Leonardo Andreoli/ON
A Polícia Civil continuou na tarde de ontem a realização das perícias na casa do casal assassinado na madrugada de terça-feira em Mato Castelhano. O inquérito ainda não está concluído, porém o principal suspeito do crime ainda é o filho das vítimas - um jovem de 21 anos. Em depoimento o acusado defendeu a versão de que a casa teria sido invadida por ladrões que mataram os pais e o amarraram no banheiro. Os vestígios no local não sustentam a hipótese.
Pessoas que conheciam a família afirmam que a convivência era harmoniosa e nunca viram problema no relacionamento entre os três. Se a investigação confirmar a autoria do duplo homicídio pelo filho restará uma dúvida: por quê? Para tentar entender que mecanismos psicológicos levam as pessoas a cometerem este tipo de crime ON conversou com o psiquiatra Carlos Hecktheuer. Em uma explicação geral, já que não é possível fazer uma análise completa sobre este caso em específico, ele aponta quais motivos podem levar alguém a assassinar os pais.
Transtorno psicológico
A primeira hipótese levantada pelo médico é de que a pessoa tenha alguma doença emocional, principalmente na adolescência quando quadros psicóticos são mais comuns. Se este fosse o caso é provável que a pessoa já tivesse manifestado sintomas no comportamento que pudessem comprovar a tese e que só poderiam ser confirmados conhecendo a vida pregressa do autor do crime.
Confusão de sentimentos
Hecktheuer explica que os pais são pessoas muito próximas às quais é direcionada uma carga afetiva de muita intensidade. “Essa troca de emoções e afeto nem sempre é só de amor, ela também pode ser de ódio, de rancor, de mágoas, e isto numa pessoa que não elabora, que não trabalha muito bem com suas emoções agressivas, pode levar a uma fúria, a um estado de perda da razão”, esclarece.
As pessoas têm em relação aos pais situações de conflito que nem sempre são reais. Muitas vezes, mesmo com pais carinhosos, afetivos e tolerantes a pessoa pode registrar as condutas e o comportamento dos progenitores de uma forma diferente daquela que ocorreu. “Isso faz com que seja armazenada toda essa energia agressiva e ela pode se manifestar sem nenhuma razão aparente, a não ser dentro das fantasias, das imaginações, do mundo interior da pessoa”, acrescenta o psiquiatra. Tudo isso é parte de um processo e não acontece numa única ocasião.
Externar conflitos
Agredir pessoas próximas é também uma forma de externar os conflitos intensos que não foram trabalhados. “Às vezes a pessoa tem estado psicológico seriamente alterado e veja nos pais elementos ameaçadores. O que chama a atenção, é que vizinhos não relatam brigas ou agressões. Parece que a família vivia em certa harmonia. Não deveria ter sido assim, a não ser que tenha ocorrido um surto, uma crise extremamente aguda de paranóia, de sentimento de perseguição. Esses quadros agudos, violentos repentinos são muito raros. E também não tem essa coisa do preparo”, compara.
Os indícios coletados pela polícia mostram que o acusado teria tentado forjar um assalto, inclusive amarrando-se no banheiro da casa. “Fico na dúvida especificamente do caso, sobre as razões. É possível que tenha ocorrido premeditadamente um crime, mas calcada em reações emocionais de muita mágoa, rancor, de sentimentos ameaçadores. Isso não isenta quem cometeu o crime de responder pelos seus atos”, reforça.
Diferença de crimes
Os motivos que levam as pessoas a cometerem crimes são diferentes em cada circunstância. Num momento de emoção intensa em que a pessoa se sente ameaçada, por exemplo, ela reage em defesa da integridade. Nestes casos não há uma premeditação para o crime.
O assassino também morre
Por fim o médico esclarece que quando uma pessoa assassina os pais ela acaba matando, dentro dela, partes importantes da vida. “Ela está se matando, mas é uma morte em vida, o indivíduo mata dentro dele mesmo pessoas de extremo significado e isso não volta mais, isso danifica de forma irreversível”, finaliza.