Ser criança é ser super-herói

Mundo infantil é repleto de fantasias. Dentre as preferidas, está a de ser super-herói

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Glenda Mendes/ON

Fantasiar é típico das crianças. Quando brincam, elas criam um mundo só delas, em que podem ser quem elas quiserem. É natural da criança se comparar com seus ídolos, sejam eles os personagens do desenho animado preferido, da série de televisão ou do livro. Querer ser infalível contra o mal, ter superpoderes, ou um cinto que contém os mais inacreditáveis acessórios, faz parte do crescimento e amadurecimento dos pequenos. E neste contexto, é bastante comum que elas queiram se vestir com roupas onde seus heróis aparecerem ou mesmo usar fantasias e máscaras que representem o personagem. Para algumas, basta um pano amarrado no pescoço para que imaginem estar usando uma capa que as ajude a voar, mesmo que só na imaginação.

E essas ações são até mesmo incentivadas, seja pelos pais, que presenteiam os filhos com bonecos, fantasias, ou roupas com os personagens, ou pelas atividades promovidas nas escolas, como no Colégio Notre Dame, por exemplo, em que a sexta-feira (8) foi dedicada ao uso de fantasias pelas crianças. Muito também é influenciado pela indústria, que lança linhas de brinquedos que se assemelham identicamente com os super-heróis dos filmes, quadrinhos e desenhos animados. A indústria de confecções também aposta diversas fichas na linha de roupas com estampas de Homem Aranha, Mulher Maravilha, Batman, Ben 10, Hulk ou qualquer outro que esteja dentre os desenhos mais vistos na televisão.

Com isso, a dúvida de muitos pais é se esse comportamento é saudável. Não só pelo vestir, mas por imitarem as ações, fantasiando lutas, confeccionando armas, detendo inimigos imaginários. Para alguns especialistas, o principal cuidado está em observar de que lado a criança se posiciona: bem ou mal. Se ela é quem salva a todos, busca a paz e a harmonia e está do lado do bem, pode-se considerar um comportamento saudável. O perigo está se ela imita as ações do bandido ou luta contra quem está do lado do bem. Mas para identificar como e dá a relação crianças e super-heróis, ON procurou quem entende do assunto e conversou com a psicanalista Rossana Stela Oliva Braghini. Confira.

O Nacional - É normal que as crianças, especialmente os meninos, se comparem e queiram ter os poderes dos super-heróis?
Rossana Braghini -
Sim, perfeitamente normal. Querer ter os poderes dos super-heróis, Batman, Homem Aranha ou Homem de Ferro significa querer para si a máxima potência fálica, traço de virilidade, que a criança acredita que seu herói tenha. A comparação faz parte da rivalidade, da prova concreta da eficácia fálica, para ver quem tem a maior força, o maior poder, maior tamanho. Se observarmos bem, podemos ver nos adultos os resquícios destes mesmos traços.

ON - Como os pais devem encarar esta situação?
RB -
Os pais podem encarar sobre dois aspectos: o primeiro é que no caso dos meninos (vejam a abundância de super-heróis masculinos, frente a poucas "mulheres maravilhas"), os pais devem encarar como fruto de seu desejo, sobretudo da mãe. Reconhecendo ou não, existe o desejo que o filho seja um herói, o "mais" alguma coisa. Um destaque naquilo que ele escolher, que recebe por isto todas as honras e excelências. O segundo aspecto é que a indústria do consumo, captando este imaginário, sabe muito bem como retroalimentá-lo a fim de reforçar enquanto ideal da cultura para estimular a venda de produtos relacionados, seja através de filmes, fantasias, brinquedos.

ON - No que se refere ao vestuário, é saudável o uso de fantasias e/ou roupas em que aparece a figura dos personagens heróis?
RB
- Não vejo por que não seria. É uma brincadeira. A brincadeira de ser outro (que não se é), o SUPER.

ON - O que precisa ser observado no comportamento dessas crianças?
RB -
Se persistir por um tempo muito longo a fixação num só super-herói, à exclusão de outras brincadeiras, talvez algo pode estar querendo ser dito que mereça ser escutado.

ON - Quando a situação precisa ser vista como problema?
RB -
As crianças desde muito pequenas têm noção do que é fantasia e o que é realidade. Assim se uma criança tomar atitudes que ponham em risco a si e aos outros, por exemplo, se quiserem se atirar de um prédio porque acreditam ser o Super Homem é hora de tomar providências.

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