Glenda Mendes/ON
O diagnóstico de câncer certamente está entre os mais temidos pela maioria das pessoas. Para as mulheres, a situação fica ainda mais difícil quando ele vem associado à mama. Isso, por que em grande parte dos casos o tratamento e a cura pressupõe a retirada de parte da mama ou de toda ela, que são as cirurgias conhecidas como mastectomias. Na data em que se comemora o Dia Nacional de Combate ao Câncer, 27 de novembro, ON traz uma boa notícia: já é possível fazer a cirurgia de reconstrução de mamas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Passo Fundo.
Antes, para submeter-se à cirurgia, algumas mulheres entravam na fila de espera para realizar a cirurgia em Porto Alegre, com uma espera que durava, em média, de um a dois anos. Mas desde fevereiro, o ambulatório do SUS que funciona junto ao Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) realiza o mesmo procedimento. A iniciativa é do médico mastologista José Guerreiro, responsável pelas cirurgias. Segundo ele, a procura até agora é pequena, mas o grupo que realiza o procedimento acredita que o número de mulheres mastectomizadas e que poderiam procurar pelo procedimento seja bastante grande.
"Muitas vezes, os profissionais que tratam o câncer de mama não orientam as pacientes sobre a possibilidade de realizar uma cirurgia de reconstrução de mama, por isso acreditamos que procura não é tão grande", destaca Guerreiro. Segundo o médico, qualquer mulher que tenha retirado parte ou a totalidade do seio devido ao câncer pode se submeter à cirurgia de reconstrução. "Em qualquer caso pode ser feita a reconstrução. Fazemos uma avaliação, pois alguns casos requerem uma cirurgia grande. Por exemplo, numa paciente fumante e pesada, é mais complicado fazer retalhos da pele, mas existe a possibilidade de se utilizar um expansor ou uma prótese", explica.
Contudo, conforme Guerreiro, o aumento da incidência do câncer de mama em mulheres mais jovens lhes dá, com a cirurgia de reconstrução, a possibilidade de continuar com suas características físicas, mesmo depois de retirar parte da mama. "Tenho pacientes com vinte e poucos anos. Então, você retira a mama, cura o câncer e, digamos que ela viva até os cem anos, ela vai ficar 80 anos sem mama? Isso é uma mutilação, uma agressão contra a mulher", sentencia o mastologista.
A reconstrução
A reconstrução da mama pode ser imediata, que é aquela feita no mesmo processo da retirada do câncer; e a tardia, que é a realizada depois de tratamentos como quimioterapia, radioterapia ou mesmo anos após a cirurgia. "Na reconstrução tardia, sempre, o resultado não é tão bom como na imediata, porque se a mastectomia é feita no mesmo momento da reconstrução, é possível preservar partes da pele ou mama que serão utilizados para refazer o órgão", comenta Guerreiro.
Uma vez preservada a pele, o passo seguinte é o preenchimento, que pode ser feito com gordura do próprio corpo ou com a utilização de implantes. "Podemos fazer o preenchimento com a gordura abdominal, com a das costas, que é o grande dorsal, ou mesmo com próteses expansoras, que são preenchidas com líquido e depois substituídas por próteses de silicone. Além disso, existe uma prótese expansora definitiva, que depois de preenchida totalmente somente é retirado o 'caninho', conhecido como domo", salienta o médico.
Como fazer a reconstrução pelo SUS
Todas as sextas-feiras, às 13h30, e às terças-feiras, às 10h30, no ambulatório do SUS do Hospital São Vicente é realizado o atendimento para as mulheres interessadas em fazer a reconstrução. Para poder realizar o procedimento pelo Sistema Único, as pacientes precisam primeiro procurar o serviço para relatar o caso. Depois disso são solicitados alguns exames e verificações para que esteja apta à realização da cirurgia de reconstrução das mamas.
"Qualquer paciente que não tenha mama, ou parte dela, pode procurar o ambulatório e marcar uma consulta. Não é necessário indicação de algum médico. Depois disso, fazemos uma avaliação, pedimos alguns exames e verificamos em que estágio do tratamento contra o câncer ela está. Em seguida é marcada a cirurgia", explica Guerreiro.
De acordo com o médico, apesar de um único grupo realizar as cirurgias pelo SUS, cerca de dez procedimentos podem ser realizados por mês. Além disso, para os dias 25 a 28 de janeiro está sendo programado um mutirão de cirurgias de reconstrução da mama, que será realizado em Passo Fundo e contará com médicos convidados de diversas partes do país.