Lideranças reclamam de burocracia

?"nibus para velório: prefeitura gasta cerca de R$ 43 mil por ano em convênio com Codepas para garantir o veículo à famílias carentes. Entretanto, presidentes de bairros reclamam de complicação na hora de fazer o pedido

Por
· 4 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Daniella Faria/ON

A burocracia para a requisição de ônibus para enterro de pessoas carentes tem se tornado uma dor de cabeça para os presidentes de bairros. Para fazer a solicitação é necessário que a família localize o presidente da associação de moradores, que solicita a autorização da Coordenadoria das Associações de Bairro (Cab), que faz o encaminhamento à Codepas. Entretanto, o pedido só é atendido se houver mais de 15 pessoas para participar do cortejo fúnebre.

O presidente da associação de moradores do bairro Leonardo Ilha, Gilberto Corrêa, diz que falta informação de como fazer a solicitação para os ônibus. Quando é necessário, ele geralmente encaminha o pedido por alguém da prefeitura ou algum vereador, que acaba resolvendo o problema. Nos finais de semana ele se queixa que é mais complicado e a solução vem de empresas particulares.

O presidente do bairro São Luiz Gonzaga Rodolfo Boita tem utilizado o serviço com frequencia. Em média quatro ônibus por mês. A dificuldade é em cumprir o que é determinado para fazer o pedido. É necessário que tenha pelo menos 15 pessoas na hora do cortejo para que o ônibus atenda a família. “Fica uma situação chata. Porque a família tem que solicitar horas antes e não sabe quem é que vai estar no velório. Esses tempos eu solicitei um onde a filha do senhor que faleceu não sabia precisar o número de pessoas que iria comparecer”, conta.  O presidente diz que se sente constrangido pelo fato de ter que precisar o número. “Todos pagam impostos e tem o direito de ter esse momento respeitado. Mesmo que seja um número menor de pessoas”, fala.

Já o presidente do bairro Dona Júlia, José Amauri, diz que só solicita o ônibus caso seja extremamente necessário. Fazemos uma avaliação junto aos familiares. Fiz somente três encaminhamentos no bairro. Acabamos sempre conseguindo caronas solidárias, destaca.

No bairro Donária, segundo o presidente da associação, o ônibus é requisitado pelo menos uma vez por mês. Já no Don Rodolfo, segundo o presidente Adilar Luiz Bizarro, não teve muitos problemas, a não ser quando houve duas requisições no mesmo horário. “Quando tem dois velórios no mesmo horário é mais complicado para conseguir”, diz.

Uampaf
O presidente da União das Associações de Moradores de Passo Fundo, Antônio dos Santos, explica que a recomendação é que o veículo seja requisitado para o CAB pelo menos seis horas antes do velório. “Senão corre o risco de acontecer mais velórios e dar problema”, fala.

Cab
O coordenador Marcos Tumeleiro diz que em média são solicitados dois ônibus por dia, variando a média mensal de 30 a 50 veículos. Ele fala que não há problemas no envio do coletivo. O que se recomenda é que tenha uma quantidade razoável de pessoas para que o serviço seja bem aproveitado. “Já aconteceu de chegarmos ao local e ter somente cinco pessoas. Pedimos que quem precisa do serviço, avise que o ônibus irá fazer o translado para que não haja desperdício de dinheiro”, enfatiza.

Duas empresas fazem o trabalho. Uma privada, que cede gratuitamente o ônibus e a Codepas, que cobra por isso. Para cada cortejo feito pela empresa é pago R$ 180. Nesse caso um parente tem que ir até o Cab fazer uma declaração dizendo que não tem condições de pagar o serviço prestado. Caso aconteça mais de três solicitações por dia, Tumeleiro diz que um ônibus da Secretaria de Transportes e Serviços Gerais também é utilizado. Os ônibus são oferecidos somente para transporte dentro da cidade. “Tem pessoas que nos pedem para ir até Pulador. Eles não podem trafegar em rodovias senão são notificados”, conclui .

Codepas
Por mês a Prefeitura, através da Secretaria de Cidadania e Assistência Social, dispõe de R$3,6 mil para a realização do serviço através da Codepas. No convênio, que já está vencido desde o ano passado e deve ser renovado nas próximas semanas, fica determinado que a empresa deva ceder até 20 veículos por mês para realizar o cortejo. O diretor da Codepas, Saul Spinelli, diz que até agora o número não foi ultrapassado. O que pode haver é a dificuldade em arrumar ônibus quando é solicitado mais de um ônibus por dia. “Ás vezes pode ocorrer um contratempo de ser solicitado mais de um coletivo no momento de pico do serviço, principalmente às 18h. Nessa época também tenho o contratempo das férias, onde muitos motoristas não estão trabalhando”, diz.

Caixões

A central de óbitos faz um revezamento para a doação de caixões para famílias carentes ou indigentes. A secretária de Serviços Gerais, Mariniza dos Santos, diz que as famílias que recebem o caixão são encaminhadas pela Secretaria de Cidadania e Assistência Social. Geralmente são famílias com renda abaixo de um salário mínimo por pessoa. A central dá o caixão, chama a funerária de plantão e faz o cortejo, ressalta. Ao todo 13 funerárias participam do rodízio. Segundo o coordenador da divisão de cemitérios, Vilmar Dalsanto, cerca de 10 caixões são doados por mês.  

Exceção
Na última semana aconteceu um caso excepcional. Um caixão teve que ser produzido pela marcenaria da prefeitura. Um jovem carente que sofria de obesidade mórbida, pesava 385 quilos, faleceu e não havia estrutura suficiente nas funerárias para atendê-lo. O município também cedeu uma caminhonete para transladar o corpo, porque os carros fúnebres não tinham capacidade para transportá-lo. Até mesmo uma retro-escavadeira teve que ser utilizada, porque o caixão não tinha pegadores. A família optou por não velar o rapaz.

Gostou? Compartilhe