A Cantata que você não vê

Centenas de pessoas trabalham e se revezam para garantir o sucesso de um espetáculo emocionante que se renova a cada ano

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Leonardo Andreoli/ON

Horas antes do Início da Cantata Natalina do Notre Dame, dezenas de pessoas chegam à praça em frente ao Colégio para garantir um bom lugar para assistir ao espetáculo. De cadeira na mão, térmica e cuia,o público espera ansiosamente o escurecer. Eles não são os únicos. Por traz do palco e das janelas, os corredores da escola se transformam em um verdadeiro formigueiro. Centenas de pessoas se concentram e acertam os últimos detalhes para a apresentação.
O corre-corre que deixa um visitante inexperiente perdido é na verdade parte de um cronograma planejado e seguido à risca, minuto a minuto. Aos poucos, com as explicações dos organizadores, tudo começa a fazer sentido. Camisetas verdes indicam os monitores, as vermelhas o pessoal da dança, sem camiseta com a identificação da Cantata ninguém entra na concentração.

Pelo corredor, uma menina ensaia a frase que dará início ao espetáculo: “Rede Notre Dame de Educação e Congregação de Nossa Senhora apresentam a Cantata Natalina: Vem cantar a Alegria de Viver”. Treina o tom, ensaia com o microfone, mais uma vez. Uma mensagem de estímulo da Irmã Mirtes Helena Roman. Pronto.

Água controlada
Na capela, as crianças dos corais e os pais ouvem as últimas instruções antes da apresentação. Tudo é pensado. Até a quantidade de água é controlada para que nenhuma criança sinta vontade de ir ao banheiro durante a Cantata. A organização não esquece nenhum detalhe: as túnicas separadas por tamanho e os gorros dispostos ao lado de cada vestimenta facilitam a distribuição. Antes de saírem para se colocarem nos locais de apresentação, uma pausa para a oração.

Os pais das crianças que aparecem nas janelas precisam de atenção especial. Na capela são reforçadas as instruções que garantirão a segurança dos filhos. Os pequenos são presos por cintos de segurança e o pai controla o quanto eles podem ou não se aproximar da janela. Já a mãe é responsável por alcançar o objeto que a criança irá levantar. Para que ninguém se perca, caixas de som internas transmitem as orientações do diretor de cena. Ele controla quais e quando os grupos entram em cena.

Nos camarins
As salas de aula se transformam em camarins. Numa delas as mães esperam o momento de entrar em cena com seus bebês. Aline Mainardi cuida da pequena Ana Luísa, de apenas nove meses. “Estou achando bem interessante, é uma experiência nova, é minha primeira filha. O Natal mexe com as emoções de todo mundo, desperta o espírito de solidariedade”, revela. Ela é frequentadora assídua das Cantatas e costuma assistir todas as apresentações. “Estar do outro lado é uma experiência nova, ver os bastidores, saber o que vai acontecer. É bem diferente do que do que imaginava”, conta.

Último retoque
Mais adiante alunos ensaiam textos, um coral acerta o tom das vozes, as meninas da dança retocam a maquiagem. Um pouco tímidas com a câmera e os flashes que tentam capturar os detalhes, elas demoram a se soltar e falar. Júlia Maciel, 11 anos, retoca a maquiagem da amiga Rafaela Tondo, da mesma idade. Ela toma a frente e fala da expectativa para a segunda apresentação.  “Na primeira noite eu estava mais nervosa, agora estou tranquila”, afirma Júlia. Já Rafaela esperava com ansiedade a primeira apresentação. “É uma noite para celebrar”, resume

Estar feliz
Para Laura Grazziotin, de 12 anos, além da preparação para o espetáculo é preciso que as pessoas demonstrem os sentimentos durante a apresentação. “A Cantata é muito importante porque transmite paz, alegria e esperança para as pessoas que assistem. A gente tem de estar feliz para poder transmitir isso”, enfatiza.

Abertura
A abertura do show fica a cargo da banda dos Bombeiros Mirins. Daniella Toscani é mãe de aluno e voluntária da Cantata. A função dela é coordenar a banda para que eles entrem no momento exato. “Eles fazem a apresentação de abertura. Eles lancham, e depois eu os levo até o palco e retorno para liberá-los. É uma emoção muito grande, é um trabalho em equipe, de todos os colegas, de pais, para levar a emoção do Natal e o sentimento de amor para a população de Passo Fundo. Não existe salário pra isso. O que a gente recebe é a gratidão e o carinho das pessoas que se emocionam, ver as famílias que se reúnem para assistir. Esse é o maior pagamento”, garante.

Jesus sonolento
Enquanto espera a hora de entrar em cena, o bebê que representa o protagonista de toda a história aproveita para tirar uma soneca no colo da mãe, Tarciana Berton. Vitor Berton Zimmermann tem apenas 43 dias. Ele representa o Menino Jesus. O pai, Flávio Zimmermann, não esconde o orgulho. “Pra nós, com certeza, é motivo de grande alegria, ainda mais que o meu filho faz o papel do menino Jesus que é o grande personagem de toda a história. Sempre assistimos, mas nesse momento, fazendo parte como personagem, unir a família e participar de um papel importantíssimo é muito bom. No momento que a gente entra sente algo diferente, porque estar ao lado da plateia é uma situação, você participar como um personagem é diferente, a emoção é diferente”, revela. Para ele a Cantata é um evento que a cada ano se torna maior e enche a cidade e a região de orgulho.

Muita gente

Apenas os corais envolvem 300 crianças em cada edição da Cantata Natalina. Além dos estudantes da Rede Notre Dame, crianças de outras cidades vêm a Passo Fundo para se apresentar. É o caso do Coral de Nova Boa Vista, que tem uma parceria com o Notre Dame.

Os monitores estão por todos os lados e são responsáveis por manter a ordem. Inclusive na praça, 30 deles se empenham em ajudar as pessoas a se acomodarem e a preservar a decoração.

E quando não dá certo...
A organização do evento tem de estar preparada para qualquer imprevisto, inclusive para a possibilidade de cancelar a apresentação no último minuto e garantir que não haja confusão. Foi assim na sexta-feira (10). No momento de iniciar a Cantata, uma pancada de chuva molhou o palco e assustou o público. Uma reunião rápida entre os coordenadores, e a transmissão da mensagem pelos rádios garantiu que todo mundo se recolhesse com calma. De volta à Capela, a Irmã Irmã Mirtes Helena Roman, coordenadora dos corais, consola as crianças: “o tempo as vezes nos decepciona. Mas fica para nós o desafio de no dia 19 fazer um espetáculo ainda mais lindo”, conclui.

... todos trabalham para organizar um espetáculo ainda melhor
Essa é a promessa para a noite de encerramento da Cantata Natalina 2010. A última apresentação acontece neste domingo, a partir das 20h com a apresentação da Banda dos Bombeiros Mirins. Às 21h inicia a Cantata. Para a noite de encerramento estão preparadas algumas surpresas. Mas para entender porque um evento organizado por uma escola atrai pessoas de toda a região - e neste ano deve chegar à marca de 35 mil espectadores – é preciso assistir e ser envolvido pelo espírito da Cantata. A iniciativa já deu certo e se consolida como uma marca do Natal de Passo Fundo.

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