Clarissa Ganzer/ON
Aos dez anos eles já têm mais intimidade com o computador do que uma pessoa de 40 tem com o celular. Conectados às novas tecnologias, mídias sociais e com acesso absoluto à informação, as crianças chegam à escola com uma significativa bagagem de conhecimento. Aí entram em jogo os desafios do professor. Despertar a atenção dos alunos, ser inventivo, pesquisador e estar em constante aperfeiçoamento.
Com mais de 20 anos de carreira, a professora Cibele Costa Hübner, 42 anos, conhece bem as dificuldades diárias da vida de docente. Influenciada pela tia, professora, pela mãe, professora de música, pela avó, que queria que ela seguisse a carreira e por um desejo interno, Cibele fez magistério e depois cursou artes plásticas. "A gente [educador] tem um dom. Sempre quis isso. Brincava de escolinha com as minhas primas e irmãs quando era criança", conta.
Ela afirma que educar é um desafio e comenta que os mestres devem ser empreendedores, inventar formas de chamar a atenção dos alunos, sendo criativos e incentivando-os a participar das aulas.
A afirmação da professora é revalidada pela coordenadora do curso de pós-graduação - currículo infância da UPF e mestre em educação, Sussi Menine Guedes. Ela argumenta que as crianças que ingressam no colégio atualmente estão muito envolvidas no mundo das tecnologias e do conhecimento e, por isso, é necessário que o professor esteja sempre buscando refletir sobre sua profissão e aprimorar sua formação.
Arte de educar
Ao logo de sua carreira, Cibele lembra de situações desafiadoras em que precisou ser criativa para estimular o aprendizado dos estudantes. Segundo a professora, logo que começou a dar aulas deparou-se com uma escola que não tinha salas suficientes para atender todas as turmas. Então ela foi obrigada a trabalhar no salão da igreja, lugar ocupado para velório e comemorações do bairro. "Os alunos não queriam ter aulas lá e tive que conquistá-los. Mostrei o diferencial do salão: o palco. Explorei o lado lúdico dos alunos, a contação de histórias, o teatro", exemplifica. Ela ainda acrescenta que os alunos não são acomodados como eram antes e querem novidades.
Crianças prodígios
E como estar preparado para esses alunos sedentos por novidades? De acordo com a mestre em educação Sussi é imprescindível que os professores estejam se aperfeiçoando. "A questão principal é a formação do professor para enfrentar os novos desafios do mundo contemporâneo, entra aí a questão da formação inicial do professor em nível superior e a formação continuada. Outra questão é ele ser um professor reflexivo e pesquisador sobre sua prática pedagógica", aponta.
E o salário, ó...
Entretanto para estar em constante aprendizado é necessário investimento, tanto intelectual quanto financeiro. Dados apontam (ver box) que as condições salariais dos professores não são adequadas e, obrigado a trabalhar em mais de uma escola para aumentar a renda, o profissional carece de tempo hábil para dedicar-se com excelência à profissão. Sussi avalia que o local de trabalho deve ser um espaço aberto para conversa entre professores e pais de alunos sobre essas dificuldades. "Acredito que isso compete um esforço coletivo da escola. Que no momento de trabalho do professor haja ocasiões em que ele possa se reunir coletivamente com os parceiros e os pais para dialogar frente a esses novos desafios que a escola apresenta hoje", diz.
Escola feliz
Na trajetória de Cibele, a escola teve um papel muito importante.
A professora, que será homenageada hoje pela Secretaria de Educação de Passo Fundo, na cerimônia do Professor Emérito 2010, salienta que recebeu muito apoio do município na sua formação. Enquanto na rede estadual o incentivo foi praticamente nulo, no municipal havia reuniões de estudo e parte da sua pós-graduação foi financiada pela prefeitura. "Receber esta homenagem me deixa muito orgulhosa e valorizada. A Secretária Municipal da Educação sempre me deu espaço e cursos", comenta.
A professora desenvolveu um trabalho com jovens cegos de 2004 a 2010 na sala de recursos da escola Wolmar Salton e também com adultos da Associação Passo-fundense de Cegos (Apace). Agora ela está afastada das salas de aula por motivos de saúde, que envolvem a deficiência visual.
Dados da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) do início de 2010 apontam que o Rio Grande do Sul paga salário inicial para professor de nível médio de R$ 862,80 por 40 horas trabalhadas.
No município, conforme edital de concurso de 2009, a remuneração para professores de nível superior é de R$ 857,18 por 20 horas trabalhadas.