Natália Fávero/ON
Os produtores de frango da região decidiram permanecer paralisados até a realização de uma audiência entre entidades representativas do setor, prefeituras, lideranças políticas e Governo do Estado com a direção nacional da Doux. A reunião deverá ser intermediada pelo prefeito Airton Dipp e deputados estaduais. A decisão foi tomada em assembleia realizada na sexta-feira (18/02), no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Passo Fundo que contou com a presença de dezenas de avicultores da região. O último pagamento feito pela empresa foi em outubro do ano passado e o problema com o fornecimento da ração, embora tenha diminuído, continua. Cerca de cem avicultores estão paralisados há 40 dias e não tiveram nenhum avanço na negociação com a empresa.
Os agricultores deverão continuar sem alojar frangos pelo menos até o dia 10 de março, quando completará 60 dias de paralisação oficial. Antes disso, o prefeito de Passo Fundo se comprometeu em intermediar um encontro entre o Secretário de Agricultura, representantes da Assembleia Legislativa, Fetag, Fetraf e prefeituras com a direção da Doux em um curto prazo. “Há uma aflição muito grande por parte dos avicultores que estão sofrendo com esse problema há cerca de dois anos e que se agravou nos últimos meses. Espero que na próxima semana estejamos todos sentados em Porto Alegre para essa reunião”, garantiu Dipp.
Uma comissão da região já esteve nessa semana na Capital reunida com deputados e representantes sindicais para discutir a situação do setor e, pedir a interferência do Governo do Estado para resolver a questão.
Conforme o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Alberi Ceolin, a Doux abrange 2, 2 mil produtores. Em Passo Fundo são cerca de 50 avicultores e 90% aderiram a paralisação Outros 3% decidiram voltar a alojar os frangos. “O avicultor não sabe mais o que fazer. Ele está pagando juro e suas contas estão atrasadas. Esperamos que a empresa cumpra os seus compromissos”, disse Ceolin.
Prejuízos
Conforme reportagem publicada na edição do dia 9 de fevereiro da revista Exame, estima-se que pelo menos 25% da produção na unidade da Doux no município já foi comprometida em função da paralisação. Os dados apontam dívidas de R$ 10 milhões com os dois mil produtores de Frango no Estado. Já com os fornecedores e bancos o montante chega a R$ 400 milhões.
O presidente da Avipenca, Luiz de Jesus, ressaltou que o avicultor vive uma dificuldade imensa devido a falta de recursos financeiros para honrar as dívidas com os bancos e sustentar a família. “Até o momento não tivemos nenhuma proposta da empresa que está evitando falar sobre o assunto. O atraso no pagamento já ultrapassa os 90 dias. A ração continua faltando, embora não tão forte quanto em dezembro e janeiro. Isso causa um grande prejuízo porque não há produção de carne e o ganho é reduzido”, explicou Jesus.
Há 130 dias paralisado
O avicultor Saliomar Mário Sonza paralisou antes mesmo do movimento oficial. Segundo ele, com a falta de pagamento da Doux não encontrou recursos para investir em novos lotes. Segundo ele, são investidos R$ 3 mil em um lote. Caso tivesse continuado seriam três lotes até agora o que custaria R$ 9 mil. “Da onde eu iria tirar esse dinheiro. Se não vamos receber prefiro ficar parado e evitar dívidas e prejuízos. A falta de ração continua. Não é fácil ficar olhando os frangos passando fome e se machucando. O meu pai está ficando com depressão de ficar olhando os bichinhos sofrerem”, relatou.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Tapejara, Adagir Coronette, disse que é necessário tomar uma atitude imediata em relação a empresa e mais união entre os produtores. “Estamos notando um pouco de desunião e desencontros. Precisamos acionar os vereadores e prefeitos e buscarmos uma solução”, disse Coronette.
Outras empresas
Uma das possibilidades que alguns produtores têm é migrar para outras empresas. Durante a assembleia foram citadas duas empresas de abates que estão necessitando de fornecedores: uma é a Minuano e a outra é a Agrodanieli de Tapejara. No entanto, muitos produtores estão impedidos devido ao contrato com a Doux. “Muitos agricultores têm compromissos contratuais de financiamentos onde a própria empresa é avalista. Mas, aqueles que não têm nenhuma dívida podem tranquilamente migrar de empresa”, disse o presidente da Avenca.