Clarissa Ganzer/ON
A notícia sobre a apresentação chamada de Show de Touros causou polêmica e em virtude de reclamações de ativistas dos direitos dos animais foi cancelada na tarde de ontem (10) pela prefeitura e Fundação Zoobotânica, Cultural e de Turismo da Roselândia (Funzoctur). Mais de 170 comentários foram registrados no site do jornal O Nacional www.onacional.com.br em repúdio ao show. E outros 80, na matéria que anunciou o cancelamento da apresentação. O show envolvia três bois – os mesmos que participam da prova de tiro de laço e duas pessoas vestidas de palhaço. No momento, os bovinos interagiriam com os palhaços, mostrando a habilidade do homem que vive no campo ao tratar animais para pecuária e bovinocultura. O show duraria 45 minutos e pessoas da platéia também seriam convidadas a participar. As apresentações estavam previstas para quinta, sexta-feira (11) e sábado (12).
Não é tourada
O responsável pela área campeira do XV Rodeio Internacional de Passo Fundo, Joel França, acredita que por desinformação sobre a apresentação, muitas pessoas associaram o nome do show às touradas espanholas, em que os animais são maltratados e muitas vezes até sacrificados. “É uma prova de habilidade campeira. Assim como a dança do cepo [pedaço de tronco], em que o gaiteiro para a gaita e o homem apeia do cavalo [desce do cavalo] e senta no cepo. E a dança do couro, onde o homem arrasta um couro bovino seco e o cavalo tem que mostrar que não tem medo, que foi bem adestrado. A tourada é um show de habilidade onde o homem demonstra não ter medo do bovino e entra para dentro da mangueira [arena], porque no dia a dia o homem campeiro na atividade da pecuária tem que entrar dentro da arena e mostrar que não tem medo”, esclarece.
Sem maus-tratos
Ele complementa que em nenhum momento é usado algum acessório no animal, como presilhas ou cordas para maltratá-lo. “Infelizmente, por desinformação e falta de conhecimento de quem expressou sua opinião na internet, as pessoas vão perder esse show, talvez para sempre. Esta é uma modalidade dentro da nossa cultura, uma demonstração de habilidade”, reitera.
O dia a dia como competição
A prova de tiro de laço, por exemplo, em que homens a cavalo laçam bois na arena é também uma representação do que acontece durante a rotina no campo. A coordenadora da 7° Região Tradicionalista do Movimento Tradicionalista Gaúcho, Gilda Galeazzi, diz que quando o gado vai ser levado de uma porteira para ser tratado, algum bicho pode se perder, e deve ser resgatado. Na prova, é avaliado qual campeiro tem mais destreza com o boi. “Existe no regulamento do MTG que o peão que maltratar o cavalo ou o boi é desclassificado do Rodeio e punido por isso”, pontua.
Direito dos animais
O vice-presidente do Comitê Passo-fundense de Tutela Animal (ComPaTA), José Carlos Raya Nedel, afirma que os ativistas dos direitos dos animais são contrários a este tipo de diversão, considerando um retrocesso para a cidade de Passo Fundo que foi a primeira do Brasil a proibir circo com animais. “Espetáculos que utilizam animais, no nosso ponto de vista, são desnecessários. O animal é um ser vivo que tem os seus próprios desejos: de viver e não ser submetido e domado para participar de uma brincadeira como essa. Pode ser divertido para o ser humano, mas para este animal certamente não traz esta felicidade toda”, diz.
O que é maus-tratos
Para os ativistas, maltratar um animal tem um sentido mais amplo do que agredir fisicamente o bicho. Manter um animal confinado, segundo Nedel, é uma maneira de maltratá-lo também. “Um animal solto na natureza duraria 40 anos. Entretanto, sabemos que eles quando muito passam de seis anos. São 34 anos de vida que faltavam porque não está no seu habitat e não está fazendo aquilo que lhe é natural”, justifica. Nedel também questiona a relação da apresentação – Show de Touros - do Rodeio com a tradição gaúcha. De acordo com ele, a apresentação se inspira nos rodeios americanos com os clowns [palhaços] e não tem relação com a cultura do Estado.
Bois aleatórios
Os bois que participariam do evento são os mesmos bois que estão nas demais provas do Rodeio, ou seja, não são preparados para a apresentação. Eles são cedidos por pessoas que criam gado. Segundo França, os bois – escolhidos aleatoriamente - agem por instinto, até tentando atacar e neste momento o campeiro vai tentar esquivar, mostrando a aptidão com o animal.
O diretor da Funzoctur, Antônio Augusto Reveilleau, indica que para evitar a polêmica e manter o foco no Rodeio da cidade, a apresentação foi cancelada. O prejuízo financeiro é de R$2 mil. “Nós da organização do Rodeio não íamos admitir qualquer tipo de maltrato aos animais. Acredito que tenha sido um grande mal entendido pelo nome, relacionado às touradas da Espanha”, enfatiza.
Seiscentos bois e quinhentos cavalos participam do XV Rodeio Internacional de Passo Fundo.
Dados comparativos do XV Rodeio Internacional de Passo Fundo em relação ao ano passado
Inscrições do XIV Rodeio Internacional de Passo Fundo
120 entidades
71 solistas vocais
112 declamadores de poesia
68 invernadas (dança)
27 duplas (dança de salão)
35 chula
37 gaiteiros
Inscrições do XV Rodeio Internacional de Passo Fundo
170 entidades
183 solistas vocais
258 declamadores de poesia
78 invernadas (dança)
71 duplas (dança de salão)
89 chula
104 gaiteiros
Show de touros é cancelado para evitar polêmica
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