Daiane Colla/ON
Convidado para participar de uma jornada hispano americana sobre fertilizantes, na cidade de Alicante, região de Valencia, Espanha, o professor e consultor Elmar Floss se deparou com uma região produtora extremamente rica, que ultrapassa as limitações de seu território para produzir alimentos para Europa e para o mundo.
Alicante é uma cidade de 400 mil habitantes, junto ao mar mediterrâneo, bastante rica, que tem como principal fonte de renda o turismo e a produção de uva de mesa. Essa uva é produzida em um local inóspito, já que a região é praticamente desértica, com solos pobres em nutrientes, pedregosos, com excesso de sódio e falta de umidade. Mesmo assim, eles conseguem produzir uvas de alta qualidade, mesclando a tecnologia dos mouros (que introduziram a irrigação) com a genética. “Todos os cultivos são irrigados, com sistema de gotejamento, para utilizar somente a água necessária e todos os nutrientes precisam ser fornecidos já que o solo é meramente um substrato para sustentar as plantas”, observa.
A alta tecnologia envolvida no processo garante que a média de produtividade seja de 35 toneladas de uva por hectare. Eles ainda utilizam tecnologia para garantir maior qualidade e rentabilidade. Floss explica como: “Como ela (a uva) amadurece em setembro e o preço cai, eles utilizam sacos de papeis especiais para cobrir as uvas e evitar que o sol as escureça. Os produtores também suspendem a irrigação. Ela fica protegida do sol e perdendo água, o que garante um altíssimo teor de açúcar. O processo prepara a uva para ser vendida no final do ano, quando o preço sobe já que a procura cresce”. Segundo o professor, a uva é tão doce que chega a parecer um melado.
Quando maduras, as uvas são cobertas por papéis especiais e não recebem mais água, com a finalidade de ampliar o teor de açúcar da fruta
Os três orgulhos espanhóis
O agronegócio espanhol possui três grandes orgulhos, segundo Floss: o óleo de oliva, o vinho, e o presunto pata negra.
Óleo de oliva
A Espanha é a maior produtora de azeite de oliva do mundo, com 2 milhões de hectares cultivados. Cerca de 20% dessas olivas são para conserva. O restante é utilizado na produção do azeite extravirgem, grande orgulho nacional e totalmente puro. “Toda essa produção é conduzida com alta tecnologia, com sistema de poda bem drástico, utilização de nutrientes e de irrigação para produção”, explica.
Floss relata que para o óleo ter essa qualidade, são feitas auditorias permanentes. Para a produção do extravirgem, é levado em consideração o momento ideal da colheita e a forma como o óleo é extraído, de forma a ressaltar todas as suas propriedades organolépticas. “O óleo é extraído a frio, sendo esse o original extravirgem”, garante. A segunda extração é feita a quente, originando o óleo virgem e a terceira com solventes, que dá origem ao óleo comum.
Vinho
O segundo orgulho são os vinhos. O vinho tinto espanhol é considerado um dos melhores do mundo. Todo ele é produzido nesse clima seco, com pouca chuva e solo infértil. “Também é utilizada irrigação. Para garantir um alto teor de açúcar, depois que a fruta amadurece, se suspende a irrigação”, explica.
Presunto pata negra
O terceiro orgulho dos produtores espanhóis é o presunto pata negra. A iguaria é ta importante que Madri possui um museu inteiro somente para ele. O famoso presunto, que pode custar até 80 euros o quilo, é produzido a partir de um suíno que durante a vida consome apenas água e um tipo específico de castanha, chamada bellotas. “Os suínos são criados ao ar livre. Depois de abatido, os pernis de porco são cobertos com uma grande quantidade de sal e curados a sombra, levando até três anos para ficar pronto”, explica.
Mar de estufas
Uma das cenas que mais impressionaram Elmar Floss, certamente foi o verdadeiro mar de estufas, que se estende por 40 mil hectares, entre as montanhas e o Mar Mediterrâneo. Segundo Floss, essa região era considerada a mais pobre da Espanha, com clima seco, solo pobre e falta de alimentos. Entretanto, na década de 60, o governo começou a instalar estufas para produção de hortaliças. De uns anos para cá, o espaço é destinado a produção de tomates, pepinos, berinjelas, pimentões, melancia, abobrinha, entre outras, todos 100% orgânicos.
Toda a produção é alimentada através da fertirrigação, que utiliza água desalinizada do mar e nutrientes naturais para garantir que a planta receba tudo que precisa para se desenvolver. Por se tratar de grandes áreas de cultivo, o risco de contaminação é altíssimo, observa o consultor. “Por isso, são utilizados indutores de defesa naturais, além de muita tecnologia.
A região que era considerada a mais pobre da Espanha hoje é uma das mais ricas. Produzir em 1,3 hectares custa cerca de 160 mil euros. Entretanto, o lucro chega a 100 mil apenas nesse pedaço de terra. Para o professor, o Brasil teria condições de seguir esses exemplos da Espanha. “Temos menos fatores limitantes, já que não há tanto problema com falta de chuva e nosso solo tem um bom nível de nutrientes”, destaca.