Uma viagem à época dos calhambeques

A exposição de Veículos Antigos e Especiais que será realizada em Passo Fundo nesse fim de semana proporcionará aos visitantes uma viajem ao tempo dos primórdios da indústria automobilística

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Natália Fávero/ON

Calhambeques, velharias, banheiras, clássicos... Seja qual for o nome utilizado para se referir aos veículos antigos, nada define o amor que algumas pessoas cultuam por esses carangos. Mas o que esses carros das décadas de 1920 a 1980 têm de tão especial que fazem com que muitos sejam conservados em pleno século 21? A nossa reportagem conversou com alguns passo-fundenses apaixonados por essas relíquias e que estarão expondo seus xodós na Exposição de Veículos Antigos e Especiais, que acontecerá na UPF, nesse sábado e domingo (23 e 24/10), promovido pelo grupo Veteran Car Club.
A palavra calhambeque geralmente é utilizada para se referir aos carros antigos de modelos mais rústicos ou também, popularmente, para se reportar aos veículos em mau estado de conservação. Até o coração do rei Roberto Carlos se rendeu aos encantos do calhambeque na década de 1960. A música cantada por ele naquela época ainda serve nos dias de hoje para definir a paixão de várias pessoas que trocam os veículos modernos por clássicos da antiga.

Muitos dos automóveis tratados nesta matéria foram retirados do ferro-velho, mas a dedicação de alguns apaixonados por calhambeques transformaram os velhinhos em verdadeiros carangos. Por onde eles passam fazem sucesso e chamam a atenção pela sua lataria forte e detalhes que mais parecem obras de arte.
     
O ronco do motor que encanta
Diariamente o agricultor Valquírio Bassegio, de 41 anos, troca as botas da lavoura pela oficina na cidade. A paixão dele por carros antigos nasceu ainda na juventude. Há algumas décadas, Bassegio avistou uma Barata Ford 1946 do cunhado. Desde lá, a paixão só cresceu. “Vi aquele carro e achei uma loucura. Depois sempre quis ter um. Quando consegui adquirir o primeiro foi uma sequência”, disse o agricultor.

Em 1993, realizou o seu sonho. Comprou a Plymouth, 1942, em um ferro-velho. Os amigos duvidavam que ele conseguisse restaurar o veículo devido às condições em que o carro se encontrava. Foram três anos de restauração e cerca de R$ 60 mil. “Eu fiz viagens para o Uruguai, Estados Unidos, encomendei diversas peças e fabriquei outras”, conta.

Depois comprou uma Ford Pickup F100, 1959. Foram mais R$ 70 mil. Hoje tem 12 veículos, incluindo a coleção de Pickups da Ford. “Eles não têm um valor estimado em dinheiro, porque é uma conquista, uma paixão. Garimpar as peças e adaptar me satisfaz. Todo mundo gosta de um ronco de motor, desde as crianças até os adultos, é como se fosse uma paixão por futebol”, revelou o agricultor.

Outro apaixonado por carros antigos é o empresário Carlos Nino Feijó, de 43 anos. Além de um Galaxie 500, 1979, ele tem um Ford LTD 1976. “Já viajei para o Uruguai, pelo Estado, Santa Catarina e sempre estamos na estrada participando de encontros. Esses carros são uma cachaça: viciam”, disse Feijó.

“Sempre quis ter um carro igual ao do meu pai”
Oscar Graeff, de 75 anos contou que a paixão dele iniciou na infância, quando a família tinha um Chevrolet 1928. Atualmente possui seis veículos antigos.  Em 1963, comprou um Ford 1929. Após 10 anos, vendeu e comprou uma Ford Pickup 1958, com quatro portas e conversível. Nessa época se arrependeu e tentou desfazer o negócio, mas já era tarde. Anos depois adquiriu novamente um Ford 1929. Hoje ele tem seis veículos: dois Chevrolet 1928, um Ford 1929, uma Ford Pickup 1929, uma Pickup F100 1958 e uma F100 1963. Entre todos, o preferido de seu Oscar é o Chevrolet 1928. “Ele é igualzinho ao do meu pai. Meu pai passou o carro para um genro que depois vendeu e quando eu quis, não o encontrei mais”, disse.

Os filhos dele também colecionam carros antigos. “Os meus carros não têm preço. Penso em deixá-los para os meus netos”, declarou Graeff.

“Eu cresci com um Galaxie em casa”
O gerente de posto de combustível, Elvoni Piaia Junior tem um Galaxie 500, 1978, na garagem. Os bancos são restaurados, painel original, rodas e lataria impecáveis. O carro foi uma herança de um tio dele. “Eu cresci com esse carro na minha casa. Ele pertencia a um tio do meu pai que comprou zero quilômetro”, disse Junior.
Foram cerca de R$ 35 mil para reformar o veículo, mas o apego sentimental ao carro é maior que qualquer valor em dinheiro. “Não pretendo vender. O cara se apega”, revelou.

Exposição deverá reunir 400 veículos antigos
São esperados a participação de 400 automóveis no evento e um público de 10 mil pessoas. Entre os protagonistas da exposição estão veículos Chevrolet, Ford Pickup, Galaxie e Fuscas de décadas passadas. Já está confirmada a presença de dezenas de veículos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e da Argentina. Segundo o integrante do Veteran Car Club, Elvoni Piaia Junior o último evento realizado em Passo Fundo com raridades dessa envergadura foi em 1997. “Convidamos a comunidade para prestigiar o evento. Passo Fundo tem capacidade para realizar e prestigiar exposições como essa”, declarou Junior. Os proprietários de veículos antigos poderão se inscrever na hora e receberão um kit com brindes, ingresso para a festa dos anos dourados e certificado de participação. O automóvel precisa estar em bom estado.

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