Calma, o mundo continua em 2011

Psicólogo diz que a motivação para deixar tudo pronto para o ano seguinte é uma tendência cultural para receber o Natal e o Ano Novo. Final do ano movimenta o comércio e aumenta o fluxo do trânsito em até 30%

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Clarissa Ganzer/ON

Você sai do trabalho para ir para a casa e fica alguns minutos preso no tráfego. Percorre as ruas do Centro da cidade e esbarra com outras muitas pessoas que estão por ali fazendo as compras de Natal. Chega ao lar, doce lar e olha para as cortinas da sala e pensa em mudá-las. Quando está escovando os dentes pela manhã, já está pensando em tudo que vai precisar para a ceia de Ano Novo. Almoçando, estrutura mentalmente o que ainda precisa resolver antes de 1° de janeiro: pagar o carro, terminar de comprar os móveis da casa nova, limpar aquele quarto cheio de coisas que você não usa mais. Aí, a sensação de que os dias que restam em dezembro definitivamente não serão suficientes para tudo que você acredita que tem que fazer lhe acomete subitamente. É, talvez, você esteja sofrendo de “neurose de compensação”.

Você sofre de “neurose de compensação”?

O psicólogo, professor e coordenador da Escola de Psicologia da Imed, mestre Luiz Ronaldo F. de Oliveira, explica que essa vontade de estar com tudo preparado para o próximo ano é uma tendência baseada na cultura ocidental cristã, em deixar tudo “pronto”, “limpo” e “arrumado” para receber o Natal e o Ano Novo. Essas são festas que exigem renovação, recomeço “e esta cobrança social cria a necessidade de fazer algo para demonstrar atitudes práticas e percebíveis”, avalia.

Ele alerta, por outro lado, que essas mesmas atitudes levam a pensar em um dispositivo psíquico denominado “neurose de compensação”, ou seja, tudo aquilo que não você não conseguiu realizar ao longo de um ano tenta fazer no fim dele. “São sentimentos e desejos que se desenvolvem ou se reforçam no fim do ano para fazer contrapeso a uma deficiência ou a uma tendência que é a fonte de descontentamento. As melhorias externas são possíveis, mas a internas exigem tempo, disposição e coragem, por isso que muitas pessoas ano após ano, se motivam só nesta época por meio das reformas e limpezas externas”, aponta Oliveira.

Ah, socorro!

É possível perceber esse desejo de finalizar o que não foi totalmente desenvolvido ao longo de 12 meses observando o intenso curso de veículos e o aumento das vendas no comércio. É um tal de corre-corre para estar com a casa, ambiente de trabalho e documentos em ordem para 2011. Segundo o coordenador de trânsito de Passo Fundo, Renato Langaro, neste período, o fluxo de automóveis aumenta 30%, já que pessoas da região vêm à cidade para encontrar o presente de amigos e familiares. “Pede-se muita paciência”, salienta.

O diretor de comunicação da CDL de Passo Fundo, Sérgio Giacomini, diz que a expectativa é que o comércio aumente de 10% a 12% em relação ao mesmo período do ano passado. Ele explica que em novembro e dezembro há um acréscimo de vendas em comparação com os meses anteriores. Isso acontece em função do 13° salário, que é usado para saldar dívidas e para comprar.

Aliás, Giacomeni lembra que há muitas pessoas que saem do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) nesse período. “As pessoas não podem comprar se estão inadimplentes, e às vezes, estão devendo R$80 ou R$100. Assim, pagam as contas”, diz.

Na ponta do lápis
Giacomini alerta que estimulado pelas ofertas de compras a prazo, clientes acabam gastando mais do que o orçamento pode comportar: não lembram dos juros, extrapolam nos gastos de férias e esquecem que no início do ano tem taxas permanentes que devem ser pagas, como IPTU, IPVA (para quem tem automóvel), a compra de material escolar na volta às aulas, entre outras contribuições inevitáveis. “Aí, as dívidas se estendem de novo no outro ano. As pessoas devem analisar e considerar esses gastos fixos. Projetar o quanto podem comprar e tentar economizar para pagar a vista”, aconselha.

O psicólogo também indica o planejamento para enfrentar as situações corriqueiras que se desenrolam ou surgem no ano seguinte. “A partir do momento em que o sujeito percebe que poderia ‘sofrer menos’ antecipando alguns afazeres, e começa a pensar sobre o comportamento, ocorre uma melhora no funcionamento psíquico e a ‘loucura’ de fim de ano será curada”, finaliza.

No ano que vem...
Fazer listas com resoluções de ano novo funciona?
“A organização externa, através de listas, é resultado da organização interna. As pessoas organizadas internamente não deixarão tudo para o fim do ano, mas estarão preparadas para enfrentar a correria possível da época. Planejar é saudável e exige maturidade psíquica, porém ao falar em organização voltamos à discussão sobre o comportamento, pois o que vivemos hoje é resultado da constituição psíquica inicial, que poderá melhorar sempre”, psicólogo, professor e coordenador da Escola de Psicologia da Imed, mestre, Luiz Ronaldo F. de Oliveira.

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