Uma grande equipe de futebol... contaminada pela hepatite C

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Glenda Mendes/ON

O cenário é a década de 1970. Os atores são os jogadores do Sport Club Gaúcho. E a história é como a grande equipe daquela época teve o mesmo destino: a hepatite C.

Doença transmitida através do sangue, a hepatite C é considerada pela Organização Mundial de Saúde um problema de saúde pública. Estima-se que 170 milhões de pessoas no mundo estejam contaminadas pelo vírus. O número é quase igual à população brasileira. Se descoberta cedo, ela pode ser tratada através de medicamentos que podem zerar os efeitos dos vírus, mas se não diagnosticada em tempo, pode levar à morte. Em muitos casos, somente o transplante de fígado pode salvar a vida de quem é portador da doença.

“A hepatite C é uma doença de transmissão essencialmente sanguínea. Mas, pelo menos a metade das pessoas que chegam aos médicos com hepatite C diagnosticada pela primeira vez, não sabe como contraiu a doença”, alerta o médico Paulo Reichert, especialista em transplante de fígado. Ao longo dos anos de estudo da doença, foram identificados alguns grupos de risco, dentre eles, ex-atletas que atuavam nas décadas de 1970 e 1980. De acordo com Reichert, ”era prática nos anos 1970 e início dos anos 1980 usar injeções de estimulantes nos clubes profissionais. Na nossa região se usava uma medicação chamada Gluconergan, à base de glicose, vitaminas e estimulantes, tentando melhorar a performance dos atletas”, explica.

Até aí, tudo bem. Afinal, utilizar vitaminas com o intuito de melhorar o rendimento em campo era um dos trunfos utilizados na época. Mas o grande problema começa com a forma como aconteciam estas aplicações. “Na hora de entrar em campo, os atletas recebiam a injeção com a mesma seringa e a mesma agulha. Isso é conhecido como um fator de risco para a contaminação”, salienta Reichert.

E o mais triste na história é que “a maior parte dos nossos atletas profissionais que fizeram Passo Fundo conhecido pelo futebol, como uma cidade forte na atividade futebolística, foram contaminados. Muitos já perderam a vida por isso. Descobriram, sendo portadores de cirrose, ou outras complicações. Alguns descobriram a doença ainda em tempo de tratarem. Outros, foram transplantados aqui ou fora daqui”, destaca o médico.

Mas, segundo Reichert, nem todos os ex-atletas da época realizaram algum exame que detecte a doença que, se descoberta, pode ser tratada. “Muitos podem estar com o vírus e ainda nem sabem. A hepatite C é uma doença extremamente silenciosa. Se for esperar por sintomas, a pessoa vai descobrir quando a doença está muito avançada, com cirrose, complicações, porque ela não dá uma evidência clínica, é muito lenta, silenciosa e progressiva. É uma doença traiçoeira demais”, ressalta Reichert.

Essa reportagem especial está disponível na íntegra na edição impressa do Jornal  O Nacional desse final de semana

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