profissionais atinge tanto o segmento imobiliário residencial, como o de obras pesadas de infraestrutura. Segundo dados do Cadastro Imobiliário Municipal, que registra todos os imóveis legalizados de Passo Fundo, entre 2007 e 2008, o número de unidades cadastradas teve aumento considerável, chegando a duplicar, passando de 1.665 para 3.659 unidades neste período.

Para atender toda esta demanda, em 2009, por exemplo, o número de contratações aumentou mais de 10% em relação ao ano anterior. Na mesma proporção, também aumentou os salários dos trabalhadores. Conforme o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Passo Fundo, Edson Pereira de Freitas, o último dissídio da categoria foi reajustado em 10%. Freitas explica que o aumentou ficou acima da inflação, diferentemente de outras categorias de trabalhadores. “Se o empregador não oferecer mais, a tendência é que os trabalhadores busquem outras cidades ou ainda entrem na informalidade”, disse. Os salários variam entre R$ 567 a R$ 1.200, dependendo da função exercida.

Mural de vagas
A sede do sindicato é termômetro: são mais 40 ofertas de vagas de trabalho que demoram a ser preenchidas. São ocupações de pedreiro, carpinteiro, operador de máquinas e azulejista. Uma empresa, por exemplo, está há mais de dois meses recrutando um operador de máquina. O salário de mais de R$ 3 mil não foi o suficiente para efetivar a contratação do profissional que será responsável pela operação de uma máquina orçada em mais de R$ 1,5 milhão.
A mesma dificuldade é encontrada na Arruda Construções, que está à procura de oito pedreiros e serventes para trabalhar em obras do programa Minha Casa Minha Vida em Passo Fundo e Marau. Segundo um dos proprietários, Wilson dos Santos Arruda, o recrutamento iniciou há cerca de um mês e nenhuma vaga foi preenchida até o momento. “Mesmo não exigindo formação, não surge interessado. Até oferecemos a oportunidade de apreender conosco”, afirmou.

Disputando profissionais
A pouca oferta de profissionais em algumas funções e baixa qualificação dos candidatos estimularam a disputa entre as empresas na construção residencial. A abordagem, que acontece diretamente no canteiro de obras, intensificou-se desde 2009, quando foi criado o programa Minha Casa, Minha Vida. "As empresas ligam para o empregado ou o abordam no local de trabalho, oferecendo aumentos significativos", explica o presidente do sindicato dos trabalhadores. Pedreiros, azulejistas e mestres de obras estão entre os mais cobiçados.
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção (Sinduscon) de Passo Fundo, Emerson da Benvegnú da Rosa, explica que a falta de profissionais força a reduzir o ritmo de trabalho nos canteiros de obras. “Quando dependemos de mão de obra especializada a solução é mudar o cronograma de trabalho e esperar até que o profissional possa trabalhar conosco”, disse.
Atualmente, o sindicato dos trabalhadores estima que existam quase 1.500 empresas do setor da construção civil no município, empregando formalmente quase cinco mil trabalhadores, mas ainda existe uma estimativa de mais 800 profissionais que trabalham informalmente.

Novos cursos para formar mão de obra

Para suprir esta demanda, iniciativas, como os do governo do estado, de formar mulheres internas da Penitenciária Feminina Madre Pelletier estão sendo criadas como estratégia para a escassez. Desde junho, as detentas aprendem diariamente sobre alvenaria, revestimento de argamassa e placa cerâmica. Além de oferecer uma nova oportunidade de trabalho, as alunas terão uma redução na pena e ainda serão responsáveis por pequenas reformas na unidade.
Em Passo Fundo, o Sinduscon, Sindicato dos Trabalhadores e a Prefeitura mantém uma escola de formação, em parceria com o Senai-RS, para formar novos profissionais para o setor. Na primeira edição, realizada em 2009, mais de cem novos profissionais tiveram a oportunidade de se aperfeiçoar ou ingressar em um novo mercado de trabalho. Marcos Andre Guzela, mesmo já trabalhando na construção, participou da primeira turma de azulejista. “O curso foi muito bom. Me aperfeiçoei e ganhei mais espaço no mercado de trabalho”, disse.
Para 2010, ainda não foi definido quando devem iniciar as aulas, mas a lista de espera já ultrapassa mais de 50 interessados, entre eles quatro mulheres que já se inscreveram para o curso de pedreiro. As aulas, que são gratuitas, são ministradas pelo Senai, no turno da noite e tem duração mínima de 120 horas.

Técnico em Edificações
Na próxima segunda-feira (2), 30 novos profissionais iniciam o curso Técnico em Edificações, promovido pelo Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IFSul). Destinado à formação de pedreiros, carpinteiros, ferreiros armadores e assentadores cerâmicos, o curso tem duração de dois anos com aulas noturnas e ensino gratuito. Segundo o Chefe do Departamento de Ensino da instituição, Rafael Santos, o objetivo do curso é formar profissionais legalmente habilitados e qualificados para atuar na área da construção civil. “O currículo é fundamentado na correta utilização e aplicação das técnicas de funções específicas da construção civil e para a qualificação do processo produtivo”, explicou.

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