Eder Calegari/ON
Há algum tempo as mulheres vem conquistando espaço em áreas antes tidas como, quase que “exclusivamente” dos homens. É assim hoje, por exemplo, na construção civil. Com a economia em crescimento e obras a todo o vapor, foi necessário contratar mão de obra feminina para construir casas e prédios. Agora imagine esta situação 20 anos atrás: 35 mulheres se atreveram a construir sonhos edificados não em concreto e ferro, mas talvez com a mesma rigidez e força destes materiais. Surgia ali um desafio para elas, o de ingressar na Brigada Militar. Como todo o grande empreendimento, o Pelotão Feminino também entra para a história da corporação.
Um vazo com flores brancas remete um olhar talvez, mais feminino, para a mesa onde trabalha a soldado Sandramara Dalatezze. Casada há 15 anos e mãe de uma filha de sete, ela divide o local de trabalho com outros soldados e tem a tarefa de fazer o despacho das ocorrências do setor de trânsito dos municípios atendidos pelo 3° RPMon, (Regimento de Polícia Montada) da Brigada Militar. “É um trabalho como outros. Tenho meu horário, divido minha rotina com a casa, família e as tarefas da corporação. Hoje atuo na frente do computador, mas já fiz policiamento na rua como tantos outros colegas de profissão” lembra a soldado que, natural de Rondinha, admirava a disciplina e os uniforme usados pelos dois irmãos do Exército em Uruguaiana, situações que motivaram com o apoio da família, o ingresso na BM.
A entrevista ainda não tinha terminado quando entra em cena mais uma figura desta história. Alegre e falante, a Soldado Miriam Canova da Rosa, 45 anos, trabalha no andar de cima do Regimento, na Corregedoria e desceu para falar sobre o Pelotão Feminino. Antes mesmo de entrar no fato que a motivou a deixar de ser professora em Sarandi para pertencer a BM, ela se gaba de ter conseguido mais do que uma profissão no Regimento. “Foi aqui que encontrei o meu marido” explicou aos risos. O caso merece um destaque. “Ele era o soldado mecânico aqui do quartel e na época nossa viatura era um Fusca e tu sabe né, Fusca às vezes da trabalho, tem que ir pra oficina” relatou. Brincadeiras a parte, Miriam é uma personagem marcante desta narrativa. Com o marido brigadiano e um casal de filhos, ela incluiu o menino de 16 anos no Colégio Tiradentes da BM mas não tem a certeza ainda de que um deles siga a carreira dos pais.
Das 35 mulheres que ingressaram no Pelotão Feminino do 3° RPMon em 1990, 20 foram ingressadas na região e 15 em Passo Fundo sendo que apenas seis delas ainda estão na cidade. Além das duas entrevistadas, permanecem a Sargento Patrícia Lourenço Leite Machado, as soldados Edenir Simone Carraro e Ana Regina da Silva Pimentel. No BOE (Batalhão de Operações Especiais) está a Sargento Tânia Aparecida Portela Ribeiro Santin que atualmente participa de um curso em Porto Alegre.
Na época em que fora criado, as mulheres da BM usavam saias e contavam com um espaço único para elas com alojamento e vestiário isolado. O prédio ficava atrás do 3º RPMon, espaço que hoje sedia o Pelotão de Operações Especiais. “Antigamente, quando o pelotão começou, as mulheres da BM faziam o trabalho mais leve, patrulhamento em escolas, abordagens nas praças e ruas. Ao longo do tempo houveram mudanças no quadro organizacional sendo que não há hoje nenhuma distinção entre homens e mulheres na corporação”, destacou a soldado Miriam.
Um pouco da história
Em 29 de outubro de 1990 foi incluída a turma do Pelotão Feminino. No dia 19 de julho de 1991, as integrantes se formaram em Porto Alegre. Em 10 de agosto do mesmo ano ocorreu a solenidade de incorporação do Pelotão Feminino do 3º RPMon. O pelotão foi equipado com uma viatura Fusca - prefixo 334, o qual era exclusivo para o patrulhamento da cidade. A partir do dia 12 de agosto as 35 Policiais Militares e a comandante do pelotão, tenente Simone Killian Braga, já atuavam em dois turnos no centro da cidade. Inicialmente estavam controlando o trânsito e atendendo demais ocorrências nas duas principais avenidas da cidade, a Brasil e a Presidente Vargas, conforme publicava a edição 18.555 de O Nacional.
Onde estão as demais policiais e comandantes hoje:
- Major Simone Killian Braga, Chefe da Seção de Ensino da APM em Porto Alegre, (era Comandante do Pelotão Feminino);
- Sgt Maria Terezinha Vedoy, 12º BPM - Caxias do Sul (Sgt do Pel. Feminino);
- Sgt Magali Terezinha dos Santos - Departamento de Ensino da APM – Porto Alegre,(auxiliar do Pel. Feminino);
- Ten Maria Mercedes Prates de Godoy – Dep. Saúde Porto Alegre;
- Sgt Cimari Oliveira Furquim – DE APM- Porto Alegre;
- Sgt Roselaine Severo Schmidt – CABM;
- Sgt Marli Terezinha Borges e Sd Lucélia Deon da Rosa, Reserva Remunerada;
- Sgt Saionara Mancia de Oliveira – DLP - Porto Alegre;
- Sd Iracema de Fátima Beker – Departamento Administrativo – Porto Alegre;
- Sd Loila Maria Dill Camargo, Sd Márcia Gomes Ferreira Raiter e Sd Dione Aparecida Rodrigues - BM de Santa Rosa;
- Sd Sandra Denise Pasqual – Não-me-Toque;
- Sd Teosana Brugnera – Ciríaco;
- Sd Marines Toniollo – Dep. Ensino -Porto Alegre;
- Sd Lazara Francisca Fonseca e Sd Vera Lúcia Moreira Gonçalves - Presídio Central - Porto Alegre;
- Lucimar Dal Bello, Julia Wink Rosa e Solange Piton estão na Susepe
- Giovana Ancines, Anália Justina Antunes, Telma Campos Souza, Marli Salete Garcia, Ana Rita Martins da Silva, Maira Salerte Berton, Nadia Ivania dos Santos Carvalho, e Roselene Schnadelbach Vay, Márcia Regina Favretto, Maria Urbano da Silva, Eliane Fante Baratieri, não pertencem mais a Corporação.
*A matéria na Edição impressa de hoje de ON.