Daniela Wiethölter/ON
Em Passo Fundo 1.575 crianças esperam vagas em escolas de educação infantil municipais e assistenciais, segundo relatório divulgado pelo Conselho Municipal de Educação na última semana. O número, referente ao primeiro semestre de 2010, equivale a praticamente 35% do quadro de matriculados no ensino infantil, que atende gratuitamente quase 4,5 mil crianças entre zero e cinco anos de idade. O município, responsável por 26 escolas, oferece 2.677 vagas. Já as escolas assistenciais, atendem 1.781 crianças em 20 unidades.
Apesar do grande déficit, o relatório apresenta um recuo no número de crianças excedentes. A redução de 7,1% na rede municipal e de 39% nas escolas assistenciais, aparentemente pode parecer um bom sinal, no entanto, a presidente do Conselho Municipal de Educação, Carla Corrales Garcez, revela que a diminuição foi provocada pela abolição das listas de espera. “O número de crianças que esperam por uma vaga é muito maior do que estes 1.575, porque grande parte das escolas deixou de fazer listas para não criar expectativas falsas aos pais que aguardam uma vaga”, afirmou.
Filas de espera
Nas escolas assistenciais, a redução de alunos que esperam por uma vaga foi bem maior. Conforme Carla, a lista de crianças caiu 38%, totalizando em 2010 um déficit de 425 vagas. No ano passado, quase 600 crianças ficaram fora das escolas assistenciais.
Com apenas 90 vagas, a Escola de Educação Infantil Rita Sirotsky, na vila Santa Maria, extinguiu a lista de espera para fazer uma seleção mais criteriosa das famílias que realmente precisam do atendimento. A coordenadora, Lidiana Scorteganha, explica que mesmo com a mudança, a procura continua. No entanto, o ingresso, que antes era por ordem de inscrição, agora passou a ser realizado conforme critérios de necessidade das famílias. “A procura é muito grande, por isso foi alterada a forma de cadastro. Agora uma assistente social visita as famílias para avaliar a necessidade da vaga”, explicou.
Maior demanda é para berçários e período integral
A maior procura na educação infantil é por vagas para crianças entre 0 e 2 anos em período integral. A demanda é a mais difícil de ser zerada já que o município prioriza o atendimento das crianças maiores, segundo a presidente. Nas 26 escolas municipais, existem apenas 481 crianças matriculadas, 17% do total de vagas ofertadas em toda a educação infantil. Na Escola Municipal Siloé Rocha Bordignon, única de educação infantil situada no centro da cidade, são 115 crianças na lista de espera, sendo que quase 60% aguardam por uma vaga no berçário.
Na escola assistencial Lar Ivone Terezinha Dall’Igna, do bairro Vera Cruz, a lista continua e, até a semana passada, mais de 50 crianças aguardavam por uma vaga. Localizada em um dos bairros mais populosos da cidade, a escola é muito procurada por oferecer atendimento em horário integral. “Não negamos ficha pra ninguém. Todos os pais podem fazer a ficha. Quando a gente pode atender, a gente chama”, relata a coordenadora Irmã Maria Aparecida Pimentel.
Matriculados
Os registros do CME mostram 2.677 matriculados em pré-escolas municipais, as Emeis (Escolas Municipais de Educação Infantil) em 2010. Se comparado ao ano de 2009, houve um aumento de 12,5% no número de crianças atendidas, mas a razão para o crescimento não foi a ampliação das escolas, e sim, a redução do número de vagas de turno integral. Segundo a secretária de educação, Vera Vieira, essa foi uma alternativa encontrada para atender um maior número de crianças. Em vez de a criança permanecer na escola o dia inteiro, oferecemos aos pais a possibilidade de optar por um dos turnos.
Vera argumenta que a medida beneficia especialmente as crianças entre 4 e 5 anos, idade que antecede o ingresso na educação fundamental. “Estamos priorizando as crianças maiores no sentido de prepará-los para ingressar no 1º ano”, explicou.
Mais vagas para 2011
Para atender ao grande número de crianças fora da escola, o município planeja a ampliação de duas escolas localizadas na periferia da cidade. Segundo a Secretária, as licitações para a contração das empresas responsáveis pelas obras já estão em andamento e, espera-se que para o próximo ano letivo, 300 novas vagas sejam criadas.
Na escola Francisco Biancini, no bairro Jaboticabal, que atualmente conta com 160 alunos, a previsão é dobrar o número de vagas depois da construção de cinco novas salas de aula. A Escola Amizade, localizada no Bairro Operária, também receberá cerca 120 alunos e três novas salas serão construídas até o final do ano. “A ideia é praticamente zerar a lista de espera nesta escola, que possui mais de 150 alunos esperando por uma vaga”, relatou.
Solução
Apesar do esforço do Executivo em ampliar o número de vagas, a presidente do Conselho afirma que a melhor solução para o problema seria aumentar e qualificar os convênios com as escolas assistenciais e os convênios com escolas mantidas por empresas. “A única saída é aumentar as parcerias, porque o município não vai ter pernas para construir tantas escolas para zerar este déficit”, disse.
As parcerias já existem com diversas escolas, mas ainda com recursos insuficientes para financiar o alto gasto da folha de pagamento e manutenção. Um exemplo disso acontece na escola Lar Ivone Dall´Igna, onde a estrutura possibilitaria aumentar mais 15 vagas, mas inviável pelo déficit de quase R$ 5 mil mensais no orçamento. Segundo a coordenadora Irmã Maria Aparecida, a escola recebe através de convênios apenas R$ 3 mil, mas o gasto ultrapassa os R$ 8 mil reais. “Como podemos aumentar o número de salas e contratar mais professores se precisamos contar com doações para pagar as contas do mês?, questiona.