O lixo que virou carnaval

Texto e fotos: Clarissa Ganzer/ON 

Papéis, CD´s caixas de leite, anéis de latinhas de alumínio compõem parte das cerca de 200 fantasias que vão vestir os integrantes da escola de samba Semente do Samba. Latas de tinta e garrafas pet se transformam em instrumentos de percussão tocados por cerca de 70 crianças e adolescentes na avenida. 

Este ano, pela segunda vez, a Semente do Samba vai abrir o desfile do carnaval de rua de Passo Fundo. Cerca de 200 crianças e adolescentes de 6 a 16 anos de aproximadamente dez bairros da periferia participam do projeto.Desenvolvido pela Secretaria de Desporto e Cultura (Sedec), a Semente do Samba, é resultado de oficinas de arte e de música trabalhadas durante todo o ano com diferentes comunidades da cidade. As oficinas começaram em 2006, uma vez por semana cada oficina.  

Lixo tecnológico 
Em 2011, o tema da escola é “Lixo tecnológico e consumo”. A artista plástica que trabalha na Sedec com as oficinas de arte com os moradores dos bairros e na confecção das fantasias, Bruna Lamaison, explica os adereços começaram a serem feitos em novembro do ano passado. “Primeiro escolhemos o tema e depois começamos a fazer as fantasias. Não podemos complicar, porque elas têm que ficar confortáveis. Muitos materiais foram reaproveitados de 2010”, diz. 

A maioria das fantasias são confeccionadas em um pavilhão na própria secretaria e outras são feitas nas comunidades. Aproximadamente 20 pessoas estão envolvidas no processo de composição de 200 fantasias. 

Conscientização
A coordenadora do projeto pela Sedec, Eliana Bortolon, afirma que a intenção é que a separação e cuidado com o lixo se transforme em uma campanha permanente na cidade. “Nós estamos caminhado neste projeto há dois anos e sabemos que é difícil, porque ele envolve que a gente aprenda a separar o lixo, que o guarde em casa. Nós produzimos muito lixo. O legal é que a gente possa fazer arte com isso. A escola é barata, no sentido de recurso financeiro, e é muito bonita pelo significado que ela tem”, argumenta. 

De acordo com o coordenador de arborização de Passo Fundo, Paulo Pinheiro, o aterro de Passo Fundo recebe diariamente cerca de 130 toneladas. Existe mais lixo que é reciclado ou se perde em terrenos baldios, por exemplo. Um estudo nacional diz que cada pessoa produz em média 900 gramas de lixo por dia.
 
O som que vem da lata 
Paralelamente a composição do vestuário, o músico Marcelo Pimentel ensaia com meninos e meninas de 6 a 14 anos nos bairros de Passo Fundo. A bateria da escola é formada por cerca de 60 a 80 crianças e adolescentes do loteamento José Alexandre Zacchia, loteamento Joboticabal, vila Tupinambá, bairro São Luiz Gonzaga e vila Santa Marta.

O som é proveniente de latas de tinta e chocalhos de garrafas pet. O morador do loteamento José Alexandre Zacchia Eduardo de Lima Araújo, 9 anos, exibe com orgulho seu instrumento feito de lata. “Essa é a minha segunda vez na escola. É legal”, avalia o garoto. A cozinheira da escola onde o grupo do Zacchia ensaia, Rosane de Lima, 44 anos, comenta que a atividade ocupa os garotos, que no período de férias poderiam estar na rua. Ela é a responsável por abrir o ginásio da instituição para os treinos.  
 
A apresentação 
A Semente do Samba, que a abre o desfile de rua, se apresenta dia 5 de março, às 20h30. O desfile começa na Coronel Chicuta, esquina com a Sete de Setembro. Cerca de 60 crianças devem participar das alas e o restante integra a bateria. A novidade do desfile este ano, segundo Eliana, é a participação de um bloco de grupos da terceira idade, depois da entrada da Semente do Samba. Mesmo tendo todas as partes de uma escola de samba: bateria, comissão de frente – os grupos não concorrem com as demais escolas.