?EURoeCaos no trânsito é por falta de educação?EUR?

Sentença proferida por juíza passo-fundense chamou atenção pelo desabafo em relação ao trânsito na cidade. A magistrada foi ouvida por ON e reafirmou que a falta de respeito de motoristas e pedestres é o que mais lhe chama atenção

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Redação ON

Na fundamentação da sentença de um processo judicial envolvendo uma ocorrência de trânsito, a juíza titular da 4ª Vara Cível de Passo Fundo, Luciana Bertoni Tieppo, fez duras críticas ao comportamento de motoristas e pedestres de Passo Fundo. A magistrada surpreendeu até mesmo juristas ao escrever que a falta de respeito no trânsito foi o que mais chamou a sua atenção desde que passou a residir na cidade, em agosto de 2007. O desabafo, como ela mesma trata os apontamentos, foi parar no site Espaço Vital, editado e atualizado por dois advogados de Porto Alegre.

Ao publicar a decisão, datada de 15 de junho deste ano, o portal considerou que a juíza expôs abertamente a grave situação do trânsito na cidade. “Aquela que seria mais uma das tantas sentenças em casos envolvendo acidentes de trânsito merece destaque em especial por conter um forte e detalhado desabafo justamente de quem a proferiu: a juíza”, diz a matéria publicada no site, que disponibiliza a íntegra do processo. “Ninguém foi poupado das críticas da juíza Tieppo - motoristas ou pedestres -, pela falta de obediência as mais básicas regras de trânsito”, completa a notícia.

Nesta quarta-feira, a juíza Luciana recebeu a reportagem de O Nacional e reafirmou tudo aquilo que escreveu na sentença, explicando que o texto foi usado como uma forma de compartilhar o sentimento que tinha em relação ao comportamento dos usuários do trânsito em Passo Fundo.

A magistrada revelou que não esperava que os apontamentos provocassem tamanha repercussão, já que aquela não era a primeira sentença fundamentada por ela com relatos de situações cotidianas. Contudo, acredita que a publicidade do desabafo é importante porque compartilha o sentimento da maioria das pessoas que fazem o trânsito na Capital do Planalto Médio. “Espero que esse desabafo chame atenção das pessoas, porque se cada um fizer um pouquinho, podemos melhorar o trânsito e evitar perdas de vidas ou sequelas em acidentados. Creio que isso é mais importante do que chegar rápido a qualquer lugar”, afirma.

Confira a entrevista:
O Nacional – Porque a senhora decidiu utilizar o espaço de uma sentença para desabafar sobre o trânsito?
Luciana Tieppo -
Desde que passei a morar em Passo Fundo, há três anos, notei desrespeito no trânsito, de todos para com todos. Falta de educação de pedestres, motoristas, motociclistas. Tudo isso me chamou atenção porque nunca havia presenciado tamanha falta de respeito. Não que em outros lugares não haja desrespeito as normas de trânsito, isso não é privilégio de Passo Fundo, mas aqui o problema é gritante. As pessoas não sinalizam conversões, não deixam estacionar, param o carro no meio da rua para conversar, estacionam em frente a garagens. Tudo isso estava me incomodando e eu decidi escrever como forma de desabafo, mas também para chamar a atenção das pessoas porque é um problema de todos. Penso que, se cada um fizesse a sua parte, a situação melhoraria bastante.

ON – O que a senhora acha que poderia ser feito para que as pessoas passassem a cumprir as normas do Código de Trânsito?
LT –
Respeitar o trânsito é uma questão de educação. Motoristas e pedestres conhecem as regras, mesmo que não totalmente, basta colocá-las em prática. Além disso, faltam campanhas de conscientização e fiscalização para fazer cumprir a legislação.

ON – Nesses três anos em que a senhora está residindo em Passo Fundo, o trânsito passou por grandes mudanças, principalmente em relação ao monitoramento eletrônico. A senhora percebe alguma melhoria desde que chegou?
LT -
Sinceramente não. Penso que o novo sistema faz reduzir a velocidade, mas muitas vezes acaba punindo os condutores em situações injustas, em que a culpa não é só do motorista. Acho que o que funciona de forma mais eficaz é a presença física de um agente de trânsito. Dá mais resultado do que o equipamento eletrônico e a multa.

Alguns dos apontamentos da juíza na sentença:
- "Motoristas não param na faixa de segurança – nem mesmo nas proximidades das escolas para crianças atravessarem a rua."
- "Pedestres atravessam a rua fora da faixa de segurança, em qualquer lugar que lhes convém, contornando os veículos."
- "A maior parte dos motoristas não sinaliza a direção que irá tomar, nem mesmo quando vai estacionar."
- "Os carros são parados a todo momento, de inopino, por seus motoristas em filas duplas, impedindo a passagem dos demais veículos."
- "Há também os que resolvem andar a 10 ou 20Km por hora, passeando, em via de circulação rápida, trancando todo o trânsito. Isso é comum nos ‘bobódromos’ do final de semana."
- "Os condutores, ainda, têm o grave hábito diário de trancarem os cruzamentos e pararem nas faixas de segurança, sem contar a alta velocidade imprimida por alguns motoristas."
- "Ônibus, cujos motoristas representam empresas concessionárias de serviços públicos, são frequentes trançadores de cruzamentos."
- "Destaco, ainda, que raros os motoristas que deixam outro veículo ingressar da via não preferencial na sua frente ou trocar de pista."
- "Os motoristas param nas garagens, como se fosse totalmente permitido, sim, um local de estacionamento qualquer. Tal fato ocorre quase diariamente na própria garagem do Fórum."
- "E as motocicletas? Ah, as motocicletas! Ultrapassam os demais veículos pela direita, pela esquerda, pelo meio, andam em alta velocidade, cortam a frente de outros veículos, não respeitam os pedestres, carregam crianças no meio – sim, no meio, entre dois adultos, assim como um sanduíche."
- "Quando alguém buzina para evitar um acidente, recebe em troca um famoso gesto obsceno."
* O processo em que está escrito o desabafo está disponível no Tribunal de Justiça do RS, sob o nº 021/1.05.0007111-4. Em tempo: os réus do processo foram condenados a indenizar as vítimas do acidente por danos materiais e morais. Ainda cabe recurso.

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