Daniella Faria/ON
O caso da venda de um recém nascido pelos pais para usar o dinheiro para comprar crack chocou a comunidade. Entretanto, segundo o secretário de Cidadania e Assistência Social, Adriano José da Silva, o abandono de filhos por causa das drogas tem se tornado freqüente nas casas de acolhimento do município. Hoje, cerca de 50% dos acolhidos foram deixados pelos pais em troca da droga.
Atualmente 49 crianças e adolescentes estão acolhidos nas três casas existentes na cidade. Na Casa Roberto Pirovano Zanata há 20 crianças, sendo que destas, 11 foram deixadas pelos pais em troca da droga. Silva revela que todos os nove recém nascidos em posse do município também foram abandonados por essa condição. “Há seis anos se falava muito nos futuros filhos do crack. Hoje essa já é uma realidade”, ressalta.
A situação tem se agravado há cerca de um ano. O secretário conta que quando assumiu a gestão o número de adolescentes do sexo masculino dependentes da droga era maior. Hoje esse número já se equivale com o feminino. O agravante dessa alteração é que as meninas se prostituem em troca de uma pedra de crack e, às vezes, são abusadas sexualmente sem terem noção do que estão fazendo. Essas mulheres, muitas vezes ainda adolescentes, engravidam e não sabem o que fazer com o filho e com o vício. Isso acaba gerando um caos familiar e social. “Causa problemas psicológicos sérios nessas meninas. Elas são acolhidas quando nos procuram, mas voltam para a rua e, quando estão na última, voltam a procurar ajuda”, destaca.
A faixa etária de mães que abandonam os filhos varia, mas a grande maioria se concentra entre 22 e 34 anos. Alguns bairros têm se destacado em relação ao problema, como o Integração e Donária. Outros três também aparecem com um número um menor: Záchia, Cruzeiro e Santa Rita. “Encontramos muita dificuldade de atuar nesses locais pelo grande número de crianças. Para conseguir efetuar um trabalho nessas comunidades para que elas usufruam todas as políticas do município demora. Esse é um problema muito sério e que temos que reduzir. Temos que trabalhar a prevenção”, enfatiza.
Acolhimento
As crianças recém nascidas, na maior parte, foram encontradas abandonadas nas ruas. Algumas foram levadas até o Conselho Tutelar. Para encaminhar o acolhimento institucional é feito um relatório por parte de uma equipe técnica, através de uma psicóloga e uma assistente social. O relatório é encaminhado à Justiça e depois a Semcas é acionada para fazer o acompanhamento familiar e tentar restabelecer os vínculos. Enquanto a criança fica em posse do município ela recebe o amparo de médicos, monitoria, controle de vacinação, escola, creche, comida e roupa. “Entretanto, temos observado que há muita dificuldade de restabelecer os vínculos de pais que abandonaram os filhos por causa da droga”, ressalta o secretário.
Realidade
Silva relata que em dezembro do ano passado a juíza substituta determinou a volta de uma criança para os pais biológicos que eram usuários de droga. Eles estavam há seis meses em tratamento no CAPs AD,onde houve todo um trabalho para que a criança voltasse para casa. No dia em que foi marcado o retorno do filho a mãe sumiu e foi encontrada em uma boca de fumo. O filho voltou a ser acolhido novamente. “Existe uma vontade por parte dos pais biológicos de ter o filho de volta, mas a droga fala mais alto do que o amor que eles sentem pela criança”, justifica.
A situação acaba se tornando constrangedora para os trabalhos realizados pela Secretaria pelo fato de que a lei determina que a criança tem que voltar aos pais biológicos. Somente depois de esgotada todas as alternativas ela é encaminhada para a adoção.
O que está acontecendo hoje é que as famílias fazem o tratamento, são realizadas visitas tuteladas, as crianças voltam para os pais, que em seguida tem uma recaída e o filho volta para o acolhido. “O tempo vai passando e as chances diminuem com o passar da idade”, diz. No ano passado, de 20 crianças acolhidas, somente três conseguiram retornar para os pais. Destas, 10 foram encaminhadas para adoção.
Adolescentes
Quanto aos adolescentes a situação muda de foco. Como eles são as vítimas do crack, os pais acabam encaminhando para o município por esgotar as tentativas de recuperação. Pelo menos duas mães procuram por dia a Secretaria para entregar ou pedir informações de como encaminhar o filho. “O vício faz com que infelizmente esse adolescente não retorne ao convívio familiar. Então, geralmente a mãe vem dizendo que a família tentou tudo, mas que não deu”, fala.