Natália Fávero/ON
Se depender do movimento que atinge o centro de Passo Fundo nessa semana, a expectativa de aumento de 12% nas vendas do comércio em relação ao natal passado devem se confirmar. O principal incentivador disso é a segunda parcela do 13º salário pago pela maioria das empresas na última segunda-feira (20/12). Parece que ninguém quer deixar de presentear as pessoas próximas. E essa vontade aflora principalmente nos dois últimos dias antes do natal. Segundo especialistas, a correria em busca de presentes na última hora é natural no ser humano que também aproveita para cumprir em poucos dias o que deixou de fazer no restante do ano. Economistas apontam para um natal com presentes maiores e mais caros. Sacolas e pacotes desfilam pelas mãos dos consumidores nas calçadas das principais ruas centrais.
O movimento em dezembro é muito esperado pelos comerciantes. Em dezembro é a época em que eles mais faturam. O mês começa tímido e aos poucos começa a mostrar a sua força que é percebida principalmente nos últimos dias que antecedem o natal. Desde segunda, o centro está literalmente fervendo. As pessoas andam de um lado para o outro em busca dos presentes e os esbarros são constantes. O número de veículos aumenta e o trânsito fica ainda mais difícil. As paradas ficam lotadas e as lojas abarrotadas de clientes. Os vendedores atendem de dois a quatro clientes por vez.
Os presentes passaram da tradicional lembrancinha para produtos maiores e mais caros. Eletroeletrônicos, como celulares, equipamentos de informática, eletrodomésticos, brinquedos, calçados e roupas são os preferidos dos consumidores. Segundo, o diretor de comunicação da CDL, Sérgio Giacomini, o pagamento à vista é o mais recomendado, mas facilidades de crédito e prazos convidam as pessoas a gastarem e comprarem mais produtos. Os clientes inadimplentes também aproveitam o dinheirinho a mais no final do ano para quitar as dívidas e comprar novamente no comércio.
A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Passo Fundo está agraciando os consumidores com a promoção Natal dos Sonhos com a premiação de TVs e a federação do órgão com 10 carros até março, além de R$ 80 mil em barras de ouro.
Pessoas de outros municípios também estão na cidade e aproveitam para fazer as compras. O farmacêutico Lorinei Silveira de Cruz Alta é um exemplo. “Estamos passando pela cidade e já aproveitamos para fazer as compras de última hora”, disse Silveira.
Os comerciantes agradecem. O gerente de uma loja de celular na Avenida Brasil, Daniel Porfiro, disse que em relação a semana passada o faturamento aumentou 25%.
Aumento do poder aquisitivo
A economista, doutora em Economia e professora da UPF, Cleide Fátima Moretto, afirma que o cenário atual é conseqüência da melhoria do poder aquisitivo das pessoas e o aparecimento da nova classe média. As pessoas que não podiam comprar em anos anteriores, hoje fazem isso facilmente porque o poder de compra é muito maior. Isso é resultado de uma série de mudanças na distribuição da renda nos últimos quatro anos, mais especificamente nos últimos dois com um ganho no salário real.
Produtos que antes eram sonhos de consumo são comprados com preços razoáveis nos dias de hoje, considerando as facilidades dos parcelamentos que chegam em alguns lugares em até 12 vezes.
Outro motivo citado pela especialista é a configuração da nova classe média, conhecida como classe C. Os rendimentos dessas famílias aumentaram e hoje circulam entre R$ 1 mil a R$ 2,5 mil brutos mensais. “Isso faz com que as pessoas possam comprar presentes mais caros e não se limitam mais a comprar só o básico como antigamente. Reunindo todas essas condições e mais o 13º salário fica fácil gastar”, explicou.
Por que as pessoas ficam enlouquecidas nesse período?
O psiquiatra Carlos Hecktheuer, explicou que no final do ano é um período em que as pessoas aproveitam para fazer tudo aquilo que não fizeram no tempo regular. Querem manifestar a sua gratidão através dos presentes, os seus desejos e projetos. “Elas se sentem tocadas com o final do ano e ao mesmo tempo com um novo ano que se aproxima. É um período de instabilidade. As pessoas ficam agitadas, confusas e até desorientadas”, disse o psiquiatra.
Hecktheuer explicou que esses dias são iguais aos outros, mas o afeto e as emoções se sobrepõem a racionalidade.
Natal movimenta comércio e mexe com o emocional das pessoas
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