Os bons pagam pelo barulho dos outros

Em mais uma reportagem da série sobre o barulho, o Jornal ON mostra neste final de semana a situação de uma pastelaria localizada na rua Capitão Eleutério. O movimento chegou a cair até 70% nos finais de semana depois que o estacionamento foi proibi

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Natália Fávero/ON

Os proprietários da Pastelaria do Nestor, instalada há cerca de 30 anos na rua Capitão Eleutério, estão preocupados com a queda no movimento depois que o estacionamento foi proibido em frente ao seu estabelecimento. Nestor Vicente Martello Basso e a esposa Maria de Lourdes Basso se dizem prejudicados com a medida adotada pelo município em impedir que os veículos estacionem das 22h às 6h. Esse é justamente o horário de maior movimento da pastelaria. Eles já pediram a prefeitura a liberação de uma parte da rua entre a Avenida Brasil até a frente da pastelaria ou a prorrogação desse horário para as 24h, mas até agora não obtiveram uma resposta eficaz que possa reverter a situação.

A queda no movimento chegou a 40% entre segunda e sexta-feira e até 70% nos finais de semana. Esse prejuízo financeiro começou a ser notado pelos comerciantes após a proibição do estacionamento. Segundo eles, os clientes não têm onde estacionar e para não deixar os veículos em outras quadras desistem de entrar na pastelaria. “Clientes de outros municípios que vem com a família ficaram indignados de não poderem estacionar aqui na frente para comer um pastel”, relatou Nestor.
O comerciante também afirmou que em determinados dias da semana os órgãos de fiscalização fecham a Capitão Eleutério e os clientes ficam acuados e às vezes são impedidos de chegar até o local. Os próprios funcionários sofrem as consequências. “Os motoboys têm que fazer duas a três quadras a mais para desviar as ruas fechadas. Isso acarreta despesa, atraso na entrega e perda de clientes”, disse.

O prejuízo financeiro fez com que o empresário pedisse pela primeira vez um empréstimo no banco para pagar o 13º salário no final do ano passado dos cerca de 20 funcionários do estabelecimento. Ao falar sobre isso, o comerciante se emocionou. “Já pensei em sair daqui. Procurei alguns pontos, mas o aluguel está muito caro e está sendo inviável. Se a situação não mudar vou ter que trabalhar só com a tele-entrega e serei obrigado a despedir funcionários”, enfatizou.

A procura de alternativas
A esposa do Nestor concordou que o barulho e as algazarras diminuíram, mas achou que a proibição foi muito radical. “Tinha noites que o barulho era grande na quadra toda. Mas não podemos generalizar a culpa. Estamos pagando pelo erro dos outros. Pagamos impostos e estamos aqui para prestar um serviço. Tenho certeza que os órgãos públicos são inteligentes o suficiente para achar outra solução”, disse Maria.

Os comerciantes disseram que compreendem a situação do movimento Mais Moron, mas acreditam que se o município liberar cerca de 30 metros em frente ao estabelecimento não comprometerá a volta das algazarras.

Ela contou que quando chega próximo das 22h, os proprietários e funcionários informam todos os clientes para retirar os veículos devido a fiscalização. Os consumidores que recém chegaram não ficam e os que estão consumindo muitas vezes se apressam para sair. “É muito triste. Sempre tivemos um movimento bom. Esses dias cerca de dez pessoas resolveram procurar outro lugar porque não tinham onde estacionar. Não é fácil olhar os clientes indo embora”, lamentou a empresária.

Secretário analisará a situação
O secretário de Segurança, Márcio Patussi informou que a decisão de proibir o estacionamento foi do prefeito Airton Dipp em outubro de 2010 atendendo uma reivindicação dos moradores e empresários das imediações. A secretaria estaria apenas cumprindo o seu papel. Patussi se comprometeu em analisar o caso dos empresários que estão sofrendo prejuízos. “É uma situação bem particular e vamos analisar a situação para não gerar problemas”, disse o secretário.

Confira a opinião de um leitor
Há poucos dias um leitor, que prefere não se identificar, enviou um e-mail relatando o sofrimento dele e dos seus vizinhos.
“Moro na rua Fagundes dos Reis a mais de quatro anos. Convivo com todo tipo de perturbação nos finais de semana e até hoje, mesmo depois de inúmeras ligações ao 190, normalmente com a resposta de que todas as viaturas estão em outras ocorrências, não tive a oportunidade de ver qualquer fiscalização ou operação policial para coibir os abusos que vejo, ouço e sou submetido. Nem eu e nem os demais moradores das proximidades deste "ninho" de casas noturnas instaladas nas ruas Fagundes dos Reis, General Canabarro e Avenidas Presidente Vargas e Sete de Setembro. Enfatizo que não são estas casas noturnas (boates) que incomodam, mas sim os ilustres cidadãos passo-fundenses que fazem uso das imediações para extravasar, perturbar e incomodar. Bebida, menores, drogas, algazarra, discussões, brigas, tiros, sujeira pelo chão e som dos carros que faz tremer janelas, portas, vidraças e a paciência. Os bafômetros e decibelímetros, tão falados, que foram distribuídos às autoridades, devem estar empoeirados nos armários ou gavetas. Até quando?”.

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